sábado, janeiro 19, 2008

Sentimentos

A maioria dos e-mails que Tetê recebe expressa um sentimento: parece que você sou eu...
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Mulheres (se) perguntam por que não pensaram em escrever se a organização dos pensamentos é a mesma e por que Tetê captura tanto o cotidiano de cada uma delas, e homens perguntam (sem o primeiro "se", obviamente...) se eles conseguem mesmo fazer tanta bagunça na vida das mulheres.
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Para os homens a resposta é simples: SIM. Eles fazem, sim, muita bagunça – as vezes de uma forma engraçadinha, mas muitas vezes de uma forma épica.
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Para as mulheres a resposta também é única, mas não tão simples: é só pensar em qual de nós nunca voltou, chorou, estourou o cartão de crédito, retornou e caiu, deprimiu e gargalhou, planejou, teorizou e desistiu, voltou atrás, terminou, recaiu, calou e gritou?
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Qual de nós nunca se expôs e retirou, ousou e amarelou, correu e morreu na praia, se achou a última e a primeira em questão de segundos? Qual mulher nunca teve ímpetos de ligar para "ele" do vestiário da boutique para perguntar se a blusinha branca ficaria melhor que a azul? Qual de nós não teve vontade de receber um elogio depois de cortar as pontinhas do cabelo e não se decepcionou por que "ele" não notou? Qual de nós não quis ser cortejada, desejada, amada, em plena segunda-feira quando você levanta da cama com cara de toalha amassada depois de ter devorado uma caixa de bombons no domingo? Quem, dentre todas as mulheres antenadas, mesmo abrindo a carteira, não esperou um retórico "deixe que eu pago" no restaurante? Qual de nós não sonhou em receber um presentinho básico num dia comum de trabalho? Ou ser surpreendida com uma palavra, uma flor, um solitariozinho de brilhantes...
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Por outro lado, a grande maioria está no mesmo barco da Tetê: sozinha no mercado. Mercado de trabalho, mercado de mãe, mercado de filha, mercado de ex, mercado de homem, mercado de supermercado, mercado de reconhecimento, mercado de descanso, mercado de um final de semana tranqüilo entre o shopping e o cinema – enquanto as outras áreas ou não se resolvem ou dão um descanso.
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E é bom, sim, exigir e tentar. Ter ousadia de heroína. Ter fôlego de consumidora. Ter conceitos rigorosos de seleção. Ter coragem de lutar e de se arrepender. Ter pique de gritar como líder de torcida se as coisas não estão nada bem. Ter força de olhar para trás e reconhecer que participou de uma batalha defendendo o lado errado, por pura preguiça de pensar. Ou por ter se deixado envolver pelos sentimentos infantis. Por ter lutado pelo docinho estragado, mas com tanta, tanta fome e ânsia de ser feliz, que parecia o doce mais doce do mundo.
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Por isso, dá para dizer tranquilamente que não parece que Tetê tem o sentimento de outras. Ela e as outras, acabam sendo uma só coisa: mulheres intensas, aprendendo a se livrar das amarras. Sem culpa e com tudo o que têm direito no quesito virar a mesa. Querendo passar por todas as historinhas românticas ou querendo justamente o contrário de todas elas, o importante mesmo é a parte do "se livrar das amarras". Ah! A parte do "sem culpa" também...
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O silêncio, o consentimento emocional unilateral e sem limites, o medo, a boa educação e outras cositas mais nos tornam politicamente corretas. De mulheres, passamos a ser seres humanos especiais (Algum homem já te chamou de especial? Tipo: não quero você mas você é linda por dentro, um ser humano muito especial... Já chamaram a Tetê assim). Quando a gente é mulher a gente aguenta tudo. Mas quando a gente é um ser humano especial e lindo por dentro, rola o perigo de um câncer. E o que é pior: novas rugas!!! Alguém merece???