sábado, novembro 17, 2007

Justa Causa

Os meses se passavam e a tristeza de Tetê não diminuía. A saudade apertava a cada dia e ela não tinha mais notícias. Pediu à super-mãe que não tocasse mais no nome dele e jurou que nunca mais olharia para algo que não remetesse a uma extrema normalidade. Dali para a frente, tudo o que tivesse cabelo comprido e fosse diferente despertaria nela um alarme movido a energia solar, ultra-som ou qualquer outro meio físico que fosse!
---
Os vernissages se seguiam, ela brilhava profissionalmente como sempre, tentava mostrar uma alegria constante, mas na realidade tudo o queria era acabar rapidamente com esses doloridos contatos com o mundo exterior, voltar para sua casa em silêncio e chorar. O mundo passou a achar que ela andava com TPM constante, ou resfriada, ou com enxaqueca recorrente – afinal, todos notavam que ela não era mais a mesma.
---
Em um determinado vernissage, uma garota se aproximou e disse que estava procurando emprego. A menina era bonita, bem arrumada e Tetê, que havia perdido sua secretária uma semana antes, não arrumava tempo para recrutar outra. Deu um cartão e pediu que a moça a procurasse no dia seguinte, quando olha para a porta e vê o ser esquisito entrando!!! Como se nada tivesse acontecido. Ele se aproxima, cumprimenta, dá parabéns pela exposição e diz que vai dar uma circulada, que depois se falam.
---
Sentindo-se iluminada, Tetê passa o resto da noite simpaticíssima com todos e de olho pregado no ser esquisito. Que – por sua vez – passou a noite pregado na menina que ela contrataria no dia seguinte...
---
Quando os convidados começaram a ir embora, ela vê a menina anotando algo num pedaço de papel. Só podiam estar trocando telefones. E os dois se aproximam dela, juntinhos e sorrindo. Ele diz:
- Que legal, a Aninha me contou que vai trabalhar com você, ela é ótima! Posso te levar pra casa?
----
E a tal Aninha diz em seguida, toda derretida:
- Imagine! Ele é que é ótimo! Posso te ligar amanhã então, pra começar na próxima semana?
---
Tetê, roxa de raiva, responde simultaneamente:
- Você vai levar esta anãzinha pra casa, que faz mais o seu tipo de papa-anjo.
- E você, está despedida.
----
A sorte foi passar por ali na mesma hora um casal conhecido que ouviu o diálogo, puxou Tetê pelo braço para fora da Galeria e a levou ao Ile de France para afogar as mágoas em duas garrafinhas de Veuve Cliquot e muitas lágrimas.

Nenhum comentário: