sábado, dezembro 01, 2007

A quarentena e mais 5 dias, com uma agência de matrimônio no meio

Tetê passou dias e dias extremamente quieta: como se não fizesse parte do mundo, como se fosse uma estrangeira, como se vivesse no futuro e os códigos de linguagens atuais não lhe chegassem com sentido algum. Do momento em que colocou os olhos na punk funk rock até agora, guardou um segredo: no seu último aniversário havia feito um pacto com o ser esquisito – eles se encontrariam periodicamente a partir dali, de 45 em 45 dias.
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Eles tentaram conversar uma vez no msm e o papo ficou preso nas situações daquela menina. Eles se estranharam, Tetê disse que estava colocando um xis vermelho no nome dele para sempre. Ele entendeu que era no msm e a bloqueou!!!... Todos os dias Tetê entrava no msm e ele não estava lá. Ou melhor, ela sabia que ele estava lá, mas aparecendo off line. E no quadragésimo quinto dia, Tetê chegou no escritório e lá estava ele, on line. Tetê lembrou que tinha um jantar com amigos naquela noite. Foi até o nome dele e o bloqueou...
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Enquanto ela dizia que ficou tudo quieto, muito quieto dentro dela, ocupou seus dias procurando a tal agência. Houve uma que pareceu interessante: caríííííííííssima, o que era um bom sinal, pois nem todo mundo podia pagar aquela fortuna; de uma figura conhecida da sociedade curitibana, o que era outro sinal positivo, pois a dona não se comprometeria com candidatos de baixo nível, e extremamente simpática, numa bela casa lotada de tapetes persas, um gerente bem descolado e empregadas uniformizadas.
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Respondeu a trocentos questionários, levou cópias de documentos, deu referências pessoais, comerciais e bancárias, levou fotografias, fez entrevistas com psicólogas e achou tudo aquilo um saco, mas pelo menos enxergava segurança no processo. Se todo mundo passava por tudo aquilo, ela deveria encontrar pessoas que não se tornariam surpresas desagradáveis depois do primeiro encontro... ou será que se tornariam???
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Depois que toda aquela documentação e toda aquela conversa acabaram, ela foi finalmente "admitida". E o primeiro prêmio chegou: ela poderia começar a "escolher" alguém, de uma pé-seleção que haviam feito especialmente para o seu perfil. Para isso, ela precisaria ir até a agência com disponibilidade de ficar por lá uma tarde toda.
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Para Tetê, aquilo tudo foi hilário! Ela foi trancada numa sala absolutamente confortável. Ela e uma séria de pastas de futuros pretendentes... em cada pasta, os questionários preenchidos e várias fotografias dos homens que, como ela, já não sabiam ou não tinham tempo nem paciência para conhecer pessoas pelos métodos normais. Era interessante ler repetidamente aquelas perguntas e ver como cada um deles respondia às questões. Ela analisou a gramática, a caligrafia, a economia ou o exagero de palavras, a metodologia da comunicação de 35 homens naquela tarde. E selecionou 4 pastas, como quem seleciona 4 potes de geléia na prateleira do supermercado.
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O próximo passo era mais delicado, pois a agência entraria em contato com os 4 homens selecionados e eles teriam que concordar em se encontrar com ela. Ai, ai ai! O medo de ser rejeitada novamente e desta vez, de uma forma mais cruel – por 4 homens que nem mesmo a conheciam!!!
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Mas o pior não aconteceu. Ou aconteceu???? Tetê não foi rejeitada e, um a um, pode rejeitar aqueles 4 homens. Os questionários não mostravam o mais importante: os olhares, os sotaques, os tiques nervosos, os movimentos das mãos, o cruzar de talheres nos restaurantes, as meias brancas, as gravatas de Pato Donald, os vícios psíquicos, as exigências, os pedidos estranhos, as piadas...

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