terça-feira, maio 12, 2009

Contra? A favor? Ai, que saco!!!

Tetê já tinha dado a dica algumas vezes: quando está muito quieta, muito sumida, é sinal de que as coisas estão bem mais maravilhosas do que se poderia esperar, portanto... ela curte 24 horas por dia e não tem tempo para mais nada! Verdade seja dita: surfar ela não quer mais. Não até o próximo verão, quando a água voltar a ficar quentinha. Mas olhar seu surfista preferido saindo da água com aquelas roupas coladas... ah! Isso ela quer. E muito!!!

Incrível como este homem fica bem com aquelas roupas... e com terno... e com jeans... e com bermudas... incrível como este homem fica bem em qualquer momento, a qualquer tempo! Tetê ainda está atônita, pois a cada dia que passa o surfista consegue surpreendê-la com uma atenção diferente, uma lembrança, uma palavra, uma chegada surpresa no aeroporto ou umas flores enviadas a distância.

Mas hoje Tetê não quer falar do surfista (mentirinha, ela sempre quer...), e sim da polêmica sobre sexo virtual que se instaurou dentro do blog e fora dele. Além dos comentários expostos, há uma quantidade de e-mails impressionante sobre este sofrível incidente.

Então, primeiramente, vai a posição oficial: Tetê não é nem contra nem a favor do sexo virtual – esta só não é uma atividade que esteja presente em sua vida. Da mesma forma que Tetê não assiste jogos de futebol, Tetê não faz sexo virtual. Da mesma que não sente atração por almoçar em Santa Felicidade no domingo, Tetê não sente atração pelo sexo virtual. É só uma questão de gosto. Mesmo.

Tetê também não critica nem elogia os adeptos desta prática. Ou de qualquer outra. Quando se trata de sexo, Tetê acha que tudo é válido, desde que os envolvidos concordem e não encham o saco do próximo. Não é válido meeeeesmo tentar envolver outras pessoas que não tem nada em comum com a situação em questão, e que demonstram profunda insatisfação em receber e-mails com sacanagens indesejadas.

Não. Nem Tetê nem Kika acharam engraçadinho ter acesso a essas bobagens. As duas conhecem os envolvidos. Conviveram com o homem. Sabem quem é a mulher. E a mulher é o oposto delas.

Tetê e Kika são mulheres descoladas. Estão no mundo com ocupações profissionais descoladas. Têm amigos e amigas descoladas. Freqüentam lugares descolados. Usam roupas descoladas. Curtem atividades culturais descoladas. Fazem viagens descoladas. Moram em casas descoladas. E experimentam homens descolados (de carne e osso.... as vezes mais carne... as vezes mais osso... as vezes mais músculos... as vezes mais roupa de surfista...).

Se a mulher gosta do sexo virtual, bom pra ela. Se o cara gosta, bom pra ele. Se eles se acham o máximo dando umazinha no computador, bom pra eles. Se eles comem jiló depois que terminam, bom pra eles também. Mas reenviar a transa por e-mail para quem não faz parte deste mundo... aí também é demais, né? Ninguém merece!

Um dos e-mails que Tetê recebeu pergunta se quem enviou foi o cara mesmo ou se foi a mulher. Um comentário pergunta se quem enviou, enviou só para Tetê e para Kika, ou se enviou para um mailing. Bem... o remetente foi o cara. Se a mulher deu um jeito de reenviar se passando por ele, se foi ele mesmo que enviou para 8.877 pessoas ou só para umas poucas almas desavisadas, pavorosamente selecionadas... Tetê e Kika não sabem. Só sabem que no fundo, no fundo, sentiram peninha dela, da falta de imaginação que ronda o episódio e do nível de comentários que um fato como esse atraiu.

Quem acompanha Tetê desde o início deve ter percebido que esta foi a única vez em que opiniões histéricas e de nível questionável apareceram nos comentários. Parece que o teor dos e-mails trocados e divulgados pelo casal atrai palavreado, posicionamento e "excitação intelectual" (sic) similares.

Tetê espera, do fuuuuundo de seu coração surfista, que o estimado casal procure outros destinatários para suas mensagens "românticas" (sic) daqui por diante. Porque ela está ocupadíssima com um homem que em nada, absolutamente nada, é virtual!

domingo, abril 05, 2009

Wave

Tetê quando some... e por muito tempo... sempre é por uma boa causa!

Em primeiro lugar, ela está administrando duas empresas absurdamente diferentes uma da outra, e está tocando direitinho. Anda cansadona, mas feliz da vida.

Em segundo lugar, ela se entregou as ondas e mais ondas, aos braços do mar e do seu surfista, com o qual aprendeu coisas que até deus duvida. Agora ela já não cai de cima da prancha no primeiro segundo! Ela consegue se equilibrar direitinho e dá umas descidas mais ou menos. Mas de tanto cair, o amado resolveu dar um presentão para ela: uma prancha de bodyboard, onde ela pudesse ir deitada. O que é uma grande besteira, pois ir deitada ou em pé é difícil do mesmo jeito. O bom é que, deitada, a queda é sempre menor...

Interessantíssimo esse período saudável, de atividade física intensa, principalmente porque depois que Tetê parou de fumar, engordou 4 quilinhos bem babacas, que estão indo embora, finalmente! Os exercícios (leia-se "tombos"...) nas ondas foram fundamentais para esse decaimento radioativo de quilinhos indesejados. Ainda tem uma barriguinha meio sinistra, mas aqueles abomináveis abdominais darão conta dela, com certeza.

O verão passou... Tetê e seu surfista já reclamam um pouco da temperatura da água, e já experimentaram passar um final de semana na cidade, mais quentinhos e confortáveis. Ele é uma gracinha, e sem que ela precisasse dizer nada, desde a primeira vez em Curitiba ele fez questão de ficar em num hotel e levá-la junto, dizendo que não se sentiria à vontade ficando na casa dela. Ufa! Um homem com bom senso, finalmente!!! E que chegou coincidentemente com a decisão de Tetê de nunca mais dividir sua casa com homem algum!!!

Tetê está procurando um defeito no surfista. Principalmente agora que o verão acabou no Sul, e ele não achou tão ruim assim vir para este lado do país. Ela precisa urgentemente achar um defeito neste cara saudável, nesta vida saudável, nesta relação saudável. Todo o homem vem com defeito, este não será exceção. Por que, então, está tão difícil assim de achar?

Ele gosta do Beto, ele respeita o espaço dela. Ele dá presentes legais e é carinhoso. Ele não invade. Ele compartilha. Ele não tira nada dela, pelo contrário. Ele telefona diariamente, cada dia com um assunto diferente e divertido. Ele descobre as vontades dela. Ele satisfaz as vontades dela depois de descobri-las. Ele, ele, ele... bem, na verdade ele é tudo de bom e não tem nenhum defeito visível. Por que será então que Tetê tem mais medo de se afogar nele do que naquelas ondas enormes e furiosas?

Deve ser pela diversidade: ele parece vários homens em um. No dia em que deu a prancha, por exemplo, num pacote enorme e divertidamente colorido, amarrado com centenas de fitas do Bomfim, deu também um pacote menorzinho, enrolado numa única fita vermelha de cetim, numa caixa da Natan: um colar lindo de ouro, com argolas achatadas, que dá três voltas no pescoço. Não é pra ter medo de um homem assim? Se ele parece vários homens em um, quando decepcionar, vai valer por quantos???

Ah! E ele nem encheu o saco quando Tetê decidiu que para estrear a prancha de bobyboard, precisava usar o colar da Natan. Que outro homem entenderia uma situação como esta?

Ai. Por mais que seja ridículo, cair por cair, Tetê prefere continuar a cair da prancha...

quarta-feira, março 11, 2009

Woman bombing

Woman bombing é um misto de ciência e esporte radical que consiste em pegar uma mulher normal e ir enlouquecendo-a progressivamente, até que ela exploda.

Estas são sábias palavras de uma escritora fantástica - Luciana Pessanha – que publicou o livro Como montar uma mulher-bomba (Rocco, 112 págs.). Não... Tetê não ganha nada divulgando, não, e nem vai começar a fazer resenhas por aí. Muito menos conhece a autora ou qualquer personagem envolvido. Acontece que, no meio de tantos livros sobre o "universo feminino", esse trata de assuntos concretos!

Quem foi que nunca explodiu, afinal? Que atire a primeira granada! Porque a gente sabe que é impossível ficar quietinha diante de um impassível ser humano do gênero masculino, que acorda com o pé esquerdo em plena segunda-feira chuvosa e resolve nos "montar" em bombas ambulantes. Alguns destes seres tem tanta, mas tanta sorte, que a gente acaba explodindo segundos depois que eles batem a porta. Ou segundos depois que chegamos no escritório. Ou segundos depois de uma garçonete desastrada derrubar um copo de vinho na nossa camisa de seda favorita. Mas a explosão era realmente para ele, para aquele ser em particular, que utilizou todas as artimanhas para nos tirar do sério.

Tetê já teve algumas explosões memoráveis! A maioria delas é tão avassaladora que não adianta tentar juntar os pedaços depois: não sobram pedaços. Ela desconstrói moléculas como se fosse um sofisticado aparelho de ultrassom. Vestígios? Nem pensar. E ela avisa, sempre. Tetê sempre avisa o miserável que está chegando a hora, que ela está ficando cansadinha, que ele está idealizando uma cota de paciência inexistente, que quando o alarme vermelho acende já é o point of no return e outros avisinhos mais sutis...

Mas a última explosão de Tetê foi memorável meeeesmo, e o grande homem que estava na frente dela até hoje não consegue entender como foi que conseguiu acioná-la desta forma. Ele era inteligente, bonito, carinhoso, mas com alguns vícios emocionais terríveis tipo "medo de se envolver". Ai. Primeiramente... que saco isso! Coisa mais démodé, em todo o caso... vai! O coitado tem "medo de se envolver", o que significa que de uma hora para outra ele pode sumir. Tudo por causa do "medo...".

Mesmo sendo inteligente para algumas coisas, o rapaz era burrinho para outras. Passar e-mail, reenviar, responder a todos, pedir confirmação de leitura, era coisa que o pobrezinho não conseguia entender nem com o melhor dos desenhos coloridos cheios de chapeuzinhos vermelhos andando no bosque em busca da vovó enquanto foge do lobo por uma estrada afora cheia de florzinhas coloridas. Pois bem, esse rapaz pediu a Tetê que cuidasse da identidade visual dele porque queria um upgrade na sua carreira. Lá foi Tetê, né? Tão boazinha, a Tetê. Reuniu os melhores profissionais, encomendou textos institucionais, logomarca, sessões de fotos, cartões, adress books, sites, toda a comunicação do dito cujo, com o maior padrão de qualidade e com os profissionais mais descolados do mercado.

Um dia... o babaca (sim...., babaca)... escrevendo para uma amiga de São Paulo... talvez passando uma cantada... pede a ela exatamente o que pediu para Tetê. A amiga responde no mesmo e-mail que a comunicação visual dele realmente está muito ruim, cheinha de defeitinhos, de errinhos, de falhazinhas. E ele responde ao e-mail da nova amiga de São Paulo, dizendo que ela podia modificar o que quisesse, tinha carta branca. O problema é que o babaca (sim..., babaca) ao invés de mandar o e-mail para a nova amiguinha de São Paulo, errou (babaca sim, e burro ainda por cima) e mandou para a Tetê!!! Para a Tetezinha!

Tetê, calmamente (juro, juro mesmo que foi calmamente), avisou os profissionais envolvidos no processo de upgrade da comunicação do rapaz. Parou tudo. Mandou que todos entupissem a caixa postal do rapaz (babaca sim! Alguém duvida?) de boletos bancários beeeeem caros, com vencimentos imediatos. Ela já tinha avisado ao mercado que representaria o rapaz, "um ótimo profissional", ela dizia. Pois ela avisou o mercado que tudo não passava de um grande equívoco. Ligou para todos os amigos, contou para todos, com detalhes, que contavam para outros e outros, com mais detalhes. Amigos sempre aumentam o drama da gente, são uns anjinhos, não? Colocam a gente lá em cima, nos defendem, mostram-se indignados com a situação e mobilizam a opinião pública contra um pobre babaca...

E depois que achou o nível de destruição satisfatório, calmamente (podem acreditar), Tetê escreveu um longo e-mail para ele. E não errou o destinatário! Muito menos errou o alvo quando ele ligou para saber o que estava acontecendo... e esse rapaz babaca foi o responsável por uma situação incrível na vida de Tetê: ele a fez inaugurar as explosões múltiplas – e não foi por prazer, não. Ele é tão, tão, mas tão babaca, que até hoje não entende como Tetê ficou sabendo de tudo. E cada vez que pergunta... ganha um novo BUUUUUUUUUUUUUUUUMMMMMMMMMMMMMM!
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Ah! Inteligência masculina!!!

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Ops! Susto? Surf?

De uma forma bem diferente, Tetê fez o homem do elevador chegar ao fundo do poço... todo elevador tem um, não? Ele não chegou a decepcionar, parou num estágio muito anterior a uma decepção. Na boa? Ele não subiu um só andar desde o dia em que tomaram um café gelado. Estava bom com ele, mas sem ele estava dando na mesmo. E ele era do tipo que pegava no pé, dá para acreditar? Tetê precisou viajar e ele encrencou porque queria saber com quem ela iria, em que hotel ficaria... imagine Tetê dando esse tipo de satisfação! Tchau, tchau, elevador, Tetê está indo pelas escadas, viu?

E Tetê foi ao Rio por dois dias. Tudo rapidinho, a trabalho mesmo, sem tempo para nada, mas espremendo um pouquinho, deu para a via sacra da Visconde de Pirajá: pelo lado direito até chegar pertinho de Copa, volta pela esquerda até o Leblon, vendo tooooodas as vitrines e comprando coisinhas, coisinhas, coisinhas. Marcou com uma amiga no hotel e chegou atrasada, Marina já estava esperando por ela. Beijinhos, beijinhos, Tetê sobe para largar as dezenas de sacolas com as comprinhas básicas e reencontrar Marina em dois minutinhos no hall do hotel.

Ela entra no apartamento e deixa a porta encostada, joga as sacolas em cima da cama e procura uma escova para arrumar o cabelo, quando ouve um estrondo na porta. Tetê se volta e não acredita no que vê... um enorme pedaço de madeira comprida está atravessada da porta até o frigobar. Enquanto tenta entender o que aquilo significa, outro estrondo e outro objeto cai em cima do pedaço de madeira. Um objeto com cabelos compridos e loiros, uma pele bronzeada e uns olhos azuis de gritar!!! Os olhos olharam para ela e riram. E ela sentou no chão no chão na frente dele, assustada e sem saber o que fazer.

Foi o seguinte: o surfista (hum...) estava hospedado no mesmo andar. O apartamento de Tetê ficava ao lado do elevador. Ele passou a tarde dormindo e para aproveitar a praia no restinho do dia, saiu correndo, carregando a prancha. Se embolou todo no corredor e ao invés de entrar no elevador, caiu no apartamento dela que estava com a porta entreaberta.

Bem. Já que estavam os dois ali no chão, ao lado do frigobar, abriram uma cerveja para relaxar. Tetê lembrou da Marina, ligou para a recepção e pediu para a amiga subir. Ela também sentou no chão e os três ficaram horas conversando. A cervejinha acabou, tomaram uísque. Uísque acabou, saíram e, lógico, acabaram na Pizzaria Guanabara. Marina foi embora. Tetê e o surfista viram o dia nascer, andando até o Arpoador, pela beirinha do mar. Falaram, falaram, falaram. Tinham a impressão de que contaram um para o outro, suas vidas inteiras. Ele era carioca, mas estava desde 2005 trabalhando em Belo Horizonte. Sempre que podia dava uma fugida para aquele hotelzinho no Leblon para surfar e matar as saudades da cidade maravilhosa.

O sol já estava bem alto na pedra do Arpoador. Ele de bermuda e camiseta. Tetê com um vestidinho de seda com franjas de miçangas na barra. Tomaram café num boteco, voltaram para o hotel e trocaram telefones. Ela tinha uma última reunião pela manhã e voltava para Curitiba logo após o almoço.

Já no avião, ela pensou que ele era um homem que poderia, vez ou outra, freqüentar a casa dela... mesmo porque ele morava longe... e um surfista... bem, um surfista é um surfista. Não pega no pé, tem uma outra cabeça, outros interesses. Aliás, ele tem uma cabeça linda. Cabelos lindos. Olhos lindos. Corpo lindo...

E um surfista de verdade deixa recados na secretária do celular dela, que ela houve enquanto aguarda as bagagens na esteira do aeroporto. Um surfista de verdade diz que tem saudades e que não parou de pensar nela desde o café da manhã no boteco...

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Tempo, tempo, tempo, tempo.....

O tempo passou! Passou Natal, passou Réveillon. Passou dia, passou outro dia. Tetê voltou ao Ile de France e ao Old West sozinha algumas vezes. Estava completamente avessa a companhia, com uma tolerância para agüentar pessoas por, no máximo, uma hora. Ela não queria explicar (ou não sabia) o que estava acontecendo, mas deixava escapar que uma mudança enorme estava começando a se armar. E foi assim, quietinha, que arquitetou uma nova vida em menos de dois meses.

Em primeiro lugar, mudou o escritório de lugar. Saiu de uma charmosa casa antiga no centro histórico da cidade e escolheu a dedo um conjunto de três salas num moderno centro empresarial. Montou uma nova empresa, numa área de atuação completamente diferente e agora administra dois empreendimentos ao mesmo tempo, com o maior pique. Acha uma delícia chegar ao novo endereço e ter múltiplos elevadores com ascensoristas, porteiros, zeladores e garagistas que a cumprimentam pelo nome e são extremamente gentis. Trocou de secretária.

Deu um novo corte no cabelo e deixou-o um tonzinho mais claro. Lógico, mudou o cabeleireiro também. Voltou a usar as saias justas com blaser, que havia largado no fundo do armário quando começou a priorizar os jeans. E na sexta-feira passada, perto das 8 da noite, se sentiu enjoada. Um enjôo enorme, uma dor de cabeça irritante, um mal estar absurdo que persistiu no sábado e no domingo. E na segunda, quando acordou, notou uma outra mudança significativa: tinha parado de fumar! Tetê, nos últimos tempos, estava fumando três carteiras de cigarro por dia, e parou assim, sem sentir, de repente.

Lógico que rolou aquela limpa de final de ano nos armários, com sacolas de roupas saindo e outras tantas entrando. Sacolas de sapatos saindo, sacolas entrando. Sacolas de colares e pulseiras saindo, sacolas...

Beto também entrou na roda. Também trocou o corte de cabelo e está absolutamente verão, pelo curtinho, todo fresquinho. Sob protestos, também largou brinquedinhos antigos para trocar por novos. E começou a comer ração para adultos, além de já ganhar quatro cenouras baby por dia e dois graaaaandes pedaços de mamão com beterraba antes de dormir.

E as mudanças não pararam por aí... Tetê também trocou de afetos. Quer dizer, jogou fora afetos, planejamentos e idéias pré-concebidas sobre afetos. Havia gente à beça ao seu redor, mas ela não se sentia muito acompanhada, não. E já estava diminuindo todas as suas expectativas com relação às pessoas. Então, aproveitando a limpezas e sacolas que se jogam fora... lá se vão pessoas insossas pelo ralo!

Tetê conheceu um homem incrível no meio de todo esse furacão. No elevador do escritório novo! Vizinhos! O elevador estava cheio e eles estavam bem juntinhos. Tetê pisou no pé dele, pediu desculpas. Quando ele saiu, a abotoadura engatou na bolsa de Tetê. Ele disse que era vingança por ter tido o pé perfurado pelo salto agulha dela. Ela disse que chamaria os seguranças pois a abotoadura dele estava roubando a bolsa dela. Os dois riram e foram tomar um café gelado. E desde então, eles saem juntos e se divertem.

Todo mundo achando que está tudo igual??? Pois não está! Tetê nunca deixou ele chegar perto do elevador da casa dela! Ela freqüenta a casa dele. Pode ser passageiro, pode ser aquele tipo de decisão que se toma ao começar o ano e depois a gente relaxa... mas pelo menos por enquanto, pisar na casa de Tetê está fora de cogitação.

Todo e qualquer candidato a homem daqui para frente, será tratado por Tetê como ela já foi tratada por um: ela vai usar, vai aproveitar tudo de bom que eles tem para oferecer, depois vai enjoar e não vai querer mais. Do jeitinho que foi com o cigarro, que era bom demais e de um dia para o outro, deixou de ser. Como qualquer sacola de roupas usadas que ela joga e substitui por outras. Ela não quer mais dividir nada seu com ninguém. Nem casa, nem lençóis, nem café da manhã, nem toalhas felpudas. Muito menos o Beto! Também não tem vontade de se encantar, de sonhar, de querer bem, de agradar. Quem foi que determinou que as mulheres não podem fazer isso? Ela está fazendo, e está sendo muitíssimo bem tratada pelo cara do elevador. Se bem que... já está com vontade de chamar a manutenção para substituir algumas peças... Bem, tudo é uma questãozinha básica de tempo, não?

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Em todas as instâncias... gatos???

Uma caixa fechada. Um gato dentro da caixa. E um gás venenoso dentro de um frasco que se abre se rolar um processo de decaimento radioativo. Se rolar mesmo, o gato morre. Se não rolar, o gato fica vivo. E agora? Ele está vivo ou está morto? Segundo a teoria quântica, você só sabe se o gato está vivo ou se está morto se olhar para dentro da caixa. Nada é real se não é observado: o gato não morreu e não sobreviveu, até que a gente olhe pra ele. Ele está num estado indeterminado, vivo e morto ao mesmo tempo! Essa é a famosa história do Gato de Schrödinger, que Tetê adora.

Por que isso agora? Porque, segundo Tetê, falando em gatos... o gato subiu no telhado. E não foi o Gato de Schrödinger!

Ela passou um bom tempo idealizando a caixa (preta?) do gato (de Schrödinger?) e chegou a pensar que o mistério era realmente tudo de bom. Mas como qualquer mulher, Tetê é curiosa! E acordou um dia morrendo de vontade de olhar o conteúdo da caixa. Tomou um café, fumou um cigarrinho, leu os jornais... enquanto tentava tirar da cabeça o pensamento recorrente de abrir a caixa. Mas a maldita curiosidade venceu e ela constatou o que já suspeitava: o gatinho estava morto. Mortinho. Meeeesmo. O tal decaimento radiativo rolou, e levou não só a vida do pobre gatinho, mas toda a empolgação da Tetê em relação a ele. Ai, ai. Hora de funeral. E de um pretinho básico, de arrasar.

Como funerais não significam altas festas, ela resolveu sair sozinha e encarar um jantarzinho num restaurante onde não fosse incomodada. Em Curitiba, só o Ile de France passa no teste: onde mais uma mulher sozinha e bem vestida pode ir nessa terra, para saborear uma boa comida e voltar para casa sem ser alvo de olhares esquisitos? E fazia muito tempo que ela não comia aquele delicioso escargot.

Tudo de bom! O Ile não estava muito cheio, ela estava completamente a vontade e aliviada. Pode parecer esquisito, não é sempre que um funeral significa alívio, mas encarar a realidade, abrir a caixa e ver que ali só havia um gato morto fez um bem enorme. Ela não conseguia ter culpa por se sentir bem numa situação como essa. Afinal, ela estava viva e acostumada a ser alimentada com novidades constantes. E quando ela não é alimentada... o sistema falha mesmo! A rotina tira o brilho de Tetê. A não ser que a rotina seja avassaladora! E não era isso que ela estava vivendo. Talvez ela tenha usado demais a piscina de bolinhas... e as bolinhas tinham prazo de validade. Ela não leu o manual, mas certamente as instruções traziam uma cláusula de desgaste...

Enfim, o esgargot estava divino. Igualzinho ao que ela comia com o pai, desde pequenininha. Aquele ambiente acolhedor, aquele vinho e aquela sensação de não ter que conversar amenidades com ninguém a faziam levitar. Ela levou exatamente uma hora e quarenta e dois minutos entre a entrada, o prato principal, a sobremesa, a conta e o pedido de um taxi para o garçom.

Voltou para casa e estreou o sofá novo com o Beto e com um último Jack Daniel's. E antes de adormecer no sofá com o Beto aos seus pés e a liberdade de volta, lembrou que a pessoa na mesa da frente no restaurante, também estava sozinha... e contou para o Beto, bem baixinho:
- Eu acho que vi um gatinho. Eu vi siiiim. Eu acho que vi um gatinho...

terça-feira, novembro 18, 2008

Experiência mística

Bem que ela avisou que estava cansada. Ela disse isso para todo mundo e ninguém acreditou. Ela tentou sinalizar que estava para lá de esgotada e todo mundo achava frescura. E o final de semana no campo com Cacá também foi pouco – ela precisava de pelo menos 10 dias de descanso.

Aconteceu na sexta-feira passada. Tetê trabalhou feito uma maluca o dia inteiro, não teve tempo para almoçar e na noite anterior tinha bebido toooodas com duas amigas malucas. No final da tarde ela sentiu vontade de chorar sem razão. Lembrou que estava cansada e lembrou que as pessoas diziam que era besteira, que era charme dela. E decidiu comprar uma sandália nova.

Saiu do escritório andando e foi até o shopping. No caminho, um ex ligou para o celular (um ex ótimo, por sinal...) mas ela dispensou rapidamente. Entrou numa loja e começou a pedir uma sandália atrás da outra. Provava, separava, trocava pela outra, e pela outra, e pela outra... até que uma coisa na porta da boutique chamou sua atenção: um homem lindo, bem vestido, com um sapato lindo também. Por alguns segundos Tetê fantasiou ser a mulher perfeita para aquele sapato lindo, mas em seguida entendeu o absurdo do pensamento, abaixou a cabeça para trocar a sandália e... teve sua primeira experiência mística.

Ela já não estava naquela loja. Estava deitada numa cama diferente da dela, com um vestido branco diferente do pretinho que ela realmente usava. Do teto saía uma luz fraca, também diferente. E o ambiente tinha um silêncio absoluto, também muitíssimo diferente. De um lado da cama dela, de pé, um homem e uma mulher vestidos de branco. Do outro lado da cama, o ex que tinha telefonado e o homem de sapato lindo.

Então Tetê entendeu: ela havia morrido, estava no céu – ou no caminho dele, o famoso túnel de luz que as pessoas descrevem quando estão perto da morte. Tetê tentou levantar a cabeça, viu um vaso de flores brancas mas ficou tonta, uma espécie esquisita de vertigem, um ritmo lento, um labirinto, algo absolutamente sobrenatural. E aquelas pessoas continuavam ali, ao seu redor, todas de pé, olhando atentamente para ela. Tetê pensou em forçar um pouquinho a voz, mas a voz não saiu. Ela então lembrou que no céu as pessoas não usam a fala, mas a telepatia. Tentou sintonizar a mente de alguma daquelas pessoas mas não conseguiu m.... nenhuma. E começou a ficar furiosa. Por que diabos aquele povo estava ali olhando pra ela? E por que não tinha nenhum anjinho tocando harpa, nenhum arco-íris brilhando?

Então ela ouviu a voz do ex (ué, cadê a telepatia?). Ele perguntou se ela estava bem e ela respondeu que estava enfurecida. Passou as mãos pelo corpo e notou que o vestidinho branco era áspero pra caramba, definitivamente démodé. A luz tênue saía de abajur horroroso pendurado no teto e o casal ao seu lado estava vestindo uniformes de hospital. As flores brancas eram de plástico. Ouviu o ex dizer:
- Ela já está ótima. Se está brigando, já está ótima.

E eles contaram o seguinte: ela desmaiou quando estava na loja provando as sandálias. O homem de sapato lindo abriu a bolsa, encontrou o celular dela e ligou para a última chamada recebida. O ex mandou que ele a levasse para um hospital e encontraria com ele em questão de minutos.

Então tá. Tudo devidamente explicado e ela ainda furiosa. Um homem com aqueles sapatos a conhecia numa situação ridícula daquelas? E aquele ex (mesmo sendo interessante) ali, posando de responsável técnico por ela?

O médico e a enfermeira não conseguiram convencê-la a passar a noite no hospital. Ela mandou todo mundo embora do quarto e pediu ajuda para a enfermeira. Vestida, já de salto alto, roxa de vergonha, foi acertar a conta do hospital. O homem de sapatos lindos já tinha acertado tudo... e ofereceu uma carona. Ela piscou para o ex (que estava de tênis e balançava a cabeça completamente desolado), engatou no braço do desconhecido e aceitou a carona.

Ele telefonou para Tetê todos os dias. Várias vezes ao dia. Mandou flores no sábado e na segunda. E quatro caixas de bombom de cereja da Kopenhagen que ela adora. E ela aceitou. Por que? Porque esse foi o único ser vivo que acreditou que ela estava cansada (também... se não acreditasse...), que a ouviu, que foi gentil, que não fez perguntas, que não pediu nada, que não exigiu nada, que não deu bronca, que não encheu o saco. Foi o único homem que procurou fazer com que ela desacelerasse quando, na primeira telefonema de sábado, ela chorou e contou que precisava de um dia com duas horinhas a mais. Foi realmente o único que a admirou por ela ser assim tão dedicada ao trabalho, ao invés de dizer que ela era louca por trabalhar tanto. O único que perguntou se ela precisava de alguma coisa, ao invés de desfiar um rosário com tudo o que um homem precisa. E foi o único a perguntar se ela tinha vontade de passar o Réveillon no Rio. Ele não é, realmente, um anjinho?

segunda-feira, novembro 03, 2008

Cuuuuuurto circuito no campo

Tetê acha que entendeu de uma vez por todas o que significa "curto circuito". Apesar de não se tratar de um circuito "curto"... para ela se tratou disso sim! As correntes que passavam pelo cérebro de Tetê nas últimas semanas achavam, pelo menos, que precisavam de um espaço – digamos assim – menos curto (Matemáticos e físicos de plantão: estamos utilizando a tal licença poética, ouviram???)

Ela estava acelerada no trabalho e nas festas. Saía de uma reunião para outra sendo obrigada a parar no cabeleireiro no meio delas, porque tinha um jantar logo mais. Visitava uma exposição carregada de sacolas de boutiques porque aceitara um convite de última hora para um aniversário. Brigou com a caixa do supermercado que não quis aceitar o cartão fidelidade da companhia aérea, que ela jurava ser o cartão de crédito. E o curto mesmo aconteceu na última sexta-feira, quando ela levantou, comeu um biscoito do Beto e deu a ele uma xícara de café preto bem forte.

Aí ela chorou e ligou para um amigo gay lindo que tem uma chácara linda num lugar lindo. A primeira providência de Cacá foi visitá-la no final da tarde e dar uma renovada no apartamento. Mudaram vasos de lugar, inutilizaram uma mesinha de canto, saíram e encomendaram um sofá novo florido, e levaram para casa um tapete de seda bordado em tons vibrantes.

Houve – lógico – atritos profundos entre Cacá, tapete e Beto: acontece que Beto estranhou o tapete e a camiseta de cetim do Cacá. Cacá, por sua vez, xingou o Beto de despenteado, escandaloso e babão. Mas por respeito à Tetê, muitos latidos e gritinhos mais tarde, relevaram as diferenças e agiram como gente grande num meigo quadro de conciliação: Cacá no tapete, Beto no colo de Cacá, Tetê fotografando o momento sublime. E no sábado, Tetê e Cacá embarcaram para a chácara depois de deixar o Beto (que dormiu no tapete) na casa da vovó.

A casa de Cacá no meio do mato é divina! Feita de troncos imensos, com um jardim de inverno no meio da sala que invade o piso superior. Apesar de estarmos praticamente no verão, chovia e fazia frio, e os dois passaram mais tempo comendo e bebendo na frente da lareira do que em outro lugar qualquer. Saíram e deram uma volta a cavalo, mas a chuva impedia aquele salutar contato com a natureza repleta de mosquitos, aranhas e afins. Cacá dispensou os serviços do casal que toma conta da propriedade e fez questão de cozinhar pessoalmente para a amiga em curto (Surto não! Curto...). Um verdadeiro anfitrião, chiquérrimo e amoroso, que levou Tetê para ver as vaquinhas, a horta, o lago, e para tirar ovo no galinheiro, o que rendeu uma gemada maravilhosa cheinha de canela.

Nos breves intervalos daquela orgia gastronômica, Tetê deitava com a cabeça no colo de Cacá e falava, falava, falava... Cacá fazia rolinhos com os cabelos da amiga, enquanto tentava desfazer os rolinhos que se formavam dentro da cabeça dela. Tetê estava tomada por uma paz inigualável, distante de computadores, celulares, campainhas, horários, e mergulhada naquele ambiente bucólico, renovador, onde tudo era verdinho e perfeitinho. A voz de Cacá era calma, compassada, transmitia serenidade e segurança, era uma voz perfumada e permeada de palavras doces. Ele tinha um labrador quietinho, calminho, bondoso, zeloso como o dono, que ficava horas a fio aos pés de Tetê, imóvel e enamorado. Parecia um sonho, do qual ela não queria acordar.

Logo após o almoço de domingo, Cacá e Tetê voltaram para a frente da lareira e retomaram a aura angelical: ela deitando a cabeça no colo suave dele, ele fazendo rolinhos no cabelo dela ao som do Concerto de Branderburgo número 3. O labrador sentadinho aos pés dela. E de repente... um grito de terror invade a sala e Tetê é arremessada violentamente ao chão. O labrador se assusta, sai correndo e derruba os copos de conhaque de cima da mesa, enquanto os gritos apavorantes aumentam. Tetê, do chão, vê o caseiro entrar com a espingarda na mão. E eles então percebem que os gritos vêm de um Cacá ensandecido, que sapateava violentamente enquanto fazia um streap tease desajeitado. Enquanto tenta levantar do chão e alcançar o labrador desesperado, Tetê distingue uma só palavra dentre os gritos do amigo: grilo.

Era isso. Um grilo. Aquele escândalo todo foi por um grilo que descuidadamente entrou na manga do pullover do Cacá. Nada mais, nada menos: um grilo. E um singelo Cacá em curto. Surto circuito. Longo. Longa mesmo foi a viagem de volta, com Cacá se penitenciando: de quilômetro em quilômetro ele parava no acostamento, descia do carro e dava volta até chegar na janela, beijava as mãos de Tetê e dizia "sorry, sorry, darling". Foram 52 quilômetros. E 52 "sorry, sorry, darling".

terça-feira, outubro 28, 2008

Sobre livros e leituras sensatas

Aconteceu assim, uns três anos atrás aproximadamente. Um domingo escaldante de verão e Tetê acorda cedo com o telefone tocando. Conversa um pouquinho com um amigo distante e de repente lembra que há uma feira de livros na cidade. Preguiçosa, toma uma banho e sai extremely casual: cabelos molhados, sandália rasteira, jeans e regata de seda. Ah! E óculos do tipo "saída de motel", enorme, atrás do qual ninguém a reconheceria assim tão básica.

Tetê entra em todos os stands de livros e já está suficientemente carregada quando entra no último: aqueles que vendem livros interessantes a preços "nórdicos" (o termo é da diarista, que se autodenomina "analfabética". Por que será???). Fuça daqui, fuça dali e Tetê está definitivamente coberta por livros num dos braços quando avista um antigo sonho de consumo.

Explica-se o sonho de consumo: ela sempre quis esse livro, mas morria de vergonha de entrar numa livraria para procurá-lo, imaginando que alguém conhecido pudesse aparecer subitamente e fazer algum juízo errado sobre ela. Afinal, porque uma mulher como ela compraria "Mulheres Inteligentes, Escolhas Insensatas"??? Nem morta que Tetê pagaria esse mico.

Mas naquela feira, com aquela roupa e aqueles óculos, num stand de livros populares... era uma ótima oportunidade para realizar o sonho antigo. Tetê olhou para um lado, olhou para outro, olhou para trás e se certificou de que absolutamente ninguém por ali poderia lhe reconhecer. E traçou uma estratégia infalível: ela estenderia o braço livre como quem não quer nada em particular. Esbarraria no exemplar secretamente, ardentemente, urgentemente desejado e o faria deslizar para o meio da montanha de livros que empilhava no outro braço. Nada poderia sair errado! Era um plano perfeito! E ela deu iniciou a perigosa e excitante operacionalização de seu plano. E no exato momento em que o livro estava no meio do trajeto entre a prateleira e seu braço dolorido pelo peso, alguém exclama atrás dela:
- Poxa! Sempre quis conhecer uma mulher que se interessasse por esse livro!

Tetê fica roxa. Não há a mínima possibilidade de fazer o tempo voltar para o momento em que ela ainda não tinha alcançado o maldito livro. Alguns milésimos de segundos dramáticos se passaram sem que ela pudesse pensar em uma desculpa descolada. Então o jeito era olhar para trás e encarar o dono daquela voz, e da acusação implícita que a voz trazia. E aí foi outro susto... o dono da voz era um homem imeeeeenso, liiiiiindo, grisaaaaaalho, e vestia uma camisa Elle et Lui impecável. Ela não conseguiu balbuciar nenhum som, e ele percebendo o mal estar, foi direto ao assunto:
- Fazemos o seguinte... você me dá o seu telefone e me explica porque está comprando esse livro, combinado?

Tetê imaginou que um encontro nessas condições só poderia resultar em um desastre e gaguejando deu um número de celular que já não existia. Ele agradeceu, sorriu e disse que ligaria no dia seguinte para combinar um jantar e discutir sobre o livro. Ela pagou o maldito livro, voou para casa e amaldiçoou a compra com todas as suas forças. Afinal, o livrinho tinha empatado uma possível "escolha sensata" com um homem pra lá de charmoso.

Outro dia Tetê estava na livraria esperando o Beto sair do Pet. Em um dos braços, livros e mais livros (biografia de Madame Curie, um ensaio de Mário Schenberg, textos de Washington Olivetto, biografia de Cartola e cartas de Vinícius de Moraes. Graças aos céus, uma boa seleção dessa vez...) quando alguém derruba um livro atrás dela e ela se volta para ajudar. Lógico! Era aquele homão da feira de livros! Eles riem, ele analisa os livros dela e reclama que o celular que ela anotou não existia.

Os dois assim, meio sem graça, e ele pergunta se ela realmente leu o livro. Ela fica meiga de repente, até que ele faz a segunda pergunta: se ela aprendera a fazer "escolhas sensatas". Ela já não se sente tão meiga. E ele faz a terceira pergunta: qual o número verdadeiro do celular.

P da vida, ela responde as três perguntas de uma vez:
- Sim, eu li o livro, aprendi a fazer "escolhas sensatas",e é por isso que não lhe dou meu telefone verdadeiro, darling.

Virou furiosa e andou sem olhar para trás. Aliás, faz tempo que Tetê está andando sem olhar para trás e isso traz uma elegância inigualável. Insuportável...

sexta-feira, outubro 17, 2008

Falando em anonimato...

Tetê estava em casa perto das 10 da noite, de camisolinha, quase dormindo abraçada a um livro chato, quando ouviu a campainha. Campainha? Como alguém consegue passar pelos cães de guarda que são os porteiros e alcançar a campainha assim, diretamente, sem interfone? Talvez fosse uma vizinha querendo papo e ela resolveu abrir.

Por alguns instantes, pensou que estivesse no meio de um pesadelo: na sua frente, três monstros coloridos fazendo muuuuito barulho. Ela tentou fechar a porta, mas um dos monstros colocou o pé no caminho, forçou a porta e abraçou Tetê enquanto os outros dois entravam e tentavam imobilizar um Beto Grude Gabbana que, em pânico, pulava de um lado para outro uivando. E de repente, no meio do pavor, vozes conhecidas... Sim, sim, sim... eram três amigas loucas, fantasiadas, excitadíssimas e já meio bêbadas. Tetê recupera o Beto do colo de uma bruxa roxa, senta no chão e tenta entender o que as três malucas diziam.

Simples assim: elas foram convidadas para uma festa à fantasia e sentiram saudades da amiga sumida. Tetê estava intimada a ir com elas. Ela tentou explicar com a maior calma que estava cansada, era tarde, ela não tinha nenhuma fantasia em casa e o Beto estava tomado por um surto psicótico depois do susto, mas elas não desistiriam tão fácil.

Reclamaram, xingaram, argumentaram que Tetê estava um pé no saco com as historinhas de caixa preta, piscininha de mil bolinhas, namoradinho e afins, e tinha abandonado cruelmente as amigas. Enquanto reclamavam, Ângela – a bruxa roxa – retoma o Beto (ai, judiação....). Carminha – a sereia dourada – invade o banheiro e volta com caixas de maquiagem e Vera – uma espécie de monstro negro do pântano – abre o guarda-roupa de Tetê e arremessa alguns possíveis vestidos em cima da cama.

Impossível resistir! Mesmo porque a promessa de uma diversão com várias pessoas juntas era um bálsamo para a vida reclusa, digamos assim, que Tetê vinha levando nos últimos meses. E menos de trinta minutos depois, Tetê está num longo azul, com uma coroa na cabeça e algumas flores pregadas na barra. Uma mistura de Scarlett, Cinderela, Iemanjá e Pastorinha, mas foi o que conseguiram para o momento supremo, e assim foi Tetê.

A festa acontecia numa casa maravilhosa, Tetê chegou a duvidar que estivesse em Curitiba. Pessoas lindas (continuou duvidando...), fantasias lindas, bebidinhas lindas, comidinhas lindas, tudo lindo. O dono da casa veio cumprimentá-las e ganhou a confiança da Tetê quando perguntou meigamente "um uisquinho? um bourboun?" Ah... lá foi Tetê com o Jack Daniel's! E quatro Jacks depois, Tetê estava se esbaldando na pista de dança, esquecendo completamente da Cinderela e Cia. Ltda. A maioria das pessoas estava de máscaras, o que era sem dúvida, divertido e inebriante. E ela dançou muuuito com um mascarado que tinha uma voz incrível e cantava! Tetê sempre achou um charme homens que cantam enquanto dançam. Mas de repente... a luz se fez!!! Não, não foi a consciência, foi o sol mesmo. Amanhecia quando Tetê ainda dançava com o mascarado e via os três monstros que a capturaram encostados uns nos ombros dos outros, num banco do jardim, roncando!

