terça-feira, janeiro 29, 2008

Estação Primeira. Quase última

Tetê é mangueirense desde que nasceu – Jamelão, Cartola, Dona Zica, é com ela mesma! Aos cinco anos, o avô resolveu ensina-la a empinar pipas no Aterro do Flamengo. E a primeira pipa de Tetê era a bandeira da Mangueira! Coisas de família...
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No ano em que o enredo era "Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia e a Mangueira têm", ela convenceu o cientista a desfilar na Mangueira!!! Ele relutou bastante e Tetê mal acreditava que ele havia cedido, até comprarem as fantasias. Aí sim, estava a garantia: fantasias compradas, lindas, perfeitas. O apê estava em reforma e eles estavam no Othon, em Copa.
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No tarde do grande dia ela levou horas na maquiagem enquanto ele via televisão. Quando ela estava quase pronta, ele resolveu dar uma volta na praia, fechou a porta e disse que voltava logo. Ela sentiu um pequeno arrepio, mas achou que era a emoção pela escola.
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Ele começou a demorar. E demorar. E demorar. E demorar. Estava demorando demaaaaaais e naquela época não havia celular. Não tinha como localiza-lo de forma alguma. Ela começou a pensar que ele estava arrependido e que não apareceria para desfilar. Azar o dele! Tetê não perderia aquele desfile por nada e tomou a decisão de ir sozinha para a avenida, deixando um bilhetinho singelo para quando ele voltasse – que a encontrasse lá, se quisesse.
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Quando tentou abrir a porta do quarto viu que estava trancada por fora e ela não tinha a chave. Ligou para a portaria e ouviu o recepcionista gaguejando, dizendo que não podia fazer nada. Nervosa, pediu para falar com o gerente que gaguejava mais ainda. Ela explicou que o marido havia saído e, sem querer, a a deixou trancada no apartamento. E ela precisava urgentemente ir ao desfile. O gerente respondeu na lata:
- A senhora vai ter que ficar muito calma. Seu marido contou que a senhora está abaladíssima, sob forte medicação e sob ordens médicas para não sair de jeito nenhum. Inclusive contou que a senhora inventaria essa história de ir ao desfile, o que sabemos ser mentira. Aconselho que a senhora tome os remédios direitinho e tente dormir.
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Tetê entendeu. A única forma de faze-la desistir seria assim mesmo, à força. E como o cientista não sabia o que fazer, foi a única coisa que conseguiu pensar: tranca-la no quarto do hotel e dizer ao gerente que ela era louca. Só faltou dizer que era procurada pela polícia – o que, aliás, podia se tornar uma grande verdade se ela tivesse conseguido colocar as mãos nele naquela noite!!!
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Ele dormiu no apartamento ao lado e voltou no dia seguinte. Abriu a porta quietinho as 8 da manhã e encontrou Tetê fantasiada, maquiada, sentada na cama. Ela saiu pela porta aberta sem dizer nada e foi para a casa da prima, onde tirou a fantasia, colocou um biquíni e foi se esbaldar nos blocos de rua. Voltou no dia seguinte, às 8 da manhã.