sábado, novembro 03, 2007

Em busca da Leila perdida

Tudo bem que lembrar da noite em surto, hoje em dia, é charmoso! Mas na época Tetê estava arrasada. Com tanto homem no mundo pra ela aprontar, ela pegou logo um psiquiatra! E o cara ainda diagnostica o surto ao invés de proporcionar uma noite irresponsável... alguma coisa não andava bem...
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Apesar de se sentir isolada e de não procurar os amigos porque morria de vergonha de ter caído numa cilada básica da vida, Tetê toma coragem e liga para aquele famoso amigo gay que toda mulher como ela tem na agenda: um cara lindo, compreensivo, gentil, inteligente, bem sucedido, bem humorado, perfeito em tudo (inclusive, perfeito por ser gay). Os dois marcam uma saída e ela se abre. Conta tudo, como se sentia humilhada, sozinha, perdida, precisando de colo, como estava fragilizada, como queria aquele homem imbecil, incapaz até de ser solidário num momento como este.
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Roger escuta paciente, passa a mão na cabeça da amiga, relembra como ela sempre foi forte, como ela driblou os problemas de cabeça erguida. Lembra dos homens avassaladores que Tetê já teve ao seu lado, dos presentes magníficos, das grandes viagens, das festas deslumbrantes. E principalmente, de como Tetê saía com classe das relações quando simplesmente enjoava delas.
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Tetê não parava de chorar, e Roger cada vez mais impaciente. Absolutamente nada do que ele dizia parecia aliviar a dor da amiga, agora com o rímel chegando perto dos lábios... Já estavam na segunda garrafa de vinho, os garços já olhavam desconfiados, quando Roger, numa última e desesperada tentativa, avisa saltitante que dali pra frente as coisas mudariam: ele acaba de conferir o cardápio e achar petit gateau de sobremesa!!! A vida estava salva!!! Tetê nunca resistiu a um belo prato de petit gateau!!! Mas Tetê recusa a sobremesa, para surpresa do amigo que, neste momento, entendeu a dimensão da tragédia.
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Noite perdida por noite perdida, Roger levanta em pânico, coloca as mãos na cintura e rebolando, aos berros, setencia:
- Não sei mais o que fazer, Tetê! Você sempre foi minha Leila Diniz e agora está aí, afundada numa Regina Duarte e sem rímel à prova d'água! A minha vida acabou e não a sua!
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Pela primeira vez nos últimos meses, Tetê deu uma gargalhada. E percebeu que a desgraça do amigo em conviver com uma Regina Duarte era bem maior que a sua. Nesse momento ela decidiu ajudá-lo a reencontrar a Leila de qualquer maneira, esquecendo a sua própria desgraça!!!

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