domingo, novembro 18, 2007

Xeque Mate

Não dava mesmo para continuar daquele jeito. As rugas já gritavam, os olhos sempre enormesde tão inchados, as roupas sumiam no corpo (Tetê é daquelas que param de comer quando sente dor). Andava distraída, displicente com as exposições, desligada de tudo e de todos.
---
Tetê imaginava o que podia se passar pela cabeça dele desde o dia do escândalo telefônico que protagonizaram. E ficou com uma pulga atrás da orelha: será que realmente ele disse para a mamãe que estava cansado dela? Afinal, ela não deixou esse homem falar nem uma palavra quando ligou xingando. E resolver perguntar diretamente, sem rodeios.
---
Telefonou para ele (ele quase morreu de susto, possivelmente esperando ser xingado ainda mais, mesmo depois de tantos meses). Pediu para conversar pessoalmente e ele foi até o escritório de Tetê na mesma tarde. Negou tudo. Disse que não havia motivo para não despachá-la (isso mesmo, foi esse mesmo o termo que ele usou), se realmente quisesse isso. E Tetê achou muito coerente tudo o que ele disse, pela primeira vez. Ele estava (parecia...) mais maduro, mais sério. E por incrível que pareça, ela não sentiu arrepios ao vê-lo. Ela o entendeu e acreditou que a "urgência psíquica" pela qual passava, havia acabado. Afinal, a mágoa não era com ele, mas com a super-mãe.
---
Dormiu aliviada, suave como um anjinho nas nuvens. Foi invadida por pensamentos relaxantes, pela retirada de um peso de seu coração: ela não havia sido rejeitada, ele não havia se cansado dela. E ela até havia pedido desculpas por tantos palavrões que ele nem precisava ter ouvido! O mundo era belo e fofinho novamente, ela se sentia renovada peloa perdões concedidos (os dois haviam se perdoado mutuamente, jurado amizade eterna e se abraçado de maneira fraternal). A vida era novamente azul e rosa! A maturidade havia voltado, a alegria, a maciez do outono, as cores do arco-íris, as borboletas translúcidas voando, a meiguice, as libélulas transparentes, as plumas macias e a ternura batiam à porta novamente! Tetê não tinha mais esse homem, mas era pura e limpa outra vez!!!
---
Deve ter dormido uns 30 minutos... e pulou da cama enfurecida: como aquela desgraçada daquela super-mãe podia ter feito isso com ela? Tinha que matá-la! Furar os seus olhos! Tirar suas unhas com pinça! Martelar sua cabeça! Jogar gasolina naqueles cabelos e riscar um fósforo!!!
---
Não dormiu mais. Vestida para matar, saiu antes do amanhecer e foi até o escritório. Respondeu alguns e-mails, deixou instruções para a nova secretária (beeeeeem alta, pra não lembrar a anãzinha) e voou para o escritório da super-mãe. Ligou da esquina para se certificar que ele também estava lá e entrou em chamas naquela sala de reuniões. Disse que estava ali para colocar os dois frente à frente e dar o xeque mate: quem estava mentindo, afinal? Não demorou nem 5 minutos ali...
---
A super-mãe, olhando-a com fúria, confessou que havia inventado tudo aquilo. Na frente dele, ela confessou!!! Ele não fez nada. Ela não pediu desculpas. Justificou somente que sempre achou melhor ver os dois separados, para que "nenhum dos dois" sofresse. Tetê disse que não precisava ouvir mais nada e saiu de lá. Absolutamente perdida pela cara de pau da super-mãe e pela falta de atitude dele.
---
Mais uma vez, Tetê jurou para si mesma... que estava tudo de-fi-ni-ti-va-men-te acabado.

Nenhum comentário: