terça-feira, outubro 30, 2007

Victor Hugo: de objeto de desejo à delator

A noite chegou! Ele sempre mencionou um restaurante freqüentado pelo irmão. Dizia que era muito gostoso, bem freqüentado, uma comidinha ótima, um ambiente excelente. Tetê sempre quis conhecer, mas ele nunca a levou. Óbvio! Se o irmão ia, podiam se encontrar por lá e como ele explicaria uma mulher levada por ele a um restaurante tão maravilhoso?
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Tetê sabia o endereço do restaurante, e decidiu ir até lá sozinha, conhecer o irmão e a trupe toda, e seduzir um deles. Seria a vingança! Mas as coisas tomaram outro rumo...
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Ela já entrou no restaurante chamando a atenção de todos. Sorte! Havia um balcão logo na entrada. Como se estivesse em plena New York City e isso fosse a coisa mais natural do mundo (isso em Curitiba é impensável!!), ela sentou sozinha no balcão e pediu um bourbon sem gelo. O copo ainda estava chegando nas mãos do garçon, quando ele vê se aproximar um homem lindo, num terno maravilhoso e com um meiguíssimo Patek Philip capaz de fazer o punho mais rude parecer uma nuvenzinha de algodão...
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O diálogo foi curto e objetivo:
- Você está sozinha?
- Agora não estou mais.
- Posso te fazer companhia e me sentar aqui?
- Companhia, tudo bem. Mas aqui??? Você não consegue pensar num lugar melhor???
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No carro dele, Tetê mente que é telefonista de um consultório odontológico e que se chama Carol... Tudo para parecer simples e não deixar pistas. Enrola e pergunta se ele é arquiteto, afinal ela buscava o irmão do ser esquisito ou a turma dele, todos arquitetos. Ele era psiquiatra...
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Quando entrou no apartamento dele, Tetê perdeu o fôlego com as obras incríveis já a partir do hall. Espontânea e descuidadamente, comentou que aquela máscara de Guto Lacaz era de uma fase mais antiga. Ele perguntou como ela, uma simples telefonista, conhecia Guto Lacaz. Ela, engasgada e roxa por ser pega mentindo, inventou que seu "chefe" tinha uma daquelas!
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No meio da noite ele oferece algo para comer. Ela pede leite e biscoitos!!! Ele demora pra caramba, volta com o leitinho e uns biscoitos de chocolate, e ela resolve ir embora. Prefere chamar um táxi de seu próprio celular tentando não deixar pistas sobre a central que utilizava e voa para casa, num misto de vitória e arrependimento. Uma experiência como esta havia exigido uma coragem além do que ela imaginava ter.
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Entra em casa e seu celular toca, alguém pergunta quem é e ela responde que é a Tetê. E vem a sentença:
- Eu sabia. Além de ser psiquiatra e ter entendido seu leite com biscoitos, você deixou sua Victor Hugo autêntica no meu hall. Acha mesmo que eu não abriria, não ligaria do seu celular para o meu para gravar seu número, e não tentaria conferir depois? Se quiser conversar, estou às ordens!
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Bem, Tetê não se vingou mas é amiga deste homem até hoje! Jantam juntos uma vez por mês, trocam confidências, dão risada de tudo o que aconteceu e pensam em lançar um livro sobre como não deixar pistas quando se quer aprontar de monte por aí. Victor Hugo, quem diria...

sábado, outubro 27, 2007

A certeza ou indo direto ao ponto (de interrogação...)

