quinta-feira, janeiro 31, 2008

Estação Primeira – Uma imagem vale mais que mil palavras


Tetê nunca esqueceu o ano em que ficou confinada num apartamento do Othon, fantasiada e pronta para o desfile da Escola. No ano seguinte, quando o cientista perguntou se ela gostaria de desfilar, ela disse que não!
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No entanto, a frustração não passava. O carnaval se aproximava e o pânico aumentava. Ela confidenciou ao cunhado – um louco de pedra – que não podia se conformar com o irmão dele, tão apagadinho nos carnavais da vida... e ele, odiando a atitude do irmão, resolveu ajudar Tetê a realizar o sonho de desfilar pela Mangueira.
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Marcaram um carnaval diferente: os três iriam para um hotel fazenda em Florianópolis. Ficariam, no entanto, longe da folia... mas ela e o cunhado tinham outros planos! No dia anterior ao desfile, ele recebeu uma ligação urgentíssima do filho que estava "no hospital".
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Tetê se ofereceu rapidamente para ir com o cunhado até o Rio! E eles foram, deixando o cientista repousando no hotel fazenda. Do Galeão direto para a escola, com as fantasias na mochila do cunhado... mas chegaram atrasados e foram obrigados a assistir o desfile e se morder de ódio. O dia amanhece e eles tem que pegar o vôo de volta a Floripa. E não dava tempo de passar em casa para tomar um banho. No banheiro do aeroporto tentaram tirar os vestígios da noite na folia, mas o último aviso de embarque fez os dois se desmantelarem mais ainda. No banheiro do avião, novas tentativas que só pioravam a situação pois purpurina quando gruda só muita água corrente pra sair.
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O cientista estaria esperando pelos dois no aeroporto (eles ligaram para tranqüiliza-lo e acabaram contando o horário do vôo, possivelmente um lapso da consciência pesada)... as purpurinas estavam grudadas... os dois estavam sem dormir e exaustos, imundos, suados. Pareciam tudo, menos duas pessoas que passaram a noite num hospital...
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E não houve jeito, não houve desculpa. Quando desembarcaram deram de cara com o cientista, e começaram a falar sem parar, num descompasso pior que bateria em fim de ensaio. O cientista, por sua vez, não sabia se brigava ou virava as costas deixando os dois loucos ali, purpurinados e arranhados. E para acabar com a cena ridícula, avisou:
- Tudo bem que o enredo da Mangueira foi "O reino das palavras". Mas é melhor vocês economizarem as palavras durante os próximos dias. Pelo menos até tirarem as purpurinas verdes e rosas.
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E os três seguiram sem palavras no táxi até o repousante hotel fazenda.

terça-feira, janeiro 29, 2008

Estação Primeira. Quase última

Tetê é mangueirense desde que nasceu – Jamelão, Cartola, Dona Zica, é com ela mesma! Aos cinco anos, o avô resolveu ensina-la a empinar pipas no Aterro do Flamengo. E a primeira pipa de Tetê era a bandeira da Mangueira! Coisas de família...
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No ano em que o enredo era "Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia e a Mangueira têm", ela convenceu o cientista a desfilar na Mangueira!!! Ele relutou bastante e Tetê mal acreditava que ele havia cedido, até comprarem as fantasias. Aí sim, estava a garantia: fantasias compradas, lindas, perfeitas. O apê estava em reforma e eles estavam no Othon, em Copa.
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No tarde do grande dia ela levou horas na maquiagem enquanto ele via televisão. Quando ela estava quase pronta, ele resolveu dar uma volta na praia, fechou a porta e disse que voltava logo. Ela sentiu um pequeno arrepio, mas achou que era a emoção pela escola.
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Ele começou a demorar. E demorar. E demorar. E demorar. Estava demorando demaaaaaais e naquela época não havia celular. Não tinha como localiza-lo de forma alguma. Ela começou a pensar que ele estava arrependido e que não apareceria para desfilar. Azar o dele! Tetê não perderia aquele desfile por nada e tomou a decisão de ir sozinha para a avenida, deixando um bilhetinho singelo para quando ele voltasse – que a encontrasse lá, se quisesse.
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Quando tentou abrir a porta do quarto viu que estava trancada por fora e ela não tinha a chave. Ligou para a portaria e ouviu o recepcionista gaguejando, dizendo que não podia fazer nada. Nervosa, pediu para falar com o gerente que gaguejava mais ainda. Ela explicou que o marido havia saído e, sem querer, a a deixou trancada no apartamento. E ela precisava urgentemente ir ao desfile. O gerente respondeu na lata:
- A senhora vai ter que ficar muito calma. Seu marido contou que a senhora está abaladíssima, sob forte medicação e sob ordens médicas para não sair de jeito nenhum. Inclusive contou que a senhora inventaria essa história de ir ao desfile, o que sabemos ser mentira. Aconselho que a senhora tome os remédios direitinho e tente dormir.
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Tetê entendeu. A única forma de faze-la desistir seria assim mesmo, à força. E como o cientista não sabia o que fazer, foi a única coisa que conseguiu pensar: tranca-la no quarto do hotel e dizer ao gerente que ela era louca. Só faltou dizer que era procurada pela polícia – o que, aliás, podia se tornar uma grande verdade se ela tivesse conseguido colocar as mãos nele naquela noite!!!
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Ele dormiu no apartamento ao lado e voltou no dia seguinte. Abriu a porta quietinho as 8 da manhã e encontrou Tetê fantasiada, maquiada, sentada na cama. Ela saiu pela porta aberta sem dizer nada e foi para a casa da prima, onde tirou a fantasia, colocou um biquíni e foi se esbaldar nos blocos de rua. Voltou no dia seguinte, às 8 da manhã.

