domingo, outubro 21, 2007

A mais adolescente-James-Dean das sensações

Tetê teve trilhões de pesadelos com a super-mãe e com o super-filho do ser esquisito durante os 15 dias que se passaram desde a caroninha básica. Enquanto rebolava pra descolar uma oportunidade de vê-lo novamente, Tetê reviveu todas as situações difíceis de sua vida: da perda do pai aos apertos financeiros, perdas de empregos, amigas, amores. E chegou a conclusão de que depois de uma vida inteira arcando com situações pesadas, não era um casinho desses que poderia derrubá-la. Nem um super-filho, nem uma super-mãe, nem uma provável ex-super-esposa. Afinal, ela não queria casar com o ser esquisito, queria somente provar um homem tão diferente que a estava tirando do sério. No máximo, seria uma noite (ou várias...) de sexo casual. No fundo ela sabia que suas vidas eram inteiramente diferentes, que freqüentavam lugares e pessoas absolutamente incompatíveis. Em nenhum momento, poderia pensar em compromisso e perenidade com aquele adultescente.
---
Tetê está enlouquecida: acabando de reformar o apartamento novo e montando uma exposição importante. A obra está pra lá de atrasada e ela precisa entregar o apartamento antigo. No mínimo, vai ter que alugar um depósito para a mudança e passar uns dias num hotel. Ainda por cima, está no seu inferno astral. A exposição, por sua vez, está no prazo, mas é imensa e ela é perfeccionista: do coquetel ao mestre de cerimônia, das molduras aos convites, ela supervisiona tudo pessoalmente. E sempre fica absurdamente nervosa na semana que antecede um vernissage. Agora estava duplamente nervosa, pois lembrou de telefonar para a super-mãe e convidar a família... e a super-mãe garantiu a presença de todos. Tetê pensa, novamente, ter ouvido a ameaça não ouse chegar perto do meu filhinho, mas esquece. Imagine, uma senhoura tão respeitável, ameaçá-la desse jeito... só podia ser sua imaginação (ou a implacável intuição feminina!).
---
No dia da abertura, um frio dos diabos. Tetê odeia o frio, pois não concebe que em Curitiba alguma mulher possa ficar elegante num casaco pesado. Em Nova Iorque seria diferente: um vestidinho leve e o casaco por cima. Em Curitiba, com a falta de calefação, o vestidinho leve é uma doce lembrança do verão. Aqui são necessárias blusas e mais blusas, quatro meias, botas, cachecol, luvas. E o conjunto nunca é interessante ou confortável o suficiente. Mas ela não desanima e opta pelo preto e azul turquesa, inclusive nas jóias. Ah! Aquele bom e velho anel de turquesa com diamantes!!! Casando perfeitamente com o casaco e com as intenções....
---
Tetê recebe as autoridades e os artistas com naturalidade e eficiência. Está segura e satisfeita – mais um grande evento de sucesso. Segura até o momento em que ele aparece... no meio dos ternos e capas chiquérrimas, lá está ele de tênis, cabelos ao vento, dois blusões de lã cheios daquelas bolinhas ridículas que aparecem com o uso e com o desleixo... mas nada disso importa, lá está ele! O ser esquisito! Esquisitérrimo naquela noite! E mais desejável do que nunca. Ela juntou todas as suas convicções e decidiu que daquela noite, não passava. Ela não sairia dali assim, sem provar o emaranhado daqueles cabelos. Para o inferno a super-mãe e os artistas! Para o inferno o anel de turquesa e as convenções! Para o inferno aqueles homens "normais" que a estavam cantando! Tetê queria o ser esquisito naquela noite e nem um dia a mais de espera seria tolerado!

Nenhum comentário: