quinta-feira, janeiro 31, 2008

Estação Primeira – Uma imagem vale mais que mil palavras


Tetê nunca esqueceu o ano em que ficou confinada num apartamento do Othon, fantasiada e pronta para o desfile da Escola. No ano seguinte, quando o cientista perguntou se ela gostaria de desfilar, ela disse que não!
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No entanto, a frustração não passava. O carnaval se aproximava e o pânico aumentava. Ela confidenciou ao cunhado – um louco de pedra – que não podia se conformar com o irmão dele, tão apagadinho nos carnavais da vida... e ele, odiando a atitude do irmão, resolveu ajudar Tetê a realizar o sonho de desfilar pela Mangueira.
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Marcaram um carnaval diferente: os três iriam para um hotel fazenda em Florianópolis. Ficariam, no entanto, longe da folia... mas ela e o cunhado tinham outros planos! No dia anterior ao desfile, ele recebeu uma ligação urgentíssima do filho que estava "no hospital".
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Tetê se ofereceu rapidamente para ir com o cunhado até o Rio! E eles foram, deixando o cientista repousando no hotel fazenda. Do Galeão direto para a escola, com as fantasias na mochila do cunhado... mas chegaram atrasados e foram obrigados a assistir o desfile e se morder de ódio. O dia amanhece e eles tem que pegar o vôo de volta a Floripa. E não dava tempo de passar em casa para tomar um banho. No banheiro do aeroporto tentaram tirar os vestígios da noite na folia, mas o último aviso de embarque fez os dois se desmantelarem mais ainda. No banheiro do avião, novas tentativas que só pioravam a situação pois purpurina quando gruda só muita água corrente pra sair.
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O cientista estaria esperando pelos dois no aeroporto (eles ligaram para tranqüiliza-lo e acabaram contando o horário do vôo, possivelmente um lapso da consciência pesada)... as purpurinas estavam grudadas... os dois estavam sem dormir e exaustos, imundos, suados. Pareciam tudo, menos duas pessoas que passaram a noite num hospital...
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E não houve jeito, não houve desculpa. Quando desembarcaram deram de cara com o cientista, e começaram a falar sem parar, num descompasso pior que bateria em fim de ensaio. O cientista, por sua vez, não sabia se brigava ou virava as costas deixando os dois loucos ali, purpurinados e arranhados. E para acabar com a cena ridícula, avisou:
- Tudo bem que o enredo da Mangueira foi "O reino das palavras". Mas é melhor vocês economizarem as palavras durante os próximos dias. Pelo menos até tirarem as purpurinas verdes e rosas.
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E os três seguiram sem palavras no táxi até o repousante hotel fazenda.