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Experiências científicas e policiais na cozinha

Ontem de madrugada o cientista ligou para Tetê. Ele está novamente em New York, depois de alguns meses em Paris. Queria dar e ter notícias pois nessas andanças pelos continentes, nem sempre consegue se comunicar com ela.
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Contou que estava preparando um jantar e lembrou dos desastres que rolavam na cozinha enquanto estavam juntos, anos atrás. O mais inesquecível aconteceu quando ele inventou uma galinha à cabidela. Saiu cedo para o supermercado e Tetê foi para a praia, pois ele era muitíssimo melhor no laboratório de física do que na cozinha, e ela odiava a bagunça que ele fazia.
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Nessa época moravam no térreo de um prédio em Ipanema, e o síndico era uma graça, amigo do casal de longas datas. Tetê torrou no sol a manhã inteira e quando voltou, viu que a porta do apartamento estava entreaberta. Um pouco assustada, ela entrou em casa e viu a sala tranqüila. O corredor tranqüilo. Antes de entrar no quarto, entrou na cozinha e presenciou uma cena dantesca: um enorme facão em cima da pia e muito sangue pelo chão, pelas paredes e com alguns respingos no teto. Um silêncio absurdo e um vento forte de verão soprando as cortinas para todos os lados.
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Tetê enlouqueceu. Aquilo em pleno Rio de Janeiro não deixava dúvidas. Chamou o síndico e mostrou a cena. Ele não quis entrar no resto da casa e chamou a polícia. Tetê na portaria aos prantos rodeada de vizinhos que gritavam. As pessoas passavam na rua e a notícia do assassinado chegava na esquina da praia. Curiosos e conhecidos queriam por força entrar no apartamento e eram barrados pelo porteiro do prédio. Ninguém podia entrar enquanto a polícia não chegasse, eram ordens do síndico.
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A polícia demorou mas chegou com duas viaturas escandalosas, deixando as sirenes ligadas e interditando o trânsito na quadra. Tetê estava em estado de choque e absolutamente melada, pois de todos os apartamentos surgiam copos de água com açúcar. Ela tomava todos mas não falava, não entendia muito bem o que seria necessário fazer: depoimentos, achar o corpo, enterrar, explicar para os parentes dele, para os parentes dela. Missa, luto, choro, Jornal Nacional, páginas policiais, uma viuvez tão precoce mas tão previsível: a violência conhecida do Rio, aquela cidade maravilhosa que tirava dela a expectativa de ser feliz. E aquela gente toda em volta consolando, ajudando, atrapalhando, gritando, perguntando. Ela não agüentou e desmaiou.
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Lembra de retornar aos poucos, já na sua cama. De um lado o síndico, segurando sua mão. De outro lado... o cientista. A primeira coisa que Tetê pensou foi que morrer era doce. Ela tinha morrido e agora os dois estavam ao seu lado. Mas... se ele morreu e ela morreu, o que o síndico estava fazendo naquela cena celestial? Ele explicou:
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Para fazer a galinha à cabidela (desgraçada da galinha!) era preciso sangue da galinha (desgraçada duas vezes!). E o cientista comprou o sangue da galinha (maldita e desgraçada galinha!!!) em saquinhos de plástico no supermercado. Para abrir o sangue da galinha (grrrrrrrrrr) ele usou o facão. O saquinho furou e espirrou sangue por todos os lados. Ele, assustado e sem saber por onde começar a limpar, foi dormir sem trancar a porta que deve ter aberto sozinha com o vento. Acordou com as sirenes....

sábado, janeiro 19, 2008

Sentimentos

A maioria dos e-mails que Tetê recebe expressa um sentimento: parece que você sou eu...
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Mulheres (se) perguntam por que não pensaram em escrever se a organização dos pensamentos é a mesma e por que Tetê captura tanto o cotidiano de cada uma delas, e homens perguntam (sem o primeiro "se", obviamente...) se eles conseguem mesmo fazer tanta bagunça na vida das mulheres.
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Para os homens a resposta é simples: SIM. Eles fazem, sim, muita bagunça – as vezes de uma forma engraçadinha, mas muitas vezes de uma forma épica.
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Para as mulheres a resposta também é única, mas não tão simples: é só pensar em qual de nós nunca voltou, chorou, estourou o cartão de crédito, retornou e caiu, deprimiu e gargalhou, planejou, teorizou e desistiu, voltou atrás, terminou, recaiu, calou e gritou?
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Qual de nós nunca se expôs e retirou, ousou e amarelou, correu e morreu na praia, se achou a última e a primeira em questão de segundos? Qual mulher nunca teve ímpetos de ligar para "ele" do vestiário da boutique para perguntar se a blusinha branca ficaria melhor que a azul? Qual de nós não teve vontade de receber um elogio depois de cortar as pontinhas do cabelo e não se decepcionou por que "ele" não notou? Qual de nós não quis ser cortejada, desejada, amada, em plena segunda-feira quando você levanta da cama com cara de toalha amassada depois de ter devorado uma caixa de bombons no domingo? Quem, dentre todas as mulheres antenadas, mesmo abrindo a carteira, não esperou um retórico "deixe que eu pago" no restaurante? Qual de nós não sonhou em receber um presentinho básico num dia comum de trabalho? Ou ser surpreendida com uma palavra, uma flor, um solitariozinho de brilhantes...
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Por outro lado, a grande maioria está no mesmo barco da Tetê: sozinha no mercado. Mercado de trabalho, mercado de mãe, mercado de filha, mercado de ex, mercado de homem, mercado de supermercado, mercado de reconhecimento, mercado de descanso, mercado de um final de semana tranqüilo entre o shopping e o cinema – enquanto as outras áreas ou não se resolvem ou dão um descanso.
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E é bom, sim, exigir e tentar. Ter ousadia de heroína. Ter fôlego de consumidora. Ter conceitos rigorosos de seleção. Ter coragem de lutar e de se arrepender. Ter pique de gritar como líder de torcida se as coisas não estão nada bem. Ter força de olhar para trás e reconhecer que participou de uma batalha defendendo o lado errado, por pura preguiça de pensar. Ou por ter se deixado envolver pelos sentimentos infantis. Por ter lutado pelo docinho estragado, mas com tanta, tanta fome e ânsia de ser feliz, que parecia o doce mais doce do mundo.
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Por isso, dá para dizer tranquilamente que não parece que Tetê tem o sentimento de outras. Ela e as outras, acabam sendo uma só coisa: mulheres intensas, aprendendo a se livrar das amarras. Sem culpa e com tudo o que têm direito no quesito virar a mesa. Querendo passar por todas as historinhas românticas ou querendo justamente o contrário de todas elas, o importante mesmo é a parte do "se livrar das amarras". Ah! A parte do "sem culpa" também...
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O silêncio, o consentimento emocional unilateral e sem limites, o medo, a boa educação e outras cositas mais nos tornam politicamente corretas. De mulheres, passamos a ser seres humanos especiais (Algum homem já te chamou de especial? Tipo: não quero você mas você é linda por dentro, um ser humano muito especial... Já chamaram a Tetê assim). Quando a gente é mulher a gente aguenta tudo. Mas quando a gente é um ser humano especial e lindo por dentro, rola o perigo de um câncer. E o que é pior: novas rugas!!! Alguém merece???

terça-feira, janeiro 15, 2008

Mundinho Pequeno...

