Aconteceu assim, uns três anos atrás aproximadamente. Um domingo escaldante de verão e Tetê acorda cedo com o telefone tocando. Conversa um pouquinho com um amigo distante e de repente lembra que há uma feira de livros na cidade. Preguiçosa, toma uma banho e sai extremely casual: cabelos molhados, sandália rasteira, jeans e regata de seda. Ah! E óculos do tipo "saída de motel", enorme, atrás do qual ninguém a reconheceria assim tão básica.
Tetê entra em todos os stands de livros e já está suficientemente carregada quando entra no último: aqueles que vendem livros interessantes a preços "nórdicos" (o termo é da diarista, que se autodenomina "analfabética". Por que será???). Fuça daqui, fuça dali e Tetê está definitivamente coberta por livros num dos braços quando avista um antigo sonho de consumo.
Explica-se o sonho de consumo: ela sempre quis esse livro, mas morria de vergonha de entrar numa livraria para procurá-lo, imaginando que alguém conhecido pudesse aparecer subitamente e fazer algum juízo errado sobre ela. Afinal, porque uma mulher como ela compraria "Mulheres Inteligentes, Escolhas Insensatas"??? Nem morta que Tetê pagaria esse mico.
Mas naquela feira, com aquela roupa e aqueles óculos, num stand de livros populares... era uma ótima oportunidade para realizar o sonho antigo. Tetê olhou para um lado, olhou para outro, olhou para trás e se certificou de que absolutamente ninguém por ali poderia lhe reconhecer. E traçou uma estratégia infalível: ela estenderia o braço livre como quem não quer nada em particular. Esbarraria no exemplar secretamente, ardentemente, urgentemente desejado e o faria deslizar para o meio da montanha de livros que empilhava no outro braço. Nada poderia sair errado! Era um plano perfeito! E ela deu iniciou a perigosa e excitante operacionalização de seu plano. E no exato momento em que o livro estava no meio do trajeto entre a prateleira e seu braço dolorido pelo peso, alguém exclama atrás dela:
- Poxa! Sempre quis conhecer uma mulher que se interessasse por esse livro!
Tetê fica roxa. Não há a mínima possibilidade de fazer o tempo voltar para o momento em que ela ainda não tinha alcançado o maldito livro. Alguns milésimos de segundos dramáticos se passaram sem que ela pudesse pensar em uma desculpa descolada. Então o jeito era olhar para trás e encarar o dono daquela voz, e da acusação implícita que a voz trazia. E aí foi outro susto... o dono da voz era um homem imeeeeenso, liiiiiindo, grisaaaaaalho, e vestia uma camisa Elle et Lui impecável. Ela não conseguiu balbuciar nenhum som, e ele percebendo o mal estar, foi direto ao assunto:
- Fazemos o seguinte... você me dá o seu telefone e me explica porque está comprando esse livro, combinado?
Tetê imaginou que um encontro nessas condições só poderia resultar em um desastre e gaguejando deu um número de celular que já não existia. Ele agradeceu, sorriu e disse que ligaria no dia seguinte para combinar um jantar e discutir sobre o livro. Ela pagou o maldito livro, voou para casa e amaldiçoou a compra com todas as suas forças. Afinal, o livrinho tinha empatado uma possível "escolha sensata" com um homem pra lá de charmoso.
Outro dia Tetê estava na livraria esperando o Beto sair do Pet. Em um dos braços, livros e mais livros (biografia de Madame Curie, um ensaio de Mário Schenberg, textos de Washington Olivetto, biografia de Cartola e cartas de Vinícius de Moraes. Graças aos céus, uma boa seleção dessa vez...) quando alguém derruba um livro atrás dela e ela se volta para ajudar. Lógico! Era aquele homão da feira de livros! Eles riem, ele analisa os livros dela e reclama que o celular que ela anotou não existia.
Os dois assim, meio sem graça, e ele pergunta se ela realmente leu o livro. Ela fica meiga de repente, até que ele faz a segunda pergunta: se ela aprendera a fazer "escolhas sensatas". Ela já não se sente tão meiga. E ele faz a terceira pergunta: qual o número verdadeiro do celular.
P da vida, ela responde as três perguntas de uma vez:
- Sim, eu li o livro, aprendi a fazer "escolhas sensatas",e é por isso que não lhe dou meu telefone verdadeiro, darling.
