terça-feira, agosto 19, 2008

Múltipla Escolha

Tetê está quieta. Dois fatores podem ter originado essa reação:

a) Tudo está chato.

b) Tudo está perfeito, maravilhoso, charmoso, chiquérrimo, gostoso, suave, glamouroso, deslumbrante, arrasador, amoroso, meigo, translúcido, excelente, primoroso, magnífico, exuberante, surpreendente, encantador, atraente, arrebatador, avassalador, fascinante, sedutor, magnético, estonteante, envolvente...

Para acertos, favor marcar a alternativa "b"...

quarta-feira, agosto 13, 2008

A torradeira elétrica no reino encantado do mundo que dá voltinhas

... Era uma vez, num reino encantado, muitos e muitos anos atrás... um homem bom e lindo. Que cruzou a vida de Tetê como um relâmpago, numa noite que tinha tudo para ser absolutamente comum. O mundo deu uma voltinha, deu outra, e numa determinada manhã de sol, Tetê resolveu realizar um sonho: levar um café na cama para alguém especial. Para isso, utilizou um dos únicos acessórios de cozinha que dá certo com ela: uma torradeira elétrica (todos os outros acessórios são dispensáveis, pois ela não vê funções imediatas nem no forno de microondas). Ele tomou o café e voltou a dormir. E ela, atordoada, lembrou que estava atrasadíssima para o casamento de seu melhor amigo. A solução foi deixar o homem bom e lindo sozinho, ir ao casamento sonhando acordada e voltar voando para casa, onde encontrou o homem bom e lindo... ainda dormindo. Motivo suficiente para mais uma sessão de torradas, no reino encantado.

O tempo passou um pouquinho. O mundo deu outras voltinhas. Tetê levou café na cama para esse homem bom e lindo por várias vezes, sempre utilizando a torradeira e algumas fatias de queijo. Os dois perceberam que aquela torradeira estava vinculando sentimentos, e decidiram colocar um fim nesse ritual: não acordariam mais juntos. E a torradeira foi para o fundo do armário da cozinha de Tetê. Definitivamente.

Mais umas voltinhas no mundo, mais alguns reencontros entre os dois. E o assunto da torradeira sempre vinha à tona como um fiozinho que puxa o passado, a saudade e algum futuro possível. Mas sempre acabavam mudando de assunto, corados e sem graça. Em alguns momentos mais descontraídos nessas voltinhas que o mundo dá, revelavam, no entanto, que a torradeira deveria volta à vida. Onde ela andava? As diaristas de Tetê a encontravam de tempos em tempos, enroladinha, no fundo do armário. Ela era limpa, envolta num feltro cor-de-rosa e devolvida ao seu esconderijo. Ao fundo de um santuário, como um objeto sagrado.

O homem bom e lindo (lógico... o Dono da Caixa Preta. Ou o Piscina de Bolinhas) veio vindo assim, quietinho. E Tetê também foi avançando assim, quietinha. E nessas voltinhas do mundo, eles foram voltando para a torradeira. Até que, sem aviso prévio, sem planejamentos, raciocínio ou planilhas do Excel, voltaram a usar a torradeira. E as torradas e os resultados... hum... que vontade de aposentar de vez o feltro cor-de-rosa...

domingo, agosto 10, 2008

Sensação de...

O contato com a Tetê está cada vez mais complicado! Ela se conectou a um outro mundo, parece uma outra pessoa, planando, envolta em mistérios e estudos, desligada da coerência e da praticidade do dia-a-dia. Acorda tarde, fica um bom tempo na cama se espreguiçando e quando finalmente levanta não sai voando pra resolver problemas em série como sempre fez. Ela está mesmo diferente...

Um bom humor constante, uma risada solta, cabelos soltos (quem diria... para quem só soltava a noite, para dormir...). Ao invés de dos trajes mais básicos para o escritório, agora ela examina o guarda-roupa minuciosamente pela manhã em busca de echarpes, blazers coloridos ou cintos que possam fazer uma diferençazinha num tubinho preto. E perde horas matinais com o Beto, que tossiu duas noites seguidas. Ela largou tudo para levá-lo à "pediatra", e voltou com xarope, mel e recomendação de descanso durante 14 dias (para ele, mas ela acompanha).

Desta forma, agora Tetê chega no escritório as onze, ao invés do costumeiro horário de nove horas. E chega cansada de trabalhar... quer sair, passear, andar de mãos dadas no meio da rua, ir ao cinema, ao teatro, comer pipoca, ver desenho animado em baixo de uma manta xadrez só com o nariz pra fora. Mas ao lado do... dono da caixa preta. Pois é, tá rolando. Para ser mais exata, até que faz tempo que tá rolando. E ela ainda não cansou! Pelo contrário! Não teve vontade de parar de falar, nem de sorrir, nem de ser feliz. Esse cara é realmente um fenômeno...

Ele precisou passar dois dias fora da cidade na semana passada e Tetê ficou sem saber o que fazer. Na ausência dele, ela queria definir em palavras, achar um parâmetro, um signo, uma imagem que pudesse usar todas as vezes em que alguém lhe perguntasse sobre o tal cara. Pensou que uma tarde alegre e descontraída pudesse lhe trazer alguma luz, e como não podia sair pelos shoppings com o Beto, "alugou" a filha de uma amiga e passou uma tarde em programas infanto-juvenis: Mc Donald's, bonecas, boutiques cor-de-rosa, CD's de cantoras mirins norte-americanas que ela nunca vai lembrar quem são, e finalmente, um descanso para o último sorvete em frente a uma piscina de bolinhas. E não deu tempo para ninguém impedir! Em questão de segundos, Tetê se jogou na piscina no meio das crianças, para espanto de todos os adultos e crianças – principalmente da que ela levava pela mão. E aí ela descobriu.

A sensação que o dono da caixa preta lhe passa é essa: ela está sendo levada pelo movimento randômico de milhares de bolinhas coloridas, macias, delicadas, gostosas, que trocam energia entre si e nunca, nunca mesmo, se pode prever se vão afundar ou se vão subir, pois dependem, sensivelmente das condições iniciais do movimento do outro, que está em frente, em cima, em baixo, ao lado dela. Exatamente como na Teoria do Caos. Mas muito mais gostoso do que na Teoria do Caos.