Curitiba realmente é um mundinho.... todo mundo se conhece, e quem não se conhece, se cruza – e cruza informações!!!
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Tetê foi procurada por uma mulher. Uma mulher muuuuuito grande. Essa mulher muuuuuito grande buscava divulgação para uma artista. Amiga dela.
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O material era interessante, mas Tetê não se apaixonou. E se ela não se apaixona por um trabalho, é sinal de que não conseguirá dar tudo de si para fazer a coisa ter sucesso. Mas a mulher muuuuuito grande tinha um papo agradável – e como o trabalho realmente não tinha nada de ruim – Tetê não fez questão de acabar a reunião abruptamente, como sempre faz em casos de trabalhos que não vai representar.
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Até que no final do papo, a mulher muuuuuito grande levantou e se despediu, não antes de lamentar o não fechamento do negócio e informar que:
- Até tem um cara aí que tentou divulgar o trabalho da minha amiga. O problema é que o cara dá em cima dela, e, para ser sincera, ela é minha namorada. E ela já me confessou que andou dando umas voltinhas com ele.
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Até aí, nenhum problema. Mas ela fez questão de contar para Tetê quem era o tal cara... e, obviamente, era ele....
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Pela primeira vez nos últimos três anos, Tetê não se sentiu mal com a alusão. Pelo contrário, olhou para a mulher muuuuuito grande e sentiu por ela uma súbita e sincera onda de solidariedade. Teve uma vontade imensa de dizer que ela não precisava se preocupar com nada, que aquilo passaria rapidamente, que tudo na vida dela voltaria ao normal muito em breve, que ela não precisava sofrer. Mas só conseguiu dizer que lamentava muito.
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Por outro lado, voltou a trabalhar com uma alegria imensa, e com a certeza de que estava curada. Nas últimas semanas andava saltitante, tinha voltado para velhos amigos e estava fazendo novos. Dormia tranqüilamente, se sentia amada e desejada pelo deus grego e era paparicada por ele com presentinhos, presentões, mensagens carinhosas, bombons, atenções, olhares, flores, decisões. Estava conhecendo outros homens em lugares diferentes, levava cantadas diferentes, escuta elogios diferentes e felizes, vindos de onde menos esperava e com uma força que ela conhecia de outros carnavais. Aliás, tinha ganho do deus grego as passagens para o Carnaval no Rio. Tudo, absolutamente tudo estava voltando ao normal. Sem nada de esquisito, sem nada de trágico, sem nada de angustiante, sem nada de desníveis emocionais. Tetê tinha voltado! Mesmo que fosse para esse pequeno mundinho de Curitiba, de pequenininhas coincidências – que já não a incomodavam mais.

sábado, janeiro 12, 2008

Aposentadoria

Durante todo o período em que sofreu com o ser esquisito, o ator ma-ra-vi-lho-so foi solidário. Tetê cansava de ligar para ele de madrugada, aos prantos. Ele, gentleman, sempre procurou enaltecer as qualidades da Tetê, lembrando-a de que um homem como aquele não era um homem, mas um adultescente. E que Tetê precisava voltar a ter homens normais.
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Da mesma forma, todas as vezes em que ele precisou de colo, ligou para Tetê. E os dois se tornaram amigos inseparáveis, mesmo que fosse somente pelo telefone. Dividiam experiências e se colocavam para cima mutuamente. Era como se nunca tivessem repartido a mesma cama, engraçado isso! E Tetê tinha a certeza de que eles ainda se achavam charmosos e desejáveis, mas mantinham um compromisso ético, implícito, de não se envolverem mais, e sim, se incentivarem a procurar relações com outros parceiros.
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Na semana passada saíram para jantar. Não foi o álcool, nem o clima gostoso de verão. Não foi nada de mais nem nada de menos, mas acabaram na conversa sobre a relação deles, de uma forma madura. E confessaram um para o outro o medo comum: o de terminarem seus dias sozinhos. Tirando um casinho aqui e outro ali, ele também não tinha uma mulher, uma relação séria, desde que se separaram em 2000. E aí surgiu, naturalmente, uma idéia: marcaram um prazo de 5 anos para conhecerem alguém e se apaixonar. Caso não aconteça eles ficarão juntos.
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Tetê brincou que queria isso por escrito e ele pediu que ela redigisse um contrato. Marcaram um encontro no dia seguinte, na porta do cartório, e registraram o que para eles, chamaram de "Aposentadoria Afetiva": o documento reza que, se no dia 10 de janeiro de 2013 eles estiverem sozinhos, vão se casar! O documento termina assim:

CLÁUSULA QUINTA: Se até a data de 10 de janeiro de 2013 ambos ainda estiverem sozinhos, celebrarão Contrato de Casamento. Esse Contrato não impedirá, sob nenhuma forma, a possibilidade de que os dois decidam morar em casas separadas.

CLÁUSULA SEXTA: Este Contrato pode ser rescindido desde que haja concordância expressa das partes.

As Partes elegem o Foro de Curitiba para dirimir quaisquer omissões deste documento.

Curitiba, 10 de Janeiro de 2008

Tetê dormiu neste dia feito uma criança. E ele, também.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Fitinha azul

O ator ma-ra-vi-lho-so não deixava a desejar. Nada, nada, nada. Tudo o que Tetê havia sonhado com história da tal Marta Suplicy se descortinava na frente dela de uma forma muito mais gostosa do que ela poderia imaginar (Na época! Depois ela continuou imaginando e experimentando...).
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Logo na segunda semana de namoro ela chegou em casa exausta uma noite. Tinha montado uma exposição monstruosa e estava literalmente acabada. Só restava um pouquinho de energia pois o ator ma-ra-vi-lho-so prometeu dar notícias antes de dormir.
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Ao chegar, o porteiro lhe entregou um envelope com instruções expressas: é para a senhora abrir aqui na portaria mesmo. Tetê ficou irritada com a petulância do porteiro, botou o envelope na pasta e subiu para esperar o namorado novinho em folha. Tomou um banho, tomou um Jack Daniel's, colocou um som e... dormiu de cansaço no sofá. Acordou de manhã meio chateada pelo furo e enquanto tomava o café avistou o envelope. Abriu e quis tentar o suicídio. Dizia singelamente, com uma letra apressada: "Estou aqui na frente. Se quiser que eu suba, amarre a fitinha azul na grade do prédio".
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Tetê tinha perdido uma noite ma-ra-vi-lho-a com o ator ma-ra-vi-lho-so porque não ouviu o porteiro! Amarrou a fitinha azul no braço e passou o dia olhando pra ela, se sentindo uma idiota. Uma idiota multicor: uma idiota azul, toda roxa de ódio e vermelha de vergonha.

P.S. 1: Segundo a Wikipédia, no Simbolismo, fita azul é o termo usado para descrever algo de alta qualidade. O Simbolismo é um estilo literário, do teatro e das artes plásticas que surgiu na França, no final do século XIX, como oposição ao Realismo e ao Naturalismo.

P.S. 2: Se isso acontecesse hoje, Tetê amarraria uma carretal de fitas e barbantes e cordões e penduricalhos e búzios e estrelinhas e luas e balões de gás e balangandãs... em volta da quadra!

sábado, janeiro 05, 2008

Marta Suplicy no balcão do boteco

Depois do checkup Tetê resolveu fazer um passeio pelo passado, iniciando na procura por alguns dos ex-namorados. A intenção não era voltar para nenhum deles, mas rememorar tudo de bom que esses homens tinham no quesito "companhia". Ela sabia que os últimos três anos com o ser esquisito a tinham afastado de tudo e de todos e principalmente, dos ex-namorados maravilhosos.
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Para não perder tempo, foi procurando dois de cada vez (recuperando o tempo perdido meeeeesmo!). Entre o deus grego e o ator ma-ra-vi-lho-so, estava disposta a passar meses (em boas mesas) batendo papo com os dois, rindo, falando do passado juntos e separados, sabendo das boas novidades.
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Com o ator ma-ra-vi-lho-so ela tinha mais intimidade, os dois nunca deixaram de se falar ao menos por telefone e estavam sempre exercitando a cumplicidade, mesmo nos momentos mais difíceis. Ele é divertido, inteligente, lindo e polêmico – um exemplar masculino perfeito! Se conheceram em 2000, quando Tetê estava conversando com um velho amigo, num balcão de bar. O papo estava tão interessante que Tetê não viu quando ele se aproximou por trás e pronunciou uma frase absolutamente inesperada e hilária para o local e para o momento, num tom de voz charmoso:
- O que você acha da Marta Suplicy?
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Marta Suplicy? Ela ainda era candidata à Prefeitura de São Paulo e só usava o relaxa e goza em suas palestras como sexóloga... e uma pergunta dessas num bar, de madrugada... fez Tetê se virar rapidamente e dar de cara com aquele homão.... ela olhou para o amigo que caiu na risada (eles se conheciam) e quando virou novamente aquele homão havia sumido. Tudo num passe de mágica! O amigo explicou que ele era amigavelmente louco, mas era tímido. Tímido, ainda por cima... com aquele tamanho todo... com aquele queixo lindo... com aquela voz sexy... com aquela camisa aberta no peito....
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Tetê enlouqueceu e não sossegou até o amigo chamar o homem misterioso para sentar com eles. Pobre amigo... Tetê deu as costas para ele e só foi lembrar que o havia deixado falando sozinho no dia seguinte! Pediu o telefone do ator ma-ra-vi-lho-so – que não acreditou que ela ligaria. Mas ela ligou no dia seguinte cedo. Eles saíram para jantar e ficaram juntos durante quatro ma-ra-vi-lho-sos meses! Só terminaram porque sentiram na pele a perigosa sensação da paixão chegando, de mansinho, mas prometendo uma intensidade assustadora.