Virou furiosa e andou sem olhar para trás. Aliás, faz tempo que Tetê está andando sem olhar para trás e isso traz uma elegância inigualável. Insuportável...
Tetê entra em todos os stands de livros e já está suficientemente carregada quando entra no último: aqueles que vendem livros interessantes a preços "nórdicos" (o termo é da diarista, que se autodenomina "analfabética". Por que será???). Fuça daqui, fuça dali e Tetê está definitivamente coberta por livros num dos braços quando avista um antigo sonho de consumo.
Explica-se o sonho de consumo: ela sempre quis esse livro, mas morria de vergonha de entrar numa livraria para procurá-lo, imaginando que alguém conhecido pudesse aparecer subitamente e fazer algum juízo errado sobre ela. Afinal, porque uma mulher como ela compraria "Mulheres Inteligentes, Escolhas Insensatas"??? Nem morta que Tetê pagaria esse mico.
Mas naquela feira, com aquela roupa e aqueles óculos, num stand de livros populares... era uma ótima oportunidade para realizar o sonho antigo. Tetê olhou para um lado, olhou para outro, olhou para trás e se certificou de que absolutamente ninguém por ali poderia lhe reconhecer. E traçou uma estratégia infalível: ela estenderia o braço livre como quem não quer nada em particular. Esbarraria no exemplar secretamente, ardentemente, urgentemente desejado e o faria deslizar para o meio da montanha de livros que empilhava no outro braço. Nada poderia sair errado! Era um plano perfeito! E ela deu iniciou a perigosa e excitante operacionalização de seu plano. E no exato momento em que o livro estava no meio do trajeto entre a prateleira e seu braço dolorido pelo peso, alguém exclama atrás dela:
- Poxa! Sempre quis conhecer uma mulher que se interessasse por esse livro!
Tetê fica roxa. Não há a mínima possibilidade de fazer o tempo voltar para o momento em que ela ainda não tinha alcançado o maldito livro. Alguns milésimos de segundos dramáticos se passaram sem que ela pudesse pensar em uma desculpa descolada. Então o jeito era olhar para trás e encarar o dono daquela voz, e da acusação implícita que a voz trazia. E aí foi outro susto... o dono da voz era um homem imeeeeenso, liiiiiindo, grisaaaaaalho, e vestia uma camisa Elle et Lui impecável. Ela não conseguiu balbuciar nenhum som, e ele percebendo o mal estar, foi direto ao assunto:
- Fazemos o seguinte... você me dá o seu telefone e me explica porque está comprando esse livro, combinado?
Tetê imaginou que um encontro nessas condições só poderia resultar em um desastre e gaguejando deu um número de celular que já não existia. Ele agradeceu, sorriu e disse que ligaria no dia seguinte para combinar um jantar e discutir sobre o livro. Ela pagou o maldito livro, voou para casa e amaldiçoou a compra com todas as suas forças. Afinal, o livrinho tinha empatado uma possível "escolha sensata" com um homem pra lá de charmoso.
Outro dia Tetê estava na livraria esperando o Beto sair do Pet. Em um dos braços, livros e mais livros (biografia de Madame Curie, um ensaio de Mário Schenberg, textos de Washington Olivetto, biografia de Cartola e cartas de Vinícius de Moraes. Graças aos céus, uma boa seleção dessa vez...) quando alguém derruba um livro atrás dela e ela se volta para ajudar. Lógico! Era aquele homão da feira de livros! Eles riem, ele analisa os livros dela e reclama que o celular que ela anotou não existia.
Os dois assim, meio sem graça, e ele pergunta se ela realmente leu o livro. Ela fica meiga de repente, até que ele faz a segunda pergunta: se ela aprendera a fazer "escolhas sensatas". Ela já não se sente tão meiga. E ele faz a terceira pergunta: qual o número verdadeiro do celular.
P da vida, ela responde as três perguntas de uma vez:
- Sim, eu li o livro, aprendi a fazer "escolhas sensatas",e é por isso que não lhe dou meu telefone verdadeiro, darling.
Virou furiosa e andou sem olhar para trás. Aliás, faz tempo que Tetê está andando sem olhar para trás e isso traz uma elegância inigualável. Insuportável...