quinta-feira, dezembro 13, 2007

A Teoria do Caos e a pasta negra da Natan

Tetê estava no carro de uma amiga no maior papo. De repente passam por um prédio lindo, na frente do qual uma placa enorme indicava uma Fundação Fulano de Tal. Tetê ficou pasma!!! Fulano de tal? De onde vinha esse nome? Do mais recôndito de sua memória? Uma rápida rastreada e as sinapses chegaram...
---
Cinco anos atrás lendo a Folha de São Paulo, Tetê descobre que no dia seguinte, pela manhã, abriria um Congresso Internacional da Teoria do Caos e Geometria Fractal. Ora, ora, ora! Que interessante!!! Tinha que participar, obviamente.
---
Liga para o agente de viagens e recebe a triste notícia: nem pensar em passagens até amanhã de tarde. A não ser que ela quisesse ir de ônibus. Ai, o que Tetê não faria para estar na abertura do Congresso? Lógico que iria de ônibus, não podia ser tão mal, não é? O agente que conhecia Tetê de outros carnavais dá uma risadinha maliciosa e avisa que a passagem terrestre será entregue em uma hora... e que ela teria que embarcar às 24:03h. Horariozinho estranho, mas tudo bem. Chegaria ao amanhecer, iria para o hotel, um banho e zupt para o Congresso. Tudo bem.
---
Na rodoviária Tetê se apavora. Uma montanha de gente, com roupas esquisitas (ops, a palavra outra vez...) e malas esquisitas (ops, ops). Acha o "portão de embarque" e até se sente excitada por debutar em um ônibus leito. Olhando para baixo para não se sentir tão excitada com aquele exército de mochilas, sacolas, sacolinhas que passam por ela, de repente, pertinho de suas pernas, ela vê uma pasta preta masculina da Natan. Tetê não acredita naquilo e vai aos poucos levantando os olhos para ver quem poderia carregar aquele tesouro naquele lugar. Quer dizer, levanta os olhos um pouquinho, depois um pouquinho mais, um pouquinho mais, mas não chegava nunca ao final daquele paletó que carregava a pasta!
---
O homem era imenso!!! Tetê calculou, por baixo, uns 1,95 metros de homem. Dentro de um terno interessantíssimo, do qual saía um braço enorme que carregava a pasta preta da Natan. E pluft: aquele gigante embarca num ônibus que tinha uma placa de 24:00h, para São Paulo. Ela tinha perdido o gigante por 3 minutos!
---
Planejou que naquelas paradas que o agente disse que o ônibus faria, no meio da estrada, em uma lanchonete tradicional, ela desceria (contrariando os conselhos do agente de viagens) e acharia o dono daquela pasta. Lógico, a oportunidade estava ali. O ônibus pára, ela voa para fora e procura entre trocentos passageiros de trocentos ônibus. Nada da pasta nem do gigante. Volta para o ônibus dela decepcionada, mas tenta se conformar com a abertura do Congresso.
---
Chega em Sampa, vai até o Bourbon e um banhinho e uma roupinha depois, decola para o Congresso. Chegando lá ainda faz a ficha atrasada, paga a taxa e enquanto examina o programa... a pasta negra passando pelas pernas dela! Desta vez ela não olha aos pouquinhos, não. Joga a cabeça para os céus, pega no braço do gigante e pergunta se ele veio no ônibus das 24 horas, saindo de Curitiba. Ele estranha e (olhando para baixo...) responde que sim, como ela sabia?
---
Ela conta que amooou a pasta dele. Ele acha estranho e se apresenta. É físico e mora em Curitiba faz pouco tempo. Ai... ela confessa que entende pouquíssimo de física, mas gostaria muito de aprender. Passam 4 dias juntos no Congresso. Passam 4 meses juntos em Curitiba, na volta do Congresso. Falam de física de manhã, de tarde e de noite.
---
O problema é que durante esses 4 meses, ele nunca mais usou um bom terno. E a pasta negra sumiu do mapa. Tetê imagina se não era emprestada de algum amigo um pouquinho mais chique...
---
Tetê tentou ser magnânima! Ela jura que sim! Tentou passar pela falta da boa pasta Natan, do bom terno e de tudo o mais que imaginava bom. Tentou se concentrar na inteligência dele, no raciocínio lógico que tanto a agradava. Até que foram a uma churrascaria. E ao final, ele resolveu chamar o garçon e pedir palitos. E palitou os dentes.
---
Tetê esperou o espetáculo do palito acabar, olhou para ele e disse que estava tudo bem, mas estava tudo acabado. Ele insistiu em saber o motivo, mas insistiu tanto, que ela contou: eram os palitos de dente. Ele merecia a verdade, apesar de tudo.
---
Ele retrucou furioso, alegando que algo tão pequeno e insignificante como um simples palitar de dentes não podia ser motivo para o final de uma relação. Ele não podia se conformar com um motivo tão pequeno, ela estava inventando isso porque não queria contar o verdadeiro motivo da separação.
---
Aí Tetê foi tomada por aquele tipo de inteligência que se baseia em reunir rapidamente uma série de informações técnicas e condensa-las para que tomem apenas um rumo, numa só frase. E saiu com essa:
- Exatamente como na Teoria do Caos, onde o que vale é a dependência sensível de um sistema de suas condições iniciais. Lembra da frase "o bater das asas de uma borboleta em Nova Iorque pode causar um terremoto no Japão?" Pois o conceito é o mesmo. Você palitando os dentes agora pode me causar uma crise histérica amanhã.
---
Aí ele entendeu.
---
Ah, e só para constar: a tal Fundação Fulano de Tal que Tetê viu com a amiga, não é dele não. O nome é que era bem parecido...

Nenhum comentário: