domingo, dezembro 23, 2007

A influência do feijão nas amizades femininas

Tetê ainda morava em Ipanema quando conheceu Carla. Loira, linda, com duas filhas pequenas loiras e lindas, recém-separada, Carla se mudou para o apartamento ao lado. Suas janelas eram coladas e elas também logo se tornaram inseparáveis, depois que o essencial se estabeleceu: as crianças deveriam chamar Tetê de "maninha" onde quer que estivessem, principalmente na praia...
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Carla estava traumatizada pela separação e não tinha intenção alguma de se envolver com alguém naquele momento, mas adorava festas e seguia Tetê pelo Baixo Leblon em noites memoráveis que quase sempre acabavam em mesas imensas e muito champagne na Pizzaria Guanabara.
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Carla odiava cozinha tanto quanto ela, mas como as crianças eram loucas por feijão, ela fazia um feijão divino, todos os dias. Tetê adorava e elas aprenderam a comer feijão gelado de madrugada, depois das festas. Ainda tinham forças para comer as feijoadas no Copa, aos sábados. Até que um dia resolveram ir a um desfile de lançamento de uma grife alternativa. Durante o coquetel, Tetê perdeu Carla de vista e voltou pra casa sozinha.
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No dia seguinte Tetê acorda com um barulho estranho. Algumas coisinhas caem insistentemente sobre ela, como uma chuva de pedrinhas. Depois de sentar na cama, percebe vários grãozinhos de feijão em torno dela, e mais alguns entrando pela janela aberta. Só podia ser a Carla! Ela vai até a janela e encontra a amiga assustadíssima e sussurrando para que ela "pelo amor de deus", tire um modelo de sua cama antes que as crianças acordem.
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Ainda sem entender nada e atordoada de sono, Tetê voa, abre a porta, entra no apartamento vizinho, esconde a amiga no banheiro e vai cumprir sua terrível missão... quando abre a porta do quarto de Carla, não acredita no que vê: um homem lindíssimo dorme feito um anjinho e ela reconhece como um dos modelos do desfile da noite anterior. Por isso Carla havia sumido!
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Acordar aquele homem foi hilário... Tetê se debruçou e cutucou umas dez vezes, até que ele abriu os olhos (azuuuuuuuis) e perguntou absolutamente confuso:
- Você não era loira até ontem de noite?
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Não adiantaria explicar. Carla estava em pânico presa no banheiro, as crianças prestes a acordar e Tetê sem café – sinônimo de nível de consciência zero – portanto, o jeito era tirar aquele monumento dali. E ele queria café... a reação mais natural então, foi convida-lo para um café no seu apartamento! Que durou exatos seis meses!
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Carla nunca não perdoou Tetê pela traição. Brigaram de verdade e ela rogou uma praga: Tetê nunca mais comeria feijão sem lembrar que havia traído uma grande amiga. Tetê nunca esqueceu Carla e os feijões e continuou jurando que não foi uma traição: ela só atendeu direitinho ao desesperado pedido de tirar o modelo de lá...
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No sábado passado Tetê estava no shopping e escutou uma frase antiga atrás dela:
- Vai uma feijô no Copa mais tarde?
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Era Carla! Em Curitiba! Coitada, inclusive, morando em Curitiba!
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Foram a uma feijô no Bourboun, mataram as saudades, contaram as novidades e juraram amizade eterna desde que, é lógico – e agora mais do que nunca –, as crianças que já eram mulheres feitas continuassem chamando Tetê de "maninha". E desde que, é lógico também, não freqüentassem mais desfiles de grifes alternativas.

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