sexta-feira, dezembro 07, 2007

O pedido de casamento

Depois da primeira experiência proporcionada pela agência, Tetê resolveu que só marcaria um novo encontro no próximo mês... precisava se recompor e se preparar para outros imprevistos quase matrimoniais que viessem a acontecer.
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Enquanto isso, lembrou de como o cientista a havia pedido em casamento. E mais uma vez se imaginou absolutamente incapaz de produzir sinapses! Como ela pode passar três anos com alguma coisa como o ser esquisito, depois de uma cena deslumbrante num aeroporto...
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Foi assim: ela ainda morava no Rio quando conheceu o cientista. Passaram dois meses juntos e ele precisou ir a New York, a trabalho. Passou 15 dias viajando e ligou para Tetê busca-lo no Galeão. Tetê chegou cedo no aeroporto e se certificou que o vôo estava no horário. Sentou o mais próximo que pode do portão de desembarque internacional e estava folheando uma revista, quando um casal de velhinhos chegou perto dela com ramalhete pequeno de lisianthus: rosa, branco e roxo. A velhinha perguntou se ela era a Tetê, e colocou as flores em seu colo. Sem entender o que estava se passando, tentou perguntar quem eram eles, mas eles já tinham se virado para ir embora. Em seguida, chegou uma menina de uns 7 anos, olhou pra ela, sorriu, e largou outro ramalhete igual no colo dela. Tetê começou a ficar assustada.
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Antes que pudesse pensar em fazer alguma coisa, uma fila de pessoas saiu daquele portão, e cada pessoa trazia um conjunto igual com 3 lisianthus, sorria pra ela e largava as flores no seu colo. Passaram-se alguns minutos neste ritual, Tetê absolutamente pasma e muda, as flores como que brotando do chão, do ar, das cadeiras a sua volta, e ela ali, querendo saber que tipo de sonho doido poderia estar vivendo. Muitas flores depois, a fila parou. Ninguém mais saía por aquela porta e Tetê estava com medo de se mexer. Ou era um sonho e ela poderia acordar, ou era um atentado terrorista e ela poderia explodir junto com as flores. Não dá para saber quantos minutos se passaram, mas de repente, daquele portão vazio em pleno Galeão, sai o cientista. Com muitos lisianthus na mão, num bouquê imenso. Chega perto dela – ou seja, do jardim no qual ela havia se transformado – e pergunta simplesmente:
- Gostou? Quer casar comigo?
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Mais tarde, em casa – e com todas as flores que Tetê fez questão de carregar – ele contou que estava no hotel em New York e viu isso na televisão. Gostou tanto que resolver fazer o mesmo, e quando o avião levantou vôo ele pediu permissão para falar com os passageiros no auto-falante e explicar seu plano. Todos, obviamente, concordaram em participar da loucura dele.
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Passado o carinho que a lembrança trouxe, Tetê se sentiu péssima! Ter passado os últimos tempos com o ser esquisito não era um desrespeito somente com ela mesma! Era como se ela estivesse jogando no lixo todas as situações maravilhosas proporcionadas pelos homens maravilhosos que ela teve na vida. E lixo, afinal, era o lugar do ser esquisito – e não dela, muito menos dos ex fantásticos que foram homens, que escovavam os dentes, que falavam, que liam, que escreviam, que tinham um pé na realidade e outro na masculinidade. O que o ser esquisito tinha de tudo isso? Nada, absolutamente nada. Com certeza, um lisianthus para o ser esquisito, era material erótico!

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