Jogada na banheira, com uma caneca de café preto fortíssimo, e tentando se preparar para enfrentar um dia de trabalho direto, Tetê chegou à conclusões dinâmicas: o anonimato é mesmo lindo; ela não foi feita para ficar parada e longe das multidões; definitivamente, não se fazem mais monstros, fantasias e "fantasia" como antigamente e, como última conclusão... precisa ter muita, mas muita competência para usar uma máscara. Sem perder o charme e a dignidade...

terça-feira, outubro 14, 2008

O charme, a dor e a delícia do anonimato

Os dias frios e cinzentos estão indo embora, o que significa que Tetê está num movimento magnificamente inverso! Ela consegue acordar cedo, sentar no chão com o Beto enquanto ele devora um mix de mamão, maçã e banana (verdade, ele enlouquece com as refeições matinais que a "pediatra" liberou), ler todos os jornais, passar alguns minutos na bicicleta que não sai do meio da sala (mas é enfeitada com uma manta de fios deslumbrante da designer mais que deslumbrante Márcia Ganem), e mesmo quando deveria se sentir absolutamente exaurida com essas árduas tarefas, consegue sair de casa leve, solta e saltitante.

No elevador ela cumprimenta efusivamente dois vizinhos carrancudos que resmungam algo como "om ia". Lógico! Dizer um "bom dia" completo é uma utopia para qualquer bom vizinho curitibano! Mas Tetê nem liga, continua bem humorada e esvoaçante na blusa de camadas levíssima que escolheu para saudar um calorzinho. Engraçado mesmo é que na horinha de escolher uma sandália, um pensamento trágico, urgente mesmo, lhe passou pela cabeça: ela precisa de novas sandálias! A galeria colorida na sua frente não é suficiente, como sempre. Nem a sandalinha de cristal para encontrar lobos maus legítimos podia satisfazer esse tipo de desejo – o de uma sandalinha nova.

O dia passou, ela fechou um negócio interessante e saiu do escritório mais cedo. Andou a pé pelas ruas, viu vitrines, consultou um conselho de amigas pelo celular para saber as últimas fofocas, contratou um eletricista para trocar todos os spots do quarto enquanto experimentava uma calça bárbara na Le Lis, e... de repente... lembrou: calor, horário de verão, outubro.... aniversário! Ela estava quase fazendo aniversário! Well. Tirando o fato de que mudar de número é complicado tooooodos os anos, isso era um bom sinal. Sinal de festa à vista, de reunir gente gostosa, de apagar velinhas, de se divertir muuuuito! E para compensar o peso da idade, se deu de presente o primeiro item: a calça bárbara.

Uma pontinha de remorso depois, comprou uma centopéia para o Beto (inimaginável ela ter um presente e ele não!) e voou para casa para vê-lo abrir o pacote. Na portaria, um pacote sem remetente. Enquanto o Beto tentava devorar a caixa da centopéia, ela devorou o papel dourado do seu próprio pacote. Nenhum cartão, nem uma dica, nem uma pista. Se duvidar, nenhuma impressão digital. Mas em compensação, uma sandália dourada simplesmente estonteante, que servia!!! Exatamente o seu número...

Tetê pegou emprestada a centopéia do Beto e deu uma mordida. Uma coisa ela aprendeu nessa vida: nunca, nunca, nunca, nunquinha mesmo, passar a mão no telefone e perguntar toda alegrinha: "Foi você?"

Tetê continuará a morder a centopéia. Continuará a morder o Beto. E continuará a se morder de curiosidade. Mas jura de pés juntos (calçados com a sandália dourada nova, claro!) que vai esperar alguém se manifestar. Melhor do que sair por aí dando montanhas de foras e despertando sentimentos bélicos em todo mundo que responder "Fui eu o quê?"


segunda-feira, outubro 06, 2008

Enquete da Tetê: responda rápido... você faria o que?

Você está andando na rua, chiquérrima com um tubinho Versace preto. Láááááá na esquina você avista um lobo mau. Ele vem andando firme em sua direção, você está congelada de pavor e começa a suar frio. A menos de um metro de você ele sussurra gentilmente: Você é diferente de todas as mulheres que já conheci.

Você está encantada com um homem. Ele é durão, macho pra caramba, irredutível, preso nos parâmetros mais machistas da humanidade. Você resolve agradá-lo, dá uma de Luma de Oliveira, compra uma coleira de cristal Swarovski caríssima com o nome dele gravado, e estréia metida num vestido vermelho francês com uma fenda na perna direita que mais parece a Garganta do Diabo. Ele olha bem dentro dos teus olhos e diz que odeia mulheres submissas.

Você não sabe cozinhar nada. Nadinha mesmo. E tem a nítida impressão de que panelas e fogões vão criar milhares de tentáculos carregadinhos de um veneno mortal que dispara se você chegar perto demais. Mas tem um homem pra lá de charmoso que você ju-ra que merece uma massa básica. Heroicamente você se enfia na cozinha e durante 30 longos minutos vê aquela água ferver, aquele macarrão se desmantelar todo e aquele molho ficar ali, borbulhando de uma forma indecente, torturante. Ele prova e diz que o molho tem que ser colocado só no final, para não ficar ácido daquele jeito.

Você está detonada. Semana cheia, reuniões intermináveis, agendas neuróticas e limite do cheque especial estourando. Todos os cartões de crédito entraram em greve. Seu cabelo implora por uma boa escova de chocolate e você não tem tempo de atendê-lo. Os jatinhos da hidromassagem pifaram quando você mais precisava deles. Mas... ele vem! Ele vai te colocar no colo, vai te dizer que tudo isso vai passar, que vai cuidar de você, que naquela noite vai te fazer esquecer do mundo! E ele chega! Cheiroso, lindo. Você ainda está irritada. Ele liga a TV para não perder uma luta de Box. Logo em seguida, ele dorme.

Seu cachorro voltou do Pet com um corte horroroso. Desesperada, você passa a mão na tesoura e corta o lado direito do bigode dele. Quando tenta o lado esquerdo, o cachorro surta, uiva, corre pela casa inteira, derruba dois vasos de orquídeas e não te deixa mais chegar perto nem com reza brava. Um homão atencioso chega na sua casa, olha para o seu cachorro e diz que ele está uma gracinha. E não nota que o seu cabelo também diminui 1,5 cm, pois nos únicos 20 minutos de sobra do dia, foi o que deu para fazer no salão.

Você explica pra ele uma situação delicada, profunda, repleta de detalhes imprescindíveis, de entendimento realmente difícil. E lógico que cada palavra que descreve cada detalhe imprescindível, é imprescindível ao quadrado. Ele não entende e você desenha. Ele responde com uma frase lacônica que faz alusão ao único (dos trezentos e vinte e oito) assunto que você não abordou.

Responderam?

Ah... e ainda querem saber o porque do sapatinho de cristal no início da postagem? Não. Não é da Cinderela não. É um exemplar Alexander McQueen legítimo. Porque é exatamente o que Tetê faria... colocaria um sapatinho de cristal pra lá de básico, ligaria para umas amigas descoladas e sairia... estrada afora. Que nem Chapeuzinho Vermelho em busca de lobos maus nativos. Legítimos mesmo. Furiosos. Esfomeados. Sedentos. Arrebatadores. Maus. Muuuuito maus.

segunda-feira, setembro 08, 2008

Chaves que realmente funcionam em portas fechadas

Pois é... Tetê sumiu... por um ótimo motivo: lua-de-mel.

De uma hora para outra, sem que ninguém pudesse supor, ela resolve de-fi-ni-ti-va-men-te assumir sua relação com o Piscina de Bolinhas. E não sobrou Tetê pra mais ninguém e pra mais nada. Em todas as instâncias (familiar, social, profissional) Tetê aparece com ele e o apresenta como "meu namorado". Acreditem, a última vez em que isso aconteceu foi em 1989, quando ela estava com o cientista. Desde então era bastante comum vê-la seguidamente com o mesmo homem, mas ela os apresentava pelo nome. E nunca andou de mãos dadas, abraçado ou aos beijos com nenhum deles. Sempre achou isso de uma infantilidade absurda.

Agora é diferente. Depois do susto, parece que o mundo se acostumou a vê-la pendurada nele por todos os cantos da cidade: cafés, restaurantes, cinemas, teatros, museus, galerias, pets, bares, esquinas, reuniões, livrarias, shoppings... Ele é presença constante em todos os momentos e em todos os lugares. Ela não imagina passar um dia sem ele. Eles se falam o dia inteiro, se telefonam e se visitam, se tratam por nomes carinhosos. Ela é uma outra Tetê e ninguém mais duvida: ela não está brincando.

No entanto, o mais interessante não é o que as pessoas estão vendo, mas o que está se passando dentro dela, os limites que ele está transpondo e os terrenos que ela o está deixando invadir. Começando com os finais de semana, que ela odiava dividir com alguém. Qualquer homem que dormisse na sexta era espantado categoricamente antes do almoço de sábado. Sábados e domingos sempre foram dela e só dela (depois do Beto Grude Gabbana isso mudou um pouquinho, é verdade, mas continuou excluindo qualquer outro ser vivo). O melhor amigo de Tetê sempre disse que sábados e domingos eram para amadores e ela sempre concordou com ele. Agora... o Piscina de Bolinhas chega na sexta, sai no domingo e Tetê quase morre quando ele se despede. Esquece completamente que antes dele, o final de semana era dedicado a salão, shopping, livrarias e armários, livros e banhos de cremes, hidromassagens e sais e, mais recentemente, pets e mais pets.

E ontem... houve ontem... um domingo ensolarado e frio... que ela nunca mais vai esquecer. Eles acordaram tarde depois do vinho da noite anterior. Por eles, teriam dormido muito mais, mas o Beto chamava o "papi" insistentemente, e o "papi" não deixa o Beto carente nem por um momento. Café, banho e uma saída rápida para almoçar no shopping. Voltam e assistem "Contato", filme que faz Tetê lembrar do pai dela e chorar adoidado, sentindo-se absolutamente sozinha.

Mas ontem... ela viu "Contato" agarradinha com o Piscina de Bolinhas. E não chorou. Assustou um pouquinho por não ter chorado. Assustou um montão quando sentiu que ele estava muito próximo dela. Quando lembrou que deu a ele a chave do apartamento. Assustou ainda quando percebeu que se referia a ele como "papi" do Beto. E assustou de verdade quando percebeu que ele estava próximo ao seu pescoço. E o pescoço de Tetê, por incrível que pareça, nunca esteve próximo de homem algum. Talvez ela lembrasse de vampiros, de ataques de animais selvagens, talvez sentisse cócegas, talvez simplesmente achasse inconveniente, desagradável, desnecessário. E ontem... antes que ela pudesse pensar em qualquer outra coisa, em qualquer tipo de impedimento, notou que ele estava – sem aviso prévio ou necessidade de consentimento – em seu pescoço. Na zona proibida. Abrindo a última porta, aquela que ela sempre manteve fechada a sete chaves para qualquer outro homem. Ele agora tinha todas as chaves. E ela agora não estava nem um pouquinho assustada. Ela agora estava feliz.

terça-feira, agosto 19, 2008

Múltipla Escolha

Tetê está quieta. Dois fatores podem ter originado essa reação:

a) Tudo está chato.

b) Tudo está perfeito, maravilhoso, charmoso, chiquérrimo, gostoso, suave, glamouroso, deslumbrante, arrasador, amoroso, meigo, translúcido, excelente, primoroso, magnífico, exuberante, surpreendente, encantador, atraente, arrebatador, avassalador, fascinante, sedutor, magnético, estonteante, envolvente...