Daquele aniversário para cá se passaram 2 anos. Durante o primeiro ano Tetê teve este homem por muitas vezes, sempre quando ele quis. Ela também tentou "querer" algumas vezes e não deu certo. Ligava para o celular e ele não atendia, até que ela lembrou que quando estavam juntos e o celular tocava, ele também não atendia... Percebeu logo que não havia uma outra, mas várias outras.... Neste ponto, a super-mãe tinha razão.
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O mais difícil de encarar no ser esquisito era o desleixo e o défict de atenção com que ele levava a vida. Por vida, entenda-se não telefonar a não ser que quisesse sexo, acordar de manhã e não escovar os dentes (que também não haviam sido escovados antes de deitar), não entender o que significam datas (aniversário dela, de namoro, do primeiro beijo), chegar num lugar onde ela estivesse e cumprimentá-la de longe só chegando mais perto no final da noite para ir pra casa – dela – quando ninguém mais poderia deduzir que eles estavam juntos, nas segundas-feiras contar tudo o que havia feito no final de semana (porque jamais passaram um final de semana juntos).
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Tudo acontecia porque Tetê colocou na cabeça que podia se bancar. Aturava tudo porque dormir abraçada com aquele homem que não soltava pêlos era ótimo, e ela tinha certeza de que ele ainda iria se apaixonar. Afinal, ela nunca cobrou nada, nunca telefonou (Lembram? Ele não atendia mesmo...), nunca perguntou, nunca demonstrou o que queria, nunca disse do que precisava.
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Ele se mostrou sensual em todos os encontros (que ele marcava, geralmente depois das 11 da noite). Divertido, bem humorado, de bem com a vida. Nunca encaixou Tetê em nada: seus amigos, seus programas, seu trabalho. Ela achava verdadeiramente que estava tudo bem: usava e era usada, o que caracterizava uma relação moderna... Ela achava!
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Viveram situações hilárias, gostosísimas e as vezes constrangedoras nas poucas vezes em que saíram juntos – como no dia em que estavam dançando numa boate gay, absolutamente bêbados, e ele resolveu abrir a camisa por causa do calor, causando em Tetê a sensação de que teria que sair no braço com todos os homens do salão, ou quando, num pub, ela retorna do banheiro e encontra uma adolescente sentada em seu lugar (ele tem loucura por adolescentes! Tetê nunca entendeu como o juizado de menores ainda deixava solta uma ameaça como essa!).
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As interferências meigas da super-mãe se intensificavam a cada dia. Tetê fazia de conta que não estava nem aí, mas sozinha, de madrugada, começava a se sentir incomodada e deprimida. Como ela, tão descolada, se permitia passar por tudo isso? Um homem mal resolvido que não tinha a mínima intenção de assumi-la, de levar uma vida mais estável, e uma louca enchendo o saco o dia inteiro, falando mal do próprio filho, tentando afastá-los em nome de um chavão babaca tipo me preocupo com você, falo porque sou sua amiga?
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Tetê tentou todas as fórmulas para largar o ser esquisito e sua mamãe dominadora. Os ataques se tornaram tão intensos, ele se tornou tão instável, que ela desmontou. Chorava o dia inteiro, a noite inteira, se afastou de todos os amigos e não imaginava a vida sem ele. Ele, obviamente, sentiu e fez o que qualquer idiota faria: esfriou! Esfriou tanto que chegou a dormir na sala uma noite inteira. Tetê se sentiu rejeitada e resolveu dar o troco, na moeda em que as mulheres conhecem bem....
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Amanheceu na Victor Hugo: um sandália e uma bolsa depois, deu de cara com uma camisa de babados branca des-lum-bran-te na Le Lis. A saia básica justíssima e com um recorte enorme do lado seria uma italianinha, do verão passado, mas que ainda servia!!! Almoçou no salão e saiu com luzes e uma fantástica escova de chocolate. E esperou a noite cair...

