quarta-feira, dezembro 10, 2008

Em todas as instâncias... gatos???

Uma caixa fechada. Um gato dentro da caixa. E um gás venenoso dentro de um frasco que se abre se rolar um processo de decaimento radioativo. Se rolar mesmo, o gato morre. Se não rolar, o gato fica vivo. E agora? Ele está vivo ou está morto? Segundo a teoria quântica, você só sabe se o gato está vivo ou se está morto se olhar para dentro da caixa. Nada é real se não é observado: o gato não morreu e não sobreviveu, até que a gente olhe pra ele. Ele está num estado indeterminado, vivo e morto ao mesmo tempo! Essa é a famosa história do Gato de Schrödinger, que Tetê adora.

Por que isso agora? Porque, segundo Tetê, falando em gatos... o gato subiu no telhado. E não foi o Gato de Schrödinger!

Ela passou um bom tempo idealizando a caixa (preta?) do gato (de Schrödinger?) e chegou a pensar que o mistério era realmente tudo de bom. Mas como qualquer mulher, Tetê é curiosa! E acordou um dia morrendo de vontade de olhar o conteúdo da caixa. Tomou um café, fumou um cigarrinho, leu os jornais... enquanto tentava tirar da cabeça o pensamento recorrente de abrir a caixa. Mas a maldita curiosidade venceu e ela constatou o que já suspeitava: o gatinho estava morto. Mortinho. Meeeesmo. O tal decaimento radiativo rolou, e levou não só a vida do pobre gatinho, mas toda a empolgação da Tetê em relação a ele. Ai, ai. Hora de funeral. E de um pretinho básico, de arrasar.

Como funerais não significam altas festas, ela resolveu sair sozinha e encarar um jantarzinho num restaurante onde não fosse incomodada. Em Curitiba, só o Ile de France passa no teste: onde mais uma mulher sozinha e bem vestida pode ir nessa terra, para saborear uma boa comida e voltar para casa sem ser alvo de olhares esquisitos? E fazia muito tempo que ela não comia aquele delicioso escargot.

Tudo de bom! O Ile não estava muito cheio, ela estava completamente a vontade e aliviada. Pode parecer esquisito, não é sempre que um funeral significa alívio, mas encarar a realidade, abrir a caixa e ver que ali só havia um gato morto fez um bem enorme. Ela não conseguia ter culpa por se sentir bem numa situação como essa. Afinal, ela estava viva e acostumada a ser alimentada com novidades constantes. E quando ela não é alimentada... o sistema falha mesmo! A rotina tira o brilho de Tetê. A não ser que a rotina seja avassaladora! E não era isso que ela estava vivendo. Talvez ela tenha usado demais a piscina de bolinhas... e as bolinhas tinham prazo de validade. Ela não leu o manual, mas certamente as instruções traziam uma cláusula de desgaste...

Enfim, o esgargot estava divino. Igualzinho ao que ela comia com o pai, desde pequenininha. Aquele ambiente acolhedor, aquele vinho e aquela sensação de não ter que conversar amenidades com ninguém a faziam levitar. Ela levou exatamente uma hora e quarenta e dois minutos entre a entrada, o prato principal, a sobremesa, a conta e o pedido de um taxi para o garçom.

Voltou para casa e estreou o sofá novo com o Beto e com um último Jack Daniel's. E antes de adormecer no sofá com o Beto aos seus pés e a liberdade de volta, lembrou que a pessoa na mesa da frente no restaurante, também estava sozinha... e contou para o Beto, bem baixinho:
- Eu acho que vi um gatinho. Eu vi siiiim. Eu acho que vi um gatinho...