Para acertos, favor marcar a alternativa "b"...

quarta-feira, agosto 13, 2008

A torradeira elétrica no reino encantado do mundo que dá voltinhas

... Era uma vez, num reino encantado, muitos e muitos anos atrás... um homem bom e lindo. Que cruzou a vida de Tetê como um relâmpago, numa noite que tinha tudo para ser absolutamente comum. O mundo deu uma voltinha, deu outra, e numa determinada manhã de sol, Tetê resolveu realizar um sonho: levar um café na cama para alguém especial. Para isso, utilizou um dos únicos acessórios de cozinha que dá certo com ela: uma torradeira elétrica (todos os outros acessórios são dispensáveis, pois ela não vê funções imediatas nem no forno de microondas). Ele tomou o café e voltou a dormir. E ela, atordoada, lembrou que estava atrasadíssima para o casamento de seu melhor amigo. A solução foi deixar o homem bom e lindo sozinho, ir ao casamento sonhando acordada e voltar voando para casa, onde encontrou o homem bom e lindo... ainda dormindo. Motivo suficiente para mais uma sessão de torradas, no reino encantado.

O tempo passou um pouquinho. O mundo deu outras voltinhas. Tetê levou café na cama para esse homem bom e lindo por várias vezes, sempre utilizando a torradeira e algumas fatias de queijo. Os dois perceberam que aquela torradeira estava vinculando sentimentos, e decidiram colocar um fim nesse ritual: não acordariam mais juntos. E a torradeira foi para o fundo do armário da cozinha de Tetê. Definitivamente.

Mais umas voltinhas no mundo, mais alguns reencontros entre os dois. E o assunto da torradeira sempre vinha à tona como um fiozinho que puxa o passado, a saudade e algum futuro possível. Mas sempre acabavam mudando de assunto, corados e sem graça. Em alguns momentos mais descontraídos nessas voltinhas que o mundo dá, revelavam, no entanto, que a torradeira deveria volta à vida. Onde ela andava? As diaristas de Tetê a encontravam de tempos em tempos, enroladinha, no fundo do armário. Ela era limpa, envolta num feltro cor-de-rosa e devolvida ao seu esconderijo. Ao fundo de um santuário, como um objeto sagrado.

O homem bom e lindo (lógico... o Dono da Caixa Preta. Ou o Piscina de Bolinhas) veio vindo assim, quietinho. E Tetê também foi avançando assim, quietinha. E nessas voltinhas do mundo, eles foram voltando para a torradeira. Até que, sem aviso prévio, sem planejamentos, raciocínio ou planilhas do Excel, voltaram a usar a torradeira. E as torradas e os resultados... hum... que vontade de aposentar de vez o feltro cor-de-rosa...

domingo, agosto 10, 2008

Sensação de...

O contato com a Tetê está cada vez mais complicado! Ela se conectou a um outro mundo, parece uma outra pessoa, planando, envolta em mistérios e estudos, desligada da coerência e da praticidade do dia-a-dia. Acorda tarde, fica um bom tempo na cama se espreguiçando e quando finalmente levanta não sai voando pra resolver problemas em série como sempre fez. Ela está mesmo diferente...

Um bom humor constante, uma risada solta, cabelos soltos (quem diria... para quem só soltava a noite, para dormir...). Ao invés de dos trajes mais básicos para o escritório, agora ela examina o guarda-roupa minuciosamente pela manhã em busca de echarpes, blazers coloridos ou cintos que possam fazer uma diferençazinha num tubinho preto. E perde horas matinais com o Beto, que tossiu duas noites seguidas. Ela largou tudo para levá-lo à "pediatra", e voltou com xarope, mel e recomendação de descanso durante 14 dias (para ele, mas ela acompanha).

Desta forma, agora Tetê chega no escritório as onze, ao invés do costumeiro horário de nove horas. E chega cansada de trabalhar... quer sair, passear, andar de mãos dadas no meio da rua, ir ao cinema, ao teatro, comer pipoca, ver desenho animado em baixo de uma manta xadrez só com o nariz pra fora. Mas ao lado do... dono da caixa preta. Pois é, tá rolando. Para ser mais exata, até que faz tempo que tá rolando. E ela ainda não cansou! Pelo contrário! Não teve vontade de parar de falar, nem de sorrir, nem de ser feliz. Esse cara é realmente um fenômeno...

Ele precisou passar dois dias fora da cidade na semana passada e Tetê ficou sem saber o que fazer. Na ausência dele, ela queria definir em palavras, achar um parâmetro, um signo, uma imagem que pudesse usar todas as vezes em que alguém lhe perguntasse sobre o tal cara. Pensou que uma tarde alegre e descontraída pudesse lhe trazer alguma luz, e como não podia sair pelos shoppings com o Beto, "alugou" a filha de uma amiga e passou uma tarde em programas infanto-juvenis: Mc Donald's, bonecas, boutiques cor-de-rosa, CD's de cantoras mirins norte-americanas que ela nunca vai lembrar quem são, e finalmente, um descanso para o último sorvete em frente a uma piscina de bolinhas. E não deu tempo para ninguém impedir! Em questão de segundos, Tetê se jogou na piscina no meio das crianças, para espanto de todos os adultos e crianças – principalmente da que ela levava pela mão. E aí ela descobriu.

A sensação que o dono da caixa preta lhe passa é essa: ela está sendo levada pelo movimento randômico de milhares de bolinhas coloridas, macias, delicadas, gostosas, que trocam energia entre si e nunca, nunca mesmo, se pode prever se vão afundar ou se vão subir, pois dependem, sensivelmente das condições iniciais do movimento do outro, que está em frente, em cima, em baixo, ao lado dela. Exatamente como na Teoria do Caos. Mas muito mais gostoso do que na Teoria do Caos.

domingo, julho 27, 2008

Primeiros sintomas

Tetê está absolutamente reclusa! Debruçada sobre o conteúdo da caixa preta, afundada em milhares de símbolos, gravações, vozes do passado, análises das situações e conteúdos subliminares que pulam da caixinha a cada nova olhar.

Me atrevo a dizer que ela está, inclusive... revendo suas convicções ateístas! Pelo que Tetê diz ultimamente, a caixinha não é só preta, mas é também mágica! Tetê jura que todas as vezes que olha para ela, os conteúdos se multiplicam, mudam de cor e de textura... não sei se não é chegada a hora de forçá-la a uma consulta psiquiátrica emergencial ou um SPA...

Ela conta que durante os últimos dias sentiu coisas "estranhas". Como se o dono da caixa preta estivesse sempre presente. Diz ela... que ouve a voz dele durante o dia todo. Que sente o cheiro dele até no banho. Que percebe a respiração dele enquanto escova o Beto, sozinha em casa. Diz ainda (cruzes...) que se sente manipulada de alguma forma, que os mais variados sentimentos vão e voltam completamente desordenados, como se ela estivesse perdendo definitivamente o auto-controle (por que será que essa parte faz sentido?).
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Ela jura de pés juntos por exemplo, que durante uma reunião com colecionadores de arte, tem vontade de largar tudo, fazer um capuccino e levar para ele. Conta que enquanto escolhe um sapato pela manhã, tem vontade de se atirar nos braços dele. E tem coragem de afirmar que, enquanto passeia pelos corredores do supermercado, se imagina voando até ele, só para fazer um cafuné inocente, prá lááááá de básico.

Hoje, ao abrir a caixinha mágica (eu, hein...) ela afirma que um objeto levitou até a altura dos seus olhos. Ela só podia ver o verso do objeto, que delicada e lentamente, foi chegando pertinho dela, virando, virando, virando, até ser reconhecido: era um controle remoto, com botões que acionavam funções absolutamente diferentes de qualquer outro controle conhecido. Então ela entendeu: o que ele fez foi justamente isso... construiu um aparelhinho especial, para acioná-la a distância quando bem entendesse.

O pior ainda está por vir... ela diz que está adorando ser acionada a distância!!! Se fosse outro homem qualquer, com certeza ela teria virado a mesa, mandado passear ou simplesmente parado de sorrir e de falar (ela pára de sorrir e fica absolutamente sem assunto quando um homem não a interessa mais. Coisa de louco mesmo, pois acontece em questão de segundos). Mas é ele. É o homem que tem como palavra chave o equilíbrio. O homem que construiu um aparelho e uma história. Para ela, com ela. E que tira dela alguns medos conhecidos, incômodos.

Bem... Tetê até pode perder o medo. Mas significa que o mundo em volta dela deve começar a ter medo do que pode vir por aí, se essa louca continuar sendo "acionada a distância"...

sexta-feira, julho 25, 2008

Um carro na chuva

Faz uns 8 anos mais ou menos. Gustavo, grande (grande, grande, grande, grande, grande) amigo de Tetê estava fazendo um curso em Londres que durava um ano e meio. Tirou duas semaninhas de folga e veio ao Brasil, trazendo um presente para Tetê. Ligou num dia de chuva imensa, disse que estava pertinho do prédio dela e queria um jantarzinho rápido, pois ainda precisava visitar trilhões de pessoas. Pediu para Tetê descer voando.

Tetê desceu voando! Mas ainda teve tempo de perguntar com que carro ele estava, e ele inocentemente informou: um Honda Civic prata. Ele só esqueceu que Tetê não entende coisa alguma de marca de carro!

Ela desce no meio do dilúvio, com uma sombrinha enooorme que não resolvia nada. Um carro prata estaciona bem na frente do prédio e ela desliza (nada) pelo escuro, abre a porta e se joga nos braços do amigo. Ouve um grito... larga do pescoço do Gustavo para ver o que estava acontecendo, e quase enfarta: não era o pescoço do Gustavo...

O homem dentro do carro estava branco de susto. Aguardava o irmão que morava no mesmo prédio e nunca esperou ser agarrado por uma louca alagada e efusiva daquelas. Desculpas vão, desculpas vêm e ela sai do carro arrasada de vergonha. Atrás, um outro carro prata, mas ela faz o motorista abrir a janela antes de entrar. Era, agora o Gustavo. E eles vão jantar morrendo de rir.

Quando Tetê volta o porteiro a esperava com orquídeas. No cartão, um óculos desenhado e o número do telefone. Pois é... o "agarrado à força" desceu e aproveitou que o irmão morava no prédio para conseguir os dados de Tetê. Ela obviamente ligou para agradecer e eles saíram por alguns meses. Foi gostoso, mas assim que a estação das chuvas recomeçou ela achou melhor dar um final digno e seco naquela relação que não era assim, digamos, tão inundada de paixão.

Ontem, saindo de um museu, ela deu de cara com o "agarrado à força", que queria porque queria o novo endereço dela! Foram 25 longos minutos para tentar sair com classe daquela situação. Nada convencia o "agarrado" que ele assim, durante o dia e sob o sol, não fazia diferença alguma. Como com classe não rolou mesmo, foi preciso explicar que ela estava ocupadíssima com análises e laudos de uma caixa preta. O "agarrado à força" então, pediu milhões de desculpas, pois não sabia que ela tinha parentes no último acidente aéreo. Inteligente ele, não?

segunda-feira, julho 21, 2008

Caixa Preta: onde mora a verdade (nem sempre divulgável!)

Tetê teve um jantar muitíssimo gostoso com... bem, vamos esperar um pouquinho pra contar – pedido dela. Deve ser pra não dar azar, atrair olho gordo ou coisa parecida, vai saber! O fato é que o jantar foi gostoso de verdade. Saíram pelas ruas assim que escureceu e procuraram um restaurante chinês (os dois odeiam comida japonesa, sushi, pauzinhos e afins).

O papo rolou solto, como sempre. Sensação de familiaridade. Como na música: aquela velha amizade, aquele papo furado todo fim de noite, num bar do Leblon, meu deus do céu, que tempo bom! Tanto chopp gelado, confissões à beça...

O fato é que quando estão juntos se sentem mesmo no Leblon, em New York, em Cannes, em Londres. Como se fossem, os dois, absolutamente universais e elegantes mesmo metidos em jeans justos e desbotados, andando pelas ruas de Curitiba. De sobremesa, Nhá Benta na Kopenhagen dentro de um shopping. E vitrines. E presentes para o Beto: perfumes de morango e chocolate (que o deixaram irresistível!!!) e uma linda centopéia branca, da qual ele não se separa.

Ele fez questão de promover a entrega da centopéia branca pessoalmente para o Beto. Quer dizer, não deixou – como sempre – Tetê na portaria. Beto amou. Tetê amou. E ele pediu para acessar e-mails. Tetê o deixou sozinho no computador, pois não queria violar a intimidade dele e de suas mensagens eletrônicas. Logo em seguida se despediu. E entrando no elevador, confidenciou que ela encontraria uma surpresa no computador.

Ela atravessou o corredor voando e encontrou uma série de vídeos sobre Prada, Jimmy Choo, René Caovilla, Dior! Que lindo! Que atencioso da parte dele! Mas, o mais lindo de tudo foi um presentinho deixado ao lado do computador dela! Era uma embalagem preta, clássica, verdadeira. Com uma mensagem subliminar pra lá de profunda. Ela chorou de emoção: ele havia, finalmente, decidido abrir a caixa preta e a deixara elegantemente, em repouso, ao lado do computador de Tetê. Aí chega o segundo pedido de sigilo dela: não revelar, por enquanto, o conteúdo da caixa preta. Louca ela, não?

Possivelmente o conteúdo da caixa preta dele vai passar por um lento relatório e análise técnica dela. Mas ela adianta que esse tipo de conteúdo responde exatamente a pergunta da música: Onde foi que ficou? Aquela velha amizade, aquele papo furado todo fim de noite num bar do Leblon...

É. Ele mostrou onde ficou. E resgatou, com confissões à beça!

quarta-feira, julho 09, 2008

Eu tive um sonho ruim e acordei chorando, mas não te liguei

Reprise da novela Pantanal. Logo no início, Juma Marruá – a mulher que vira onça diante dos perigos da vida – sente muita dor e chora. De repente, dá uma parada básica e, com aspecto grave, promete:
- Nunca mais vou chorar nessa minha vida.

Tetê sonhou a noite inteira com uma determinada pessoa. Acordou às 4 da manhã, assustada. Resolveu arrumar gavetas e achou umas fotos antigas. Sentiu muita dor e chorou. Chamou o Beto:
- Diz pra Juma que eu também.

Beto Grude Gabbana assentiu com a cabeça, latiu duas vezes, virou as costas e sumiu no escuro da sala.

terça-feira, julho 08, 2008

Semana internacional do vestido

Tetê chegou em casa ontem e soube que a greve dos Correios não atingira os trajetos internacionais: um grande pacote a esperava na portaria. O remetente era o cientista (quanto tempo!!!). Desde fevereiro ela tinha notícias dele.

Desde o nascimento do Beto Grude Gabbana, Tetê não consegue chegar em casa e abrir sua correspondência nos primeiros 40 minutos, pois ele monopoliza toda a atenção e ataca todos os pacotes e envelopes. Portanto, mesmo curiosa, atendeu a todos os latidos, lambidas, mordidas e gracinhas do Beto que nessa semana pegou um porco de borracha alaranjado pra Cristo. Enquanto ele não conseguiu que Tetê jogasse o porco de borracha alaranjado pela casa inteira para que ele devolvesse o brinquedinho todo babado (por mil vezes seguidas), não sossegou. Quando enfim perdeu o interesse pelo porco alaranjado, sentou bonitinho em frente da televisão ligada no Discovery Kids (ele ama!) e Tetê pode, exausta, pegar uma taça de vinho e abrir o pacote bááásico.

Que sorte! Ela estava sentada, caso contrário teria caído dura no chão. No pacote um vestidinho vermelho francês, drapeado, que ela não via desde 1990... quando desmancharam o apartamento no Rio, o cientista foi morar em N.Y. e ela em Curitiba (um desastre, ela sabe disso). Ela embarcou antes para o sul para não ter que se despedir dele no aeroporto. Aeroporto, para os dois, tinha um significado especialíssimo, se vocês lembrarem da forma como ele a pediu em casamento. E já que ele embarcou uma semana depois dela, sobrou para ele resolver as últimas situações práticas da vida a dois que chegava ao fim. Uma dessas situações incluiria uma visita à lavanderia de Ipanema, mas Tetê não lembrava disso. Apagou completamente de sua mente as coisas lindas que deixava para trás, inclusive esse vestido vermelho deixado na lavanderia, depois de um jantar belíssimo de despedida no Copa, que era o lugarzinho que os dois adoravam.

No bilhete que caiu do vestido, a letra conhecida: "O perfume que você usava em 1990 era muito ruim, pois desde a semana passada ele sumiu completamente do seu vestido. Seu vestido, portanto, perdeu a função no meu guarda-roupa. Se quiser reavivar o aroma, veste que eu te espero na Marquee, na 10th. Me diz quando".

Tetê lembrava da Marquee... uma boate gostosa que tinha uma curiosa escada em forma de arco, da qual eles quase caíram depois de beberem todas! Mas não estava em seus planos viajar agora, ela estava atolada de trabalho. Ligou para ele, agradeceu e deram boas risadas. Ele, sempre um gentleman, sempre atencioso, sempre divertido, sempre generoso, sempre com uma memória e um raciocínio impecáveis.

Quando desligou, Tetê chegou a sentir uma certa melancolia, mas não por ele. O sentimento esquisito era o de poder ligar para todos os ex-namorados com a maior naturalidade e com nível zero de periculosidade, menos para um... mas, como exceção é coisa para ser esquecida, largou o pensamento e pegou o vestido, que ainda servia perfeitamente. Até o Beto Grude Gabbana desviou os olhos do Discovery Kids para olhar a mamãe de vermelho, lançar um humpf humpf humpf gostoso e se aninhar naquela roupa de tecido molinho e desconhecido.
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No dia seguinte, Tetê almoçou com o ator ma-ra-vi-lho-so num restaurante charmoso, numa linda mesinha ao ar livre, com toalha xadrez, florzinha e direito a manjar de sobremesa. Como sempre, falaram sobre tudo e sobre todos. Ele também era um homem tão atencioso, tão gentleman, tão divertido, tão generoso quanto o cientista. Não. Ele era mais, muito mais. Muito mais tudo isso e muito mais tudo o mais. Depois do manjar, andando na rua de mãos dadas, ele lembrou de um réveillon no qual Tetê usou um vestidinho branco, justo e transparente...

domingo, junho 29, 2008

Depois de várias gotas d'água: a bonança

Finalmente Tetê foi jantar com o Mário do Dupont preto laqueado! Ela adiou o quanto pode, remarcou três vezes, deu três desculpas bem esfarrapadas e ele acreditou em todas, sem questionar... o que acendeu, sem dúvida, um alerta vermelhinho básico: um homem que insiste de uma forma tão meiga, que é tão complacente, tão bonzinho... ih... problema à vista, com certeza!

O jantar transcorreu numa boa, ele escolheu um bom vinho mas deixou que ela escolhesse o prato: "tanto faz, você é quem sabe". Convidou-a para um cineminha no dia seguinte e ela perguntou qual o filme: "tanto faz, você é quem sabe". Perguntou se ela queria sobremesa e pediu que escolhesse a dele também. Depois de pagar a conta perguntou se ela queria esticar num barzinho, ela podia escolher qualquer lugar... ela deu o nome de dois lugares e perguntou qual ele gostava mais: "tanto faz, você é quem sabe". Ah! Então tá bom! Tetê entendeu porque um homem lindo como aquele estava disponível.

Mário era do tipo bonzinho. Aquele homem que impressiona na primeira vez e perde as rédeas depois da segunda frase. É o homem que aceita tudo, não tem voz ativa e, mesmo frustrado com alguma situação, continua sorrindo gentilmente. Tetê conheceu duas versões desse tipo de homem e não gostou de nenhuma delas. Primeiro, o cara que diz "tanto faz" pra tudo porque não está nem aí, e segundo – e pior – porque não tem personalidade alguma e acha que o mundo é assim mesmo, um eterno conformado diante dos fatos.

Ah, não! Depois de tantos homens complicados, um "tanto faz" não estava nos planos de Tetê! Ela toma decisões o tempo todo por ela mesma – e agora pelo Beto Grude Gabbana. Ela escolhe galerias, artistas, molduras, ração para o Beto, champagnes, convites, roupas, sapatos, coleiras para o Beto, mestres de cerimônias, assessores de imprensa, brinquedos para o Beto, patrocinadores, logomarcas, pediatras para o Beto, funcionários, anéis, pulseira, brincos, pets para o Beto, perfumes, bolsas, restaurantes, tosas para o Beto... como lidar com um homem que precisa que ela faça as escolhas por ele?