quinta-feira, outubro 25, 2007

Hiroshima & Nagasaki. No mesmo dia

Tetê passou o dia encantada depois que ele saiu. E ele saiu simplesmente, sorrateiramente, civilizadamente. Nada mais. Nada mais. Deu tchau e pronto. Nem uma palavra, nem uma alusão a noite que tinham passado, nada mais. Nada mais. Hum... lógico que não haveria uma segunda vez. Ele foi tão lacônico que Tetê não conseguiu sequer ter uma noção clara de que, ao menos, ele havia achado agradável. Mas ela achou agradabilíssimo, adorou a noite, a comemoração e ponto final. Ui. Ponto final, agora? Logo agora? Com este começo tão gostoso? Mas era isso mesmo! Estava feito, ela estava decidida a não procurar e não esperar por mais nada. Tinha conseguido o troféu.
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Ui. Ui. Ui. Será? Será que não podia rolar só mais uma vez? Uminha??? Bem... havia uma maneira gentil de saber: ligar para a super-mãe. Com a voz mais meiga do mundo, Tetê liga para a super-mãe, dizendo que se sente na obrigação de contar o que houve, em nome da amizade que as duas vinham desenvolvendo. A super-mãe escuta, pergunta detalhes que ela, envergonhada, tenta aliviar. Pergunta daqui, pergunta dali, Tetê escapa aqui, escapa ali, e meia hora de papinho depois: TÓÓÓÓÓÓIMMMMMMMM. A primeira bomba cai sobre Tetê sem dó nem piedade! Mamãe desaba a falar: gosta muito dela, acha que ela é a mulher perfeita pra ele, que ficaria muito feliz em ver o casal junto, mas ela precisa saber toda a verdade.
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Ele é um sem vergonha, mulherengo, cafajeste. Sai com todas as mulheres e adora as mais novinhas. Nada passa por ele sem que ele "trace". Ele está traumatizado pelo casamento recém acabado (dois anos atrás...), e nunca mais vai levar mulher nenhuma a sério. Agora mesmo, ele sai com uma cliente e com uma vizinha. Mas mamãe acha que tem uma terceira na jogada. Mamãe ainda diz que não é para Tetê se sentir mal, muito pelo contrário! Ela só deveria esquecê-lo para sempre, mas não precisava se culpar pela noite em que, descuidadamente, havia "cedido" à tentação.
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Tetê se desculpa, engasga, gagueja, tem vontade de tirar com pinça, um a um, todos os cabelinhos de mamãe, mas consegue ser gentil a ponto de convidá-la para jantar num restaurante badalado, quando encontraria um grupo de amigos para festejar "como se deve" o seu aniversário. Desligado o telefone, desligada a Tetê.
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No restaurante ela está mais calma, junto com os amigos, tentando esquecer a primeira bomba. Quando chega a segunda bomba! Super-mãe e seu rebento. Ela faz questão de sentar ao lado de Tetê, na realidade, entre ela e o seu filhinho. E a noite segue assim. Ele olhando para a super-mãe a noite inteira, como que pedindo licença para comer, sorrir, levantar, cumprimentar alguém. Aliás, cumprimentou Tetê como se fosse a primeira vez que a visse.
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Depois da chegada de Nagazaki, não resta nada mais a fazer senão aquele pileque homérico! A família feliz se despede beeeeeeem cedinho e vai embora – ele bem quietinho, cabecinha baixa, atrás dela. E Tetê bebe até de madrugada, tendo que ser literalmente carregada para casa. Não lembra nem por qual dos amigos ou das amigas. Mas lembra da sábia decisão: distância desta gente! Distância da super-mãe que a havia derrotado, e distância do PHD (essa ela viu no fantástico: Pobre Homem Dominado).

quarta-feira, outubro 24, 2007

The happy, happy, happy, happy, happissíssimo day after

Tetê acorda mais velha e…. em pânico! Olha em volta: pérolas, pijama de seda, tênis (dele), jeans (dele), camiseta (dele), blusão velho (dele), meias puídas (dele), bolsa de lona encardida (dele) e aqueles cabelos que saíam daquela cabeça... a medusa do Versace podia se morder de inveja que nunca alcançaria aquele grau de charme e de sofisticação!!!
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Tudo ali era muito bom! Ele era quentinho, fofinho, tinha uma preguiça crônica, um corpo beeeeem interessante, e o sonho dos sonhos realizado: não tinha pêlos! Ele não soltava pêlos, porque não tinha pêlos! Os poucos que tinha eram bem grudadinhos, e mesmo que caíssem, eram douradinhos!!! Não fazia sujeira, não entupia aspirador de pó, não grudava no lençol!!! Ali estava, espalhado na cama, um ser esquisito gostoso e perfeito!!! Nunca mais Tetê ia trocar de homem novamente. Onde achar tanta coisa boa junta?

terça-feira, outubro 23, 2007

A happy, happy, happy, happy birthday....

Tetê está a-b-so-lu-ta-men-te tranquila ás 11 da noite! Espera tudo. Espera nada. Já trocou de roupa 28 vezes. Tentou um vestidinho de renda branca, um pretinho básico Versace, jeans e camiseta, uma saia italiana justíssima com camisa de seda transparente, só o roupão branco felpudo, camisola extremamente sexy, terninho de linho. Desistiu de tudo e optou por um pijama de seda peróla. Bem clássica, com um fio de pérolas no pescoço e vááááários fios de pérola no braço, uma lingerie também pérola, rendada, bem comportada.
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As 11:30 o interfone toca e ela surta: o ex, o deus grego, havia deixado uma encomenda na portaria, e o porteiro avisa que está colocando no elevador. Tetê abre a porta e dá de cara com um pacote enorme e pesado. Consegue arrastar a caixa para dentro da sala e tem uma surpresa! Era um jogo de jantar lindo, igual ao que ela havia dado à ele, quando terminaram. Dado... bem, na época ele resolveu montar um apartamento novo e disse que adorava o jogo de jantar dela. Ela, para se livrar logo da situação, embalou o que tinha em casa e despachou para o novo endereço dele. Agora, ele retribuía...
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Enquanto lembra com carinho dos cuidados que o deus grego lhe dispensava, o celular toca: o ser esquisito pergunta qual é mesmo o seu endereço. Faltavam 10 minutos para a meia noite e Tetê amaldiçoa aquele homem. Como ele podia ser tão desligado? Estivesse onde estivesse, ele perderia a meia-noite! Ela repete CAL-MA-MEN-TE o nome da rua, o número do prédio e do apartamento (já era o apartamento novo, que esperava por uma belíssima estréia). Ele ouve a confirmação do endereço e pede, simplesmente, que ela abra a porta – ele havia acertado...
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Tetê olha para a caixa de louça no meio da sala, para o celular na mão, para o look do pijama e das pérolas, e abre a porta. Ele abre os braços (Vazios! Óbvio que não havia nem um presentinho!) e entra. Na casa e na vida da Tetê.
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Ela tem o aniversário mais louco e lindo de sua vida, e a certeza de que estava literalmente perdida. Apaixonada. Louca. Histérica. Feliz. Embananada. Por azar, ele supera todas as expectativas e demonstra ser muitíííííssimo melhor do que ela imaginava, mesmo em seus sonhos mais doidos.

segunda-feira, outubro 22, 2007

A pré-estréia e a primeira impressão sobre o cérebro (dele!)

