domingo, julho 27, 2008

Primeiros sintomas

Tetê está absolutamente reclusa! Debruçada sobre o conteúdo da caixa preta, afundada em milhares de símbolos, gravações, vozes do passado, análises das situações e conteúdos subliminares que pulam da caixinha a cada nova olhar.

Me atrevo a dizer que ela está, inclusive... revendo suas convicções ateístas! Pelo que Tetê diz ultimamente, a caixinha não é só preta, mas é também mágica! Tetê jura que todas as vezes que olha para ela, os conteúdos se multiplicam, mudam de cor e de textura... não sei se não é chegada a hora de forçá-la a uma consulta psiquiátrica emergencial ou um SPA...

Ela conta que durante os últimos dias sentiu coisas "estranhas". Como se o dono da caixa preta estivesse sempre presente. Diz ela... que ouve a voz dele durante o dia todo. Que sente o cheiro dele até no banho. Que percebe a respiração dele enquanto escova o Beto, sozinha em casa. Diz ainda (cruzes...) que se sente manipulada de alguma forma, que os mais variados sentimentos vão e voltam completamente desordenados, como se ela estivesse perdendo definitivamente o auto-controle (por que será que essa parte faz sentido?).
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Ela jura de pés juntos por exemplo, que durante uma reunião com colecionadores de arte, tem vontade de largar tudo, fazer um capuccino e levar para ele. Conta que enquanto escolhe um sapato pela manhã, tem vontade de se atirar nos braços dele. E tem coragem de afirmar que, enquanto passeia pelos corredores do supermercado, se imagina voando até ele, só para fazer um cafuné inocente, prá lááááá de básico.

Hoje, ao abrir a caixinha mágica (eu, hein...) ela afirma que um objeto levitou até a altura dos seus olhos. Ela só podia ver o verso do objeto, que delicada e lentamente, foi chegando pertinho dela, virando, virando, virando, até ser reconhecido: era um controle remoto, com botões que acionavam funções absolutamente diferentes de qualquer outro controle conhecido. Então ela entendeu: o que ele fez foi justamente isso... construiu um aparelhinho especial, para acioná-la a distância quando bem entendesse.

O pior ainda está por vir... ela diz que está adorando ser acionada a distância!!! Se fosse outro homem qualquer, com certeza ela teria virado a mesa, mandado passear ou simplesmente parado de sorrir e de falar (ela pára de sorrir e fica absolutamente sem assunto quando um homem não a interessa mais. Coisa de louco mesmo, pois acontece em questão de segundos). Mas é ele. É o homem que tem como palavra chave o equilíbrio. O homem que construiu um aparelho e uma história. Para ela, com ela. E que tira dela alguns medos conhecidos, incômodos.

Bem... Tetê até pode perder o medo. Mas significa que o mundo em volta dela deve começar a ter medo do que pode vir por aí, se essa louca continuar sendo "acionada a distância"...

sexta-feira, julho 25, 2008

Um carro na chuva

Faz uns 8 anos mais ou menos. Gustavo, grande (grande, grande, grande, grande, grande) amigo de Tetê estava fazendo um curso em Londres que durava um ano e meio. Tirou duas semaninhas de folga e veio ao Brasil, trazendo um presente para Tetê. Ligou num dia de chuva imensa, disse que estava pertinho do prédio dela e queria um jantarzinho rápido, pois ainda precisava visitar trilhões de pessoas. Pediu para Tetê descer voando.

Tetê desceu voando! Mas ainda teve tempo de perguntar com que carro ele estava, e ele inocentemente informou: um Honda Civic prata. Ele só esqueceu que Tetê não entende coisa alguma de marca de carro!

Ela desce no meio do dilúvio, com uma sombrinha enooorme que não resolvia nada. Um carro prata estaciona bem na frente do prédio e ela desliza (nada) pelo escuro, abre a porta e se joga nos braços do amigo. Ouve um grito... larga do pescoço do Gustavo para ver o que estava acontecendo, e quase enfarta: não era o pescoço do Gustavo...

O homem dentro do carro estava branco de susto. Aguardava o irmão que morava no mesmo prédio e nunca esperou ser agarrado por uma louca alagada e efusiva daquelas. Desculpas vão, desculpas vêm e ela sai do carro arrasada de vergonha. Atrás, um outro carro prata, mas ela faz o motorista abrir a janela antes de entrar. Era, agora o Gustavo. E eles vão jantar morrendo de rir.

Quando Tetê volta o porteiro a esperava com orquídeas. No cartão, um óculos desenhado e o número do telefone. Pois é... o "agarrado à força" desceu e aproveitou que o irmão morava no prédio para conseguir os dados de Tetê. Ela obviamente ligou para agradecer e eles saíram por alguns meses. Foi gostoso, mas assim que a estação das chuvas recomeçou ela achou melhor dar um final digno e seco naquela relação que não era assim, digamos, tão inundada de paixão.

Ontem, saindo de um museu, ela deu de cara com o "agarrado à força", que queria porque queria o novo endereço dela! Foram 25 longos minutos para tentar sair com classe daquela situação. Nada convencia o "agarrado" que ele assim, durante o dia e sob o sol, não fazia diferença alguma. Como com classe não rolou mesmo, foi preciso explicar que ela estava ocupadíssima com análises e laudos de uma caixa preta. O "agarrado à força" então, pediu milhões de desculpas, pois não sabia que ela tinha parentes no último acidente aéreo. Inteligente ele, não?

segunda-feira, julho 21, 2008

Caixa Preta: onde mora a verdade (nem sempre divulgável!)

Tetê teve um jantar muitíssimo gostoso com... bem, vamos esperar um pouquinho pra contar – pedido dela. Deve ser pra não dar azar, atrair olho gordo ou coisa parecida, vai saber! O fato é que o jantar foi gostoso de verdade. Saíram pelas ruas assim que escureceu e procuraram um restaurante chinês (os dois odeiam comida japonesa, sushi, pauzinhos e afins).

O papo rolou solto, como sempre. Sensação de familiaridade. Como na música: aquela velha amizade, aquele papo furado todo fim de noite, num bar do Leblon, meu deus do céu, que tempo bom! Tanto chopp gelado, confissões à beça...

O fato é que quando estão juntos se sentem mesmo no Leblon, em New York, em Cannes, em Londres. Como se fossem, os dois, absolutamente universais e elegantes mesmo metidos em jeans justos e desbotados, andando pelas ruas de Curitiba. De sobremesa, Nhá Benta na Kopenhagen dentro de um shopping. E vitrines. E presentes para o Beto: perfumes de morango e chocolate (que o deixaram irresistível!!!) e uma linda centopéia branca, da qual ele não se separa.

Ele fez questão de promover a entrega da centopéia branca pessoalmente para o Beto. Quer dizer, não deixou – como sempre – Tetê na portaria. Beto amou. Tetê amou. E ele pediu para acessar e-mails. Tetê o deixou sozinho no computador, pois não queria violar a intimidade dele e de suas mensagens eletrônicas. Logo em seguida se despediu. E entrando no elevador, confidenciou que ela encontraria uma surpresa no computador.

Ela atravessou o corredor voando e encontrou uma série de vídeos sobre Prada, Jimmy Choo, René Caovilla, Dior! Que lindo! Que atencioso da parte dele! Mas, o mais lindo de tudo foi um presentinho deixado ao lado do computador dela! Era uma embalagem preta, clássica, verdadeira. Com uma mensagem subliminar pra lá de profunda. Ela chorou de emoção: ele havia, finalmente, decidido abrir a caixa preta e a deixara elegantemente, em repouso, ao lado do computador de Tetê. Aí chega o segundo pedido de sigilo dela: não revelar, por enquanto, o conteúdo da caixa preta. Louca ela, não?

Possivelmente o conteúdo da caixa preta dele vai passar por um lento relatório e análise técnica dela. Mas ela adianta que esse tipo de conteúdo responde exatamente a pergunta da música: Onde foi que ficou? Aquela velha amizade, aquele papo furado todo fim de noite num bar do Leblon...

É. Ele mostrou onde ficou. E resgatou, com confissões à beça!

quarta-feira, julho 09, 2008

Eu tive um sonho ruim e acordei chorando, mas não te liguei

Reprise da novela Pantanal. Logo no início, Juma Marruá – a mulher que vira onça diante dos perigos da vida – sente muita dor e chora. De repente, dá uma parada básica e, com aspecto grave, promete:
- Nunca mais vou chorar nessa minha vida.

Tetê sonhou a noite inteira com uma determinada pessoa. Acordou às 4 da manhã, assustada. Resolveu arrumar gavetas e achou umas fotos antigas. Sentiu muita dor e chorou. Chamou o Beto:
- Diz pra Juma que eu também.

Beto Grude Gabbana assentiu com a cabeça, latiu duas vezes, virou as costas e sumiu no escuro da sala.

terça-feira, julho 08, 2008

Semana internacional do vestido

Tetê chegou em casa ontem e soube que a greve dos Correios não atingira os trajetos internacionais: um grande pacote a esperava na portaria. O remetente era o cientista (quanto tempo!!!). Desde fevereiro ela tinha notícias dele.

Desde o nascimento do Beto Grude Gabbana, Tetê não consegue chegar em casa e abrir sua correspondência nos primeiros 40 minutos, pois ele monopoliza toda a atenção e ataca todos os pacotes e envelopes. Portanto, mesmo curiosa, atendeu a todos os latidos, lambidas, mordidas e gracinhas do Beto que nessa semana pegou um porco de borracha alaranjado pra Cristo. Enquanto ele não conseguiu que Tetê jogasse o porco de borracha alaranjado pela casa inteira para que ele devolvesse o brinquedinho todo babado (por mil vezes seguidas), não sossegou. Quando enfim perdeu o interesse pelo porco alaranjado, sentou bonitinho em frente da televisão ligada no Discovery Kids (ele ama!) e Tetê pode, exausta, pegar uma taça de vinho e abrir o pacote bááásico.

Que sorte! Ela estava sentada, caso contrário teria caído dura no chão. No pacote um vestidinho vermelho francês, drapeado, que ela não via desde 1990... quando desmancharam o apartamento no Rio, o cientista foi morar em N.Y. e ela em Curitiba (um desastre, ela sabe disso). Ela embarcou antes para o sul para não ter que se despedir dele no aeroporto. Aeroporto, para os dois, tinha um significado especialíssimo, se vocês lembrarem da forma como ele a pediu em casamento. E já que ele embarcou uma semana depois dela, sobrou para ele resolver as últimas situações práticas da vida a dois que chegava ao fim. Uma dessas situações incluiria uma visita à lavanderia de Ipanema, mas Tetê não lembrava disso. Apagou completamente de sua mente as coisas lindas que deixava para trás, inclusive esse vestido vermelho deixado na lavanderia, depois de um jantar belíssimo de despedida no Copa, que era o lugarzinho que os dois adoravam.

No bilhete que caiu do vestido, a letra conhecida: "O perfume que você usava em 1990 era muito ruim, pois desde a semana passada ele sumiu completamente do seu vestido. Seu vestido, portanto, perdeu a função no meu guarda-roupa. Se quiser reavivar o aroma, veste que eu te espero na Marquee, na 10th. Me diz quando".

Tetê lembrava da Marquee... uma boate gostosa que tinha uma curiosa escada em forma de arco, da qual eles quase caíram depois de beberem todas! Mas não estava em seus planos viajar agora, ela estava atolada de trabalho. Ligou para ele, agradeceu e deram boas risadas. Ele, sempre um gentleman, sempre atencioso, sempre divertido, sempre generoso, sempre com uma memória e um raciocínio impecáveis.

Quando desligou, Tetê chegou a sentir uma certa melancolia, mas não por ele. O sentimento esquisito era o de poder ligar para todos os ex-namorados com a maior naturalidade e com nível zero de periculosidade, menos para um... mas, como exceção é coisa para ser esquecida, largou o pensamento e pegou o vestido, que ainda servia perfeitamente. Até o Beto Grude Gabbana desviou os olhos do Discovery Kids para olhar a mamãe de vermelho, lançar um humpf humpf humpf gostoso e se aninhar naquela roupa de tecido molinho e desconhecido.
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No dia seguinte, Tetê almoçou com o ator ma-ra-vi-lho-so num restaurante charmoso, numa linda mesinha ao ar livre, com toalha xadrez, florzinha e direito a manjar de sobremesa. Como sempre, falaram sobre tudo e sobre todos. Ele também era um homem tão atencioso, tão gentleman, tão divertido, tão generoso quanto o cientista. Não. Ele era mais, muito mais. Muito mais tudo isso e muito mais tudo o mais. Depois do manjar, andando na rua de mãos dadas, ele lembrou de um réveillon no qual Tetê usou um vestidinho branco, justo e transparente...