segunda-feira, dezembro 17, 2007

A bifurcação e o "ser esquisito fêmea" do Luis Antonio

Tetê marcou um almoço com um velho amigo, que não via desde o início do ano. Um homem clássico, sério, elegantérrimo. Com 27 anos de casado ainda era completamente apaixonado pela esposa e por um casal de filhos lindíssimos. Enfim, um homem estabilizado e feliz, generoso e um amigo daqueles que se pode contar até debaixo d'água. Foi buscá-lo no escritório e, sentadinha no hall do prédio, imaginou como ele estaria naquele dia: no mínimo, uma camisa Yves Saint Laurent com as mangas charmosamente dobradas e uma calça de microfibra. Ele sempre foi chiquérrimo com aquela barba bem cuidada e grisalha.
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O elevador se abre e no lugar do Luis Antonio sai um jovem de cabelos espalhados, uma camiseta justa e uma calça de brim preto transadíssima. Mas... que coisa, não era um rapazinho fashion... era o Luis Antonio!!! Até sem a barba!!!
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Tetê só se refez do susto no restaurante, quando ele contou que estava divorciado e curtindo a vida. Dava pra perceber! Na realidade, ele estava ótimo. Saudável, independente, feliz e bem humorado. Lógico que havia um abalo por causa do divórcio, mas o abalo maior tinha outro motivo.
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Ele conheceu uma advogada logo depois da separação e se encantou por ela. Tiveram um rápido caso, mas ela contou que tinha um namorado. Este foi o primeiro susto do Luis Antonio. Ele fora fiel durante 27 anos e não entendia esse mundo novo de festas e momentos.
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Romântico incurável e ainda acostumado a uma só mulher, abriu seu coração para a advogada no primeiro café da manhã (que levou para ela na cama). Disse que tinha uma excelente situação financeira e que poderia sustentá-la. Que adorava dormir abraçado e que levaria o café da manhã na cama todos os dias. Que seu hobby preferido era dar presentes, de preferência, jóias. Que a primeira noite deles foi suficiente para ele se sentir perdidamente apaixonado. Que adorava usar palavras carinhosas. E que a primeira viagem deles seria para as ilhas gregas, mas que teriam um mês para dar umas esticadas por Paris, Genebra e onde mais ela quisesse.
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Luis Antonio conta, atordoado, que a única coisa que a advogada disse foi:
- Desculpe, eu não agüento isso.
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Consciencioso e crítico, ele não acha que exagerou. E também não acha que poderá ser um homem diferente da próxima vez, com a próxima mulher. Ele é o que é e não vai aceitar as novas normas do mercado. Mas está absolutamente apavorado com o que vem pela frente e com as frases que irá escutar daqui em diante, toda vez que ousar ser sincero.
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Tetê deixou Luis Antonio no meio da tarde, e se sentiu mais atordoada do que ele. Ela ainda lembra que o tipo de queixa dele, era o tipo de queixa dela e de todas as mulheres até bem pouco tempo atrás: o homem só quer usar por uma noite, pensa que somos um objeto de prazer, não liga se tem uma mulher fixa e sai com outra descaradamente, não pensa em relacionamentos sérios, não faz a mínima questão de ser gentil e nem se dá ao trabalho de mentir. O que vale é o sexo pelo sexo e o momento. A quantidade em detrimento da qualidade. O coração fechado para emoções e a sensualidade falando mais alto. Não ligar no dia seguinte... não dormir abraçadinho... não criar laços e não manter intimidade sob hipótese alguma.
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Afinal, em que ponto as posições se inverteram? Em que momento as mulheres incorporaram o masculino? Será que nós percebemos, pelo menos, que passamos por uma bifurcação escolhendo a direção que o mundo não esperava? Será que entendemos que os homens estão confusos? Ou melhor, que ainda existem homens que também deram de cara com uma bifurcação???

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