Pois é, foi quase. As horas iam passando, os convidados se retirando, os elogios bailando e aquele homem por ali, cercando, prometendo sem palavras, olhando e desviando o olhar e, às vezes, sumindo. É isso, ele tinha uma habilidade que desafiava todas as leis da física: desmaterializava instantaneamente os longos cabelos e momentos depois, voltava sem explicação (característica, aliás, que ele repetiria em todas as outras áreas e situações...).
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Como ele não tomava nenhuma atitude e Tetê estava cada vez mais louca, tomou ela uma atitude desesperada: convidou a super-mamãe para uma esticada. Como toda super-mãe, ela levaria o rebento. E levou outro amigo junto. A cada vez que Tetê olhada para a super-mãe, tinha a impressão de escutar aquela mesma ameaça de uma forma sobrenatural não ouse se aproximar do meu filhinho. Mas Tetê, cética que era, ignorava toda e qualquer mensagem do além. Pelo menos até chegarem no restaurante. Sentada no meio, entre o ser esquisito e a super-mãe, Tetê sente uma mão nas suas pernas. Instintivamente, olha para a super-mãe e ouve, em alto e bom tom, pra não deixar dúvida: Meu filhinho está passando a mão na sua perna???
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Tetê sente um calafrio terrível e resolve enfrentar a bruxa: Está sim, e eu estou adorando!!!. Tinha acabado de assinar sua sentença de morte, coitada... Ele, por sua vez, não se posicionou e riu de forma desajeitada e nervosa. Nem por isso, tirou a mão das pernas de Tetê. O jantar rolando, o vinho correndo solto e o mal estar entre ela e a super-mãe crescendo. Ele, com a mesma mão na mesma perna. E nada mais. Nem um convite, nem uma dica.
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Por alguns segundos, Tetê imagina que é melhor desistir de tudo. E resolve ir embora, pedindo carona para o amigo da super-mãe. Tcham! O ser esquisito dá uma de macho e diz Eu vou junto. Todas as esperanças renovadas e Tetê se despede de mamãe com ares de vitória.
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No carro, ela senta na frente (lógico) e ele atrás. Ele puxa Tetê pelo cabelo, dá um beijo e avisa ao motorista onde é sua casa. Que ótimo! Conhecer a casa de um homem no primeiro encontro é tudo de bom! O motorista pára na frente do prédio e ele desce. Tetê abre o cinto de segurança enquanto ele chega perto dela, na janela, e diz então tá, a gente se vê. E vai embora. Vai embora! De verdade! Ele vai embora deixando Tetê e o amigo ali, parados, abobalhados, extasiados diante de uma situação surreal daquelas. O amigo, gentilmente, pergunta a Tetê onde pode deixá-la, se ela precisa de alguma coisa, se quer tomar um pileque, tentar o suicídio ou ir a um parque de diversões.
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Quando chega em casa, Tetê está decidida a caçar aquele homem pelo resto de sua vida. Nunca, nunquinha, alguém havia feito isso com ela. Se joga na cama e dorme vestida, de ódio. No dia seguinte agüenta até a hora do almoço, quando sabe que a super-mãe não estaria por perto. Liga pra ele, pede que ele anote um endereço e avisa: Na próxima quinta é meu aniversário. Quero você de presente, uns cinco ou dez minutos antes da meia-noite. Obrigada e até lá.

domingo, outubro 21, 2007

A mais adolescente-James-Dean das sensações

Tetê teve trilhões de pesadelos com a super-mãe e com o super-filho do ser esquisito durante os 15 dias que se passaram desde a caroninha básica. Enquanto rebolava pra descolar uma oportunidade de vê-lo novamente, Tetê reviveu todas as situações difíceis de sua vida: da perda do pai aos apertos financeiros, perdas de empregos, amigas, amores. E chegou a conclusão de que depois de uma vida inteira arcando com situações pesadas, não era um casinho desses que poderia derrubá-la. Nem um super-filho, nem uma super-mãe, nem uma provável ex-super-esposa. Afinal, ela não queria casar com o ser esquisito, queria somente provar um homem tão diferente que a estava tirando do sério. No máximo, seria uma noite (ou várias...) de sexo casual. No fundo ela sabia que suas vidas eram inteiramente diferentes, que freqüentavam lugares e pessoas absolutamente incompatíveis. Em nenhum momento, poderia pensar em compromisso e perenidade com aquele adultescente.
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Tetê está enlouquecida: acabando de reformar o apartamento novo e montando uma exposição importante. A obra está pra lá de atrasada e ela precisa entregar o apartamento antigo. No mínimo, vai ter que alugar um depósito para a mudança e passar uns dias num hotel. Ainda por cima, está no seu inferno astral. A exposição, por sua vez, está no prazo, mas é imensa e ela é perfeccionista: do coquetel ao mestre de cerimônia, das molduras aos convites, ela supervisiona tudo pessoalmente. E sempre fica absurdamente nervosa na semana que antecede um vernissage. Agora estava duplamente nervosa, pois lembrou de telefonar para a super-mãe e convidar a família... e a super-mãe garantiu a presença de todos. Tetê pensa, novamente, ter ouvido a ameaça não ouse chegar perto do meu filhinho, mas esquece. Imagine, uma senhoura tão respeitável, ameaçá-la desse jeito... só podia ser sua imaginação (ou a implacável intuição feminina!).
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No dia da abertura, um frio dos diabos. Tetê odeia o frio, pois não concebe que em Curitiba alguma mulher possa ficar elegante num casaco pesado. Em Nova Iorque seria diferente: um vestidinho leve e o casaco por cima. Em Curitiba, com a falta de calefação, o vestidinho leve é uma doce lembrança do verão. Aqui são necessárias blusas e mais blusas, quatro meias, botas, cachecol, luvas. E o conjunto nunca é interessante ou confortável o suficiente. Mas ela não desanima e opta pelo preto e azul turquesa, inclusive nas jóias. Ah! Aquele bom e velho anel de turquesa com diamantes!!! Casando perfeitamente com o casaco e com as intenções....
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Tetê recebe as autoridades e os artistas com naturalidade e eficiência. Está segura e satisfeita – mais um grande evento de sucesso. Segura até o momento em que ele aparece... no meio dos ternos e capas chiquérrimas, lá está ele de tênis, cabelos ao vento, dois blusões de lã cheios daquelas bolinhas ridículas que aparecem com o uso e com o desleixo... mas nada disso importa, lá está ele! O ser esquisito! Esquisitérrimo naquela noite! E mais desejável do que nunca. Ela juntou todas as suas convicções e decidiu que daquela noite, não passava. Ela não sairia dali assim, sem provar o emaranhado daqueles cabelos. Para o inferno a super-mãe e os artistas! Para o inferno o anel de turquesa e as convenções! Para o inferno aqueles homens "normais" que a estavam cantando! Tetê queria o ser esquisito naquela noite e nem um dia a mais de espera seria tolerado!

sábado, outubro 20, 2007

A eletricidade, a super-mãe e o super-filho

O fato já era irreversível: Tetê queria aquele ser esquisito como jamais quisera outra coisa na vida. De nada adiantou a série de alarmes vermelhos que se seguiu nos intermináveis 30 dias e 30 noites que se passaram, até que pusesse os olhos nele novamente. De nada adiantou, inclusive, saber que o ser esquisito tinha uma mãe poderosa. Homem com mãe poderosa era problema na certa, mas Tetê estava decidida. E foi justamente por causa da mãe que ela reencontrou o ser esquisito num fim de tarde.
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A super-mãe estava interessada na compra de um quadro e chamou Tetê para negociar. Modernéssima, num jeans pra lá de desbotado, bolsa carteiro e cabelos charmosamente desarrumados, Tetê chega na casa da super-mãe, negocia e toma baldes de café durante 2 horas até sair com um prejuízo homérico, mas aproveita a oportunidade de carona que o ser esquisito oferece. Carona, quer dizer, no carro de um casal de amigos que estava na casa, porque é óbvio que ele não tinha carro. No banco de trás, ao lado dele, a eletricidade percorre Tetê por inteira, e ela acredita que está no paraíso sendo deliciosamente eletrocutada. Mas o desastre não tarda: no caminho, o casal para numa bela casa e de lá surge... o filho adolescente do ser esquisito!
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Tetê não entende nada: adolescente não era ele??? Como um adolescente poderia ter ele um filho tão adolescente? A pergunta ainda deixava Tetê atordoada quando o pior aconteceu: ele desce do carro para o filho entrar... no meio dos dois. Onde foi parar a eletricidade? O que tinha acontecido para que ela fosse expulsa sumariamente do paraíso? Seria possível que ele não tivesse sentido aquela onda de calor, de urgência, de delícias? Pela primeira vez Tetê pensou que ele não valia a pena e pela primeira vez, amaldiçoou a super-mãe. Tinha certeza que por trás daquela queda, tinha um dedinho da bruxa.... Se não estava enganada, ao sair, mamãe havia lançado um olhar fulminante e murmurado algo como não se meta com meu filhinho, de forma a não deixar dúvidas sobre quem mandava no pedaço... grrrrrrrr

quinta-feira, outubro 18, 2007

O "ser esquisito"