Ela não quis escolher o barzinho, disse que preferia ir para a casa e ligar para ele na próxima semana. Advinha o que ele disse??? "tanto faz, você é quem sabe". E ela soube, e como soube! Soube que não há elegância que supere a falta de iniciativa de um homem. Soube que uma noite com o Beto Grude Gabbana é muito mais divertida do que uma noite com um homem que não se posiciona. Soube que não tem vontade alguma de "dirigir" uma relação. Soube que onde não há discussão não há glamour. Soube que odeia fazer o papel de homem, tendo ao lado um homem que faz o papel de mocinha comportada. Soube que odeia quando um homem telefona para ela quinze vezes por dia, ela pede para ele ligar dali a 10 minutos, e ele liga meeeesmo. Soube que homem que é homem, tem que bater de frente com ela. Competir com ela. Discutir com ela. Desafiar as vontades dela. Desobedecer as ordens dela. Responder à altura as provocações dela. Discordar dela. Guerrear com ela. Fazer confusão com ela. Atacar as idéias dela. Caso contrário... tanto faz para ela...

Voltou para casa furiosa por ter desperdiçado uma noite com o Dupont preto laqueado e chegou a conclusão de que esta era a gota d'água. Na verdade, esta era a cachoeira! Da próxima vez que um homem insistisse tanto, ela não deixaria mais o Beto sozinho, tadinho dele. Ele sim, tinha personalidade forte. Ele sim, olhava para ela como quem diz: ou me dá essa sandália que tem um saltinho gostoso de morder, ou para mim será a gota d'água. E Tetê, feliz e satisfeita, tirou dos pés sua Glória Funaro, satisfez o Beto e se sentiu em paz. Profundamente em paz. Até ligou para o ator ma-ra-vi-lho-so, de tanta paz!!! Com ele, as gotas d'água sempre foram outras... e ela queria uma bonança básica, que só ele tinha...


sábado, junho 21, 2008

Jump de uma, castigo de três

A semana foi intensa: reuniões todos os dias, planejamento de novas exposições, frio de O°, jantares... mas Tetê não descuidou da coisa mais poderosa que as mulheres têm: as amigas. Lembram das dorzinha "ali do lado, bem acima do quadril" da Drica? A amiga continuava se queixando e Tetê marcou um clínico geral de confiança, o famoso médico de família.

Drica explicou ao médico, bastante chateada, que a dorzinha chegara no mês passado e não ia embora de jeito algum. Doía para sentar, doía para dormir, doía para levantar, doía para dirigir, doía para andar. O médico fez trilhões de perguntas e trilhões de exames e finalmente localizou o exato lugar da dorzinha – Drica pulou quando ele colocou a mão exatamente no ponto, e ele deu de ombros, explicando que não era nada sério desde que ela tomasse alguns cuidados pois havia um problema num ligamento que tenderia a passar com o tempo.

Drica voltou da sala de exames e ouviu, aliviada, que não tinha nada sério e que se seguisse direitinho as recomendações o incômodo não tardaria a passar. No meio das recomendações, o médico perguntou o que ela fazia quando sentiu a dorzinha pela primeira vez. Drica, visivelmente nervosa e angustiada, gaguejou:
- Eu... estava fazendo jump...

Tetê se virou para a amiga com cara de quem viu um fantasma. Jump? Drica? Drica no Jump? Academia? Drica? Ginástica? Drica na Academia? Aquilo soava surreal demais... mas ficou quietinha ao notar que a amiga lhe lançou um olhar de súplica urgente, como quem implora por nenhum comentário.

O médico pediu a Drica que durante os próximos três meses não chegasse perto do Jump novamente e ela prometeu distância da atividade. Tetê olhou novamente para a amiga e viu uma lágrima rolando. Teve certeza, nesse momento, de que algo muito, muito, muito, muito errado mesmo estava acontecendo ali. Diante da lágrima da paciente, o médico se desdobrou em palavras gentis, garantindo que eram só três meses, que depois desse período ela deveria voltar lá para se certificar que o esforço pela abstinência da ginástica teria valido a pena. E a cada palavra do médico, Drica chorava mais. Até o momento em que Tetê decidiu acabar com aquela consulta depressiva, disse que ajudaria a amiga a se manter longe do Jump pelo tempo que fosse necessário, amparando-a em todas as recaídas, etc., etc., etc.

Saíram da sala do médico e Tetê perguntou que diabos Drica fazia numa academia fazendo Jump, e porque estava sendo tão difícil abandonar a prática que – pensava Tetê – a amiga abominava. E Drica, muito sem graça, contou que o Jump na realidade não era bem uma modalidade de ginástica, mas um garotão que conheceu recentemente, extremamente atlético, e que juntos praticaram atividades de altíssimo impacto... e agora, ela não poderia ter atividades nem de médio impacto durante três meses!

Que situação deprimente! Só havia uma atitude a tomar diante de tamanha desgraça: convocar as amigas loucas para uma noitada. E juntas, Tetê, Drica, Má e Lu foram afogar as mágoas e tomar um pilequinho homérico no Hermes. Saíram de lá altamente solidárias com a Drica, às 3 da manhã, meio miando, meio engatinhando, e prometendo que nenhuma delas praticaria atividades de altíssimo impacto durante o período de convalescença da Drica. No dias seguinte, as três acordaram em pânico: qual o castigo que teriam se quebrassem a promessa? Escondido da Drica, lógico... E Tetê ainda tinha o jantar com o Dupont preto laqueado dali a dois dias...

segunda-feira, junho 16, 2008

Elegâncias, sincronias e charmosos personagens em encontro na plataforma...

Em outubro do ano passado, YSL – em campanha de lançamento do Elle – criou uma ilha no Second Life, onde os visitantes podiam criar obras inspiradas no perfume. Elegantérrimo, optou por duas cores conhecidas na nova ambientação: verde e rosa.

No final de semana passado, elegantérrimo, Jamelão entrou numa viagem virtual – sem volta – saindo das cores de sua ambientação conhecida: verde e rosa.

Os dois eram paixões eternas de Tetê. Os dois eram estrelas. Os dois andavam com ternos personalizados. Os dois desfilavam. Os dois exalavam alegrias infinitas. Os dois eram fanáticos por suas artes e suas escolas. Os dois atraíam multidões. Os dois fizeram do mundo uma avenida mais charmosa. Os dois criaram tendências. Os dois confeccionaram conceitos. Os dois puxaram verdades. Os dois fizeram chorar. Os dois foram brincar na plataforma da estação (Primeira!) virtual.

Em Mangueira, quando morre um poeta todos choram. Na alta costura, quando morre um gênio, também. Se esses dois resolverem se encontrar na plataforma do Second Life será um escândalo. Tetê tem certeza absoluta que YSL olhará para o terno verde e rosa de Jamelão e reclamará do corte. Também sabe que Jamelão, no seu bom humor habitual, mandará YSL procurar sua turma. YSL oferecerá um champagne e Jamelão virará a mesa pedindo uma cachaça básica. No final do jogo virtual, no entanto, os dois sairão abraçados: YSL com os elásticos de Jamelão enrolados nos dedos. Jamelão com a gravata de YSL toda torta por cima do terno. Será que, como pioneiro e anfitrião na plataforma, YSL poderia fazer a gentileza de usar um terno branco e um chapéu de palha? Afinal, a música de Jamelão não é de levantar poeira...

quarta-feira, junho 11, 2008

ai-me-u-de-us-que nóóóóó

Mesmo morrendo de vontade de ir jantar com o Dupont preto laqueado, Tetê decidiu continuar sendo elegante. Prolongou o mais que pode o telefonema, até ter uma boa idéia. E teve: no dia seguinte ela havia se comprometido com a Drica para ver a Parsons Dance. No outro dia seguinte estava comprometida com o ator ma-ra-vi-lho-so. E no outro outro dia seguinte tinha um jantar com amigos. Ora! O Dupont precisava saber, desde o início, que ela não estava assim tãããão disponível (mesmo que estivesse beeeem disponível...). Optou por marcar o jantar para a próxima semana, e mesmo assim, ele achou ótimo. E Tetê achou mais ótimo ainda, pois o interesse dele só cresceu.

Tetê realmente foi ver a Parsons Dance com a Drica. Um frio de matar, mas as duas lá no teatro, firmes. O primeiro número não foi muito empolgante, o segundo também não... o terceiro também... mas veio um intervalo e elas saíram para tomar um café e decidir se ficavam ou iam embora. Ah! Ficaram! Eram vários bailarinos no palco, com coreografias que lembravam um pouco o Hair e, como disse a Drica, meio american way of life, e elas esperavam algo explosivo com Débora Kolker. Mas era um bom espetáculo, afinal. E começou outro número... e outro... e eis que de repente elas suspiraram simultaneamente.

No palco, sozinho, sem camisa, calça branca, um belíssimo exemplar masculino. Belíssimo não, o homem era perfeito. No tamanho certo. Na cor certa. Nos trajes (ou na falta deles) certos. Com movimentos certos. Era uma cena perfeita, inebriante, mágica. Aquele exemplar perfeito tinha a pele negra e os cabelos (again...) compridos (again...) presos com milhões de miçangas, que balançavam pra lá e pra cá de forma hipnótica para Tetê. O tempo parou ali e Tetê parou nas trancinhas com miçangas.

Tetê perguntou a Drica o que fazer para conhecer as trancinhas, mas Drica não respondeu, estática que estava. Foi tudo muito rápido, muito violento e explosivo. Nem Débora Kolker com o espetáculo Nó conseguiu prender tanto a atenção de Tetê em torno de nós como o tal bailarino com trancinhas com miçangas. Ela pensou que poderia rezar um terço naquelas miçangas. Que passaria horas desatando aqueles nós, naqueles cabelos. Que daquela noite em diante, seria discípula de Nossa Senhora Desatadora de Nós. Que se tornaria uma Bandeirante e aprenderia tudo sobre nós. Que aprenderia a pescar para dar nó de pescador. Que faria um curso de cabeleireiro no SENAC. Que faria especialização em cultura afro. Que estudaria ballet. Que mudaria para N.Y. e seria camareira da Companhia. Que se ofereceria para lustrar as miçangas dele todas as noites. Que aprenderia todas as músicas do Milton Nascimento. Aliás, iria até o Milton, pessoalmente, para analisar as tranças e as miçangas dele. Que se atualizaria em hidratação nos melhores salões de Ipanema...

Mas acabou o espetáculo e Drica fez Tetê voltar para a realidade. Não adiantaria ir até o camarim... o que dizer para o deus afro e suas tranças com miçangas? Eram onze e meia da noite, estava 2 graus lá fora e elas tinham que acordar cedo no dia seguinte. Sem tranças, sem miçangas, sem dancers. E, para completar, Drica estava se queixando de uma dorzinha bem aqui do lado, em cima do quadril. E era verdade pois Tetê notou que a amiga se remexeu bastante na cadeira durante o espetáculo, mas, egoísta e hipnotizada que estava, não deu a atenção devida para a dorzinha da amiga.

Tetê voltou para casa sem dancers, sem miçangas nem tranças, mas com duas incógnitas: o que tinha em casa com nós para ela desatar? O que seria a dorzinha da Drica? Tetê dormiu sem nenhuma resposta. Preocupada com a amiga e inteiramente enrolada com nós.