terça-feira, novembro 27, 2007

Representação gráfica do cérebro da Tetê

Depois de tudo, Tetê conseguiu me explicar como se sentia me enviando essa imagem: essa era sua cabeça. Um misto de explosão com muita fumaça em torno dela. Ela sabia agora o que significava uma enorme confusão. E sabia também o sentido da palavra definitivo.
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Tetê sentia saudades dela mesma, das suas amigas, dos seus programas. Sentia saudade de ir ao teatro, ao cinema ou ao shopping, nos bons e velhos tempos em que não ficava em casa grudada no telefone ou verificando de cinco em cinco minutos as mensagens do celular. Dos dias distantes em que ia trabalhar e deixava a casa desarrumada, pois não esperava ninguém. E se alguma visita chegasse de repente, teria que se adaptar à sua bagunça. Da liberdade de desligar o aparelho de som com qualquer cd dentro dele, sem a estratégia psicótica de deixar somente os que ele gostava de ouvir, se por acaso aparecesse repentinamente.
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No fundo, Tetê sentia saudades de sua vida, de sua casa, de seus horários, de suas canecas de nescafé com leite frio, dos arquivos de seu computador, das sacolas de boutique dançando pela sala e indo até o quarto, de deixar a cama desarrumada e de não lavar todas as xícaras antes de sair. Sentia falta do tempo em que vivia para ela e não para ele. E da extrema felicidade de estar viva, que parecia ter ido embora para sempre.
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Ela havia decidido ligar todos os ventiladores do mundo para sumir com essa fumaça o mais rápido possível! Sabia que somente uma força de vontade imensa faria tudo aquilo desaparecer como que por mágica. Mágica??? Não, ela não era mulher de ficar parada esperando que a vida desse um jeito em tudo, como uma beata que senta e reza horas a fio. Ela decidiu colocar a mão na massa e se virar!!! Tomar alguma atitude que funcionasse como um remedinho gostoso e sofisticado, nada daqueles xaropes amargos que reviraram o estômago e serviam para qualquer uma. Tetê não era qualquer uma.
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Pensa daqui, pensa dali, folheia livros da Clarice Lispector, dá um pulinho em Madame Curie, passa por Danusa Leão e Marcelo Gleiser (talvez na física quântica...), visita Fernanda Young, se agarra com os Carls conhecidos e amados – Sagan e Jung – e de uma hora para a outra, chega um insight: no dia seguinte vai se inscrever numa dessas agências de casamento!!! Pelo menos nos filmes e nas lendas da Internet, isso funcionava...

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