Pois bem... estava Tetê se "recuperando" de um caso selvagem com um deus grego. O caso de cinco anos havia sido publicamente divulgado. A cidade inteira comentava a união: ambos competentes, poderosos, freqüentadores de rodas intelectuais (ou de círculos concêntricos...), rodeados de sucesso profissional e pessoal. Os olhos verdes do deus grego faziam as mulheres tremerem rapidamente onde quer que chegasse. Rapidamente porque, logo atrás, aparecia Tetê, chiquérrima, metida, exibindo aquele homem (homem não, era um verdadeiro troféu) enorme e deslumbrante. Aí as mulheres paravam de tremer rapidinho! E Tetê desfrutava sozinha de tudo aquilo.
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Mas cinco anos foram suficientes. O amor selvagem fica manso, o verde dos olhos começa a deixar Tetê mareada (ainda não era labirintite!), as conversas perdem o brilho e Tetê, finalmente perde o interesse. Está novamente no mercado, analisando as possibilidades com outros seres do mesmo quilate. Causou um certo furor e uma certa fúria: como uma mulher deixa um homem assim, tão maravilhoso, de uma hora para outra? E se esse homem ficasse traumatizado e decidisse passar um tempo sem outra mulher? Que chances teriam as outras durante o período de recesso deste homem? Essa era, verdadeiramente, uma atitude injusta em relação à humanidade (feminina)? Mas nada podia ser feito. Para Tetê, o final era irreversível, ela tinha, definitivamente, perdido o olhar no horizonte.
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Um maldito dia, Tetê avista um ser esquisito, num lugar esquisito, rodeado de pessoas esquisitas: alguma coisa de bermuda, tênis, cabelo comprido e desgrenhado. Alguma coisa que lembrava adolescência distante ou atual filho de amiga em fase pré-vestibular. Alguma coisa assim, amorfa, démodé, fora de linha, final de estoque ou de século. Sabe-se lá.
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A única coisa que ela lembra foi de pensar que o mundo estava mesmo perdido. Como a era pré-jurássica se manifestava assim, na sua frente, sem o menor senso de evolucionismo? E Darwin? Onde diabos havia se enfiado Darwin, perdendo um exemplar destes, fora de sua época e de seu habitat? Teria ele previsto, no mais recôndito de suas teorias, que um fóssil pudesse respirar? Ou seriam as enlouquecedoras teorias da física quântica, com seus mundos paralelos e suas hipóteses de decaimento radioativo absolutamente randômicas, que estavam a povoar o mundo de forma mais que experimental?
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O fato é que, diante do pavor explícito provocado pela visão do ser esquisito, Tetê sentiu o alarme vermelho tocando. E o alarme vermelho de Tetê compilava todos os piores riscos conhecidos: curiosidade, tesão, desafio, urgência, quero agora, por que não eu, impossível viver sem, vital ir pra cama agora, não tenho camisinha na bolsa, não dá pra esperar até amanhã, etc. Ela estava, definitiva e irremediavelmente, em questão de nanos-quânticos-invisíveis-indivisíveis-onipresentes-milésimos-de-segundos, perdidamente apaixonada. Como nunca estivera em sua vida! E a coisa era séria! Ela desprezou Darwin e jurou pra si mesma que o criacionismo explicaria todo aquele tesão, sem a menor sombra de dúvida.

terça-feira, outubro 16, 2007

The friends

A vida, os relacionamentos e as situações sempre foram muito divertidas, tanto in loco, como nas rodas de conversas com as amigas. Toda experiência era compartilhada em mesas de bar, nos finais de semana na praia ou na fazenda, nos restaurantes da moda (freqüentados, obviamente, por belíssimos executivos com belíssimos ternos) com aquelas mulheres que passavam pelas mesmas experiências (não necessariamente com os mesmos homens, se bem que, coincidências... houve algumas, sim).
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Só que amigas são amigas. Principalmente quando passam pelas mesmas merdas, sentem as mesmas coisas, tem a mesma idade, usam as mesmas grifes, assistiram Hair e suspiraram na valsa com os namorados na noite de debutantes do Clube Curitibano na década de 70. Quando as amigas são normais, parece que tudo se resolve. Mesmo as broncas entre elas são absolutamente irretocáveis. Mesmo quando uma diz pra outra que o botox está vencido e que aquele vestidinho da Maria Bonita está puído. Quando uma fuzila a outra com o olhar se, ao experimentarem a mesma calça, uma precisa de um número menor. Até mesmo quando uma delas consegue o último pote de creme da Lancôme da prateleira, deixando um Avon básico pra que foi mais devagar...
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Amigas que são amigas, são assim. Podem passar a vida se degladiando e concorrendo uma com a outra, mas quando uma leva um tombo... todas se unem querendo promover uma passeata nacional contra o desgraçado que não ligou no sábado à noite.
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A Tetê sempre teve amigas qualitativa e quantitativamente maravilhosas. Desesperadas como ela para viver a vida, estar à margem de situações de risco emocional, enlouquecidas pelas dietas da moda e um tanto avessas à academias torturantes de ginástica (Tetê e as amigas são da antiga: a geração saúde é depois delas. Beeeeem depois delas). Tetê sempre encontrou nas amigas a solidariedade feminina, e com a presença delas, nenhum homem – até três anos atrás – conseguiu deixá-la abraçada ao edredon e a bacia de pipoca mais do que um final de semana.

