quinta-feira, outubro 18, 2007

O "ser esquisito"


Pois bem... estava Tetê se "recuperando" de um caso selvagem com um deus grego. O caso de cinco anos havia sido publicamente divulgado. A cidade inteira comentava a união: ambos competentes, poderosos, freqüentadores de rodas intelectuais (ou de círculos concêntricos...), rodeados de sucesso profissional e pessoal. Os olhos verdes do deus grego faziam as mulheres tremerem rapidamente onde quer que chegasse. Rapidamente porque, logo atrás, aparecia Tetê, chiquérrima, metida, exibindo aquele homem (homem não, era um verdadeiro troféu) enorme e deslumbrante. Aí as mulheres paravam de tremer rapidinho! E Tetê desfrutava sozinha de tudo aquilo.
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Mas cinco anos foram suficientes. O amor selvagem fica manso, o verde dos olhos começa a deixar Tetê mareada (ainda não era labirintite!), as conversas perdem o brilho e Tetê, finalmente perde o interesse. Está novamente no mercado, analisando as possibilidades com outros seres do mesmo quilate. Causou um certo furor e uma certa fúria: como uma mulher deixa um homem assim, tão maravilhoso, de uma hora para outra? E se esse homem ficasse traumatizado e decidisse passar um tempo sem outra mulher? Que chances teriam as outras durante o período de recesso deste homem? Essa era, verdadeiramente, uma atitude injusta em relação à humanidade (feminina)? Mas nada podia ser feito. Para Tetê, o final era irreversível, ela tinha, definitivamente, perdido o olhar no horizonte.
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Um maldito dia, Tetê avista um ser esquisito, num lugar esquisito, rodeado de pessoas esquisitas: alguma coisa de bermuda, tênis, cabelo comprido e desgrenhado. Alguma coisa que lembrava adolescência distante ou atual filho de amiga em fase pré-vestibular. Alguma coisa assim, amorfa, démodé, fora de linha, final de estoque ou de século. Sabe-se lá.
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A única coisa que ela lembra foi de pensar que o mundo estava mesmo perdido. Como a era pré-jurássica se manifestava assim, na sua frente, sem o menor senso de evolucionismo? E Darwin? Onde diabos havia se enfiado Darwin, perdendo um exemplar destes, fora de sua época e de seu habitat? Teria ele previsto, no mais recôndito de suas teorias, que um fóssil pudesse respirar? Ou seriam as enlouquecedoras teorias da física quântica, com seus mundos paralelos e suas hipóteses de decaimento radioativo absolutamente randômicas, que estavam a povoar o mundo de forma mais que experimental?
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O fato é que, diante do pavor explícito provocado pela visão do ser esquisito, Tetê sentiu o alarme vermelho tocando. E o alarme vermelho de Tetê compilava todos os piores riscos conhecidos: curiosidade, tesão, desafio, urgência, quero agora, por que não eu, impossível viver sem, vital ir pra cama agora, não tenho camisinha na bolsa, não dá pra esperar até amanhã, etc. Ela estava, definitiva e irremediavelmente, em questão de nanos-quânticos-invisíveis-indivisíveis-onipresentes-milésimos-de-segundos, perdidamente apaixonada. Como nunca estivera em sua vida! E a coisa era séria! Ela desprezou Darwin e jurou pra si mesma que o criacionismo explicaria todo aquele tesão, sem a menor sombra de dúvida.

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