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Exames médicos, maquiagem definitiva e modelitos específicos

Tetê resolveu começar o ano fazendo um checkup completo. Idades, aventuras, Jack Daniel's, cigarros e noitadas são uma mistura explosiva, afinal de contas.
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Procurou a ginecologista de anos e um clínico geral e saiu dos dois consultórios com toneladas de requisições de exames. Organizar e agendar todos foi um desafio para a super secretária de Tetê, pois ela se embananou inteira já no segundo laboratório. A maioria dos exames foi chato a beça, mas dentro dos parâmetros conhecidos. Tetê só não contava com duas situações hilárias de dois exames – cuidadosamente deixados por últimos da extensa lista...
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O desconfortável de sempre foi a tal teste ergométrico! Todos os anos Tetê enfrenta preconceitos homéricos com esse exame por um motivo muito simples: ela nunca teve um training ou um tênis. A história era sempre a mesma. Ela chegava com uma sainha de seda básica ou uma calça de linho larga e tentava fazer o exame descalça. Não houve um médico que não implicasse solenemente com os trajes de Tetê, mas este ano especificamente foi o pior de todos, pois o médico insistia que ela usasse, pelo menos, um avental. Ela se recusava e o médico insistia. Ela demonstrava que a saia não impedia seus movimentos (andava e pulava na frente dele), mas o médico queria o maldito avental. Ela negociava e ele se mostrava implacável. Até que ela se encheu de razão e perguntou se podia usar o celular dele para ligar para o advogado, ameaçando entrar com uma ação contra a atitude preconceituosíssima dele. Ele acabou convencido mas vingativo... nos últimos instantes colocou a esteira no máximo e Tetê quase saiu de lá com o maldito avental, desmaiada em cima de uma maca!
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Mas o pior ainda estava por vir! A tal "espirometria". Um tubo de ar que você tem que fazer subir e descer, inspirar e expirar até quase cair morta, absolutamente sem fôlego e sem forças para lutar contra a lei da gravidade.
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Tetê seguiu direitinho as instruções: não fumou duas horas antes do horário marcado, não tomou café, nem chá, nem coca-cola, nadinha. Sentiu o oxigênio entrando e o expulsava raivosamente enquanto o médico repetia abobado "mais força, mais força, mais força, mais força". Estava com tanta raiva no final, que quando o médico perguntou se ela estava bem, se tudo tinha dado certo e se ela tinha alguma coisa a dizer, a perguntar ou a sugerir, ela sugeriu mesmo:
- Olha aqui doutor, da próxima vez que uma mulher ligar agendando este maldito exame, vocês tem que dizer que, além de não fumar, não beber, não transar, rezar bastante, virar freira ecológica e chegar aqui com cara de retardada, ela tem que vir com rímel a prova d'água. O senhor por acaso acha lindo a gente lacrimejar durante meia hora com rímel comum? Se tiver coragem, me diz que eu não estou toda borrada!

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Entrou no banheiro e realmente... parecia que aquelas maquiagens delicadas de palhaço de circo ou das namoradas punks, funks, rocks, aternativas do ser esquisito haviam se instalado em seus olhos. O único conforto era saber que só seria humilhada daquela forma novamente no próximo ano!