sábado, outubro 13, 2007

No sex in the no city

A Tetê é assim: passou dos 45 e mora em Curitiba.
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Solteira, independente, empresária. Emocionalmente oscila na mesma proporção de suas roupas – perfeitamente capaz de sair numa segunda-feira de jeans surrado, sandália rasteira e pulseiras de plástico colorido, e na terça se enfiar num tailleur de seda, bolsa Louis Vuitton e um básico anel de 4 cm de largura cravejado de diamantes. Muito casual.
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Já rolou um plástica aqui, um botox ali, e tirando os ataques noturnos a caixas de bombons, consegue manter um corpinho beeeem melhor do que o de algumas menininhas de 20. Celulite sim, mas quem não tem? Barriguinha? Algumas roupas denunciam algo muito light, mas nada que algumas sessões de abdominais (abomináveis...) não resolvam.
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É seríssima no trabalho. Marchand reconhecida, competente, agenda cheia. Dinheiro? Ainda engatinha: é filantrópica e politicamente correta em demasia pra ser rica. Banca seu estilo, paga suas contas, dá bandeiras legais. Só entra em crise quando aparece um novo lançamento na Le Lis Blanc, Elle et Lui, Victor Hugo, Natan e, claro, Louis Vuitton. Quem não entraria em crise profunda diante de situações asisim? Alguém conhece algum gerente de banco sensível o suficiente e que venha em seu socorro num momento dramático e urgente como este? Para gerente de banco, "vital" é conta de maternidade.
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Tetê já namorou muito. Aos 15 ficou noiva de um surfista. Aos 17 descobriu que o surfista era gay. Mais umas bandas por aí e aos 19 resolve casar com um primo. A família tem um enfarto coletivo e ela é mandada para a Europa, como convém a toda boa família e a toda boa moça da época. Na Europa, ao invés de colégio interno, conhece um banda de rock que viajava naqueles ônibus coloridos e desconfortáveis, fazendo shows em fazendas, aldeias e – juro – grandes teatros. Tetê segue em grandes turnês e volta para o Brasil 9 meses depois, quando acaba a grande paixão pelo vocalista.
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Absolutamente "madura" depois da experiência musical, se encanta por um cientista. Lá se vão longos – deliciosos – 7 anos de intelectualidade e experimentalismo quântico. Bom, bom, bom! Madrugadas de fórmulas e livros, palestras e conferências, teorias e boa diversão. E finalmente, um bom sexo. Agora, um sexo maduro. Agora, a entrada no mundo adulto e no entendimento deste mundo. Agora, sim, uma sensação de serenidade. Agora, definitivamente, Tetê conheceu o homem. Pena que foi o único! O último homem normal do mundo!
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De lá pra cá, um desastre ecológico depois do outro: um professor universitário cético, que largou tudo pra se tornar umbandista; um vendedor de livros (!!!) que tinha 5 filhos, quase todos adolescentes; um publicitário falido que se enfiou no apartamento e só saiu com a presença de um advogado; um artista plástico que, pela manhã, levava no bolso os restos de pizza que ela pagava no jantar; um menininho (de verdade, 19 aninhos) que vendia pão integral no prédio; um amigo de infância que era ótimo de cama mas com tantos pelos no corpo que deixava a casa como um velho casaco de pele preto todos os dias; um ator ma-ra-vi-lho-so que durante dois anos nunca tirou as meias pra transar... e por aí afora.