terça-feira, maio 13, 2008

Dia difícil!

Uma foto do prédio da Rua Rainha Elizabeth em Ipanema... uma foto dela garotinha, um ano e meio, sentada numa enooorme cama de casal recheada por mais de 200 brinquedos diferentes, linda, linda, linda... um vaso cheinho de penas de pavão, canecas e canecas de café com leite, um cinzeiro lotado e um vídeo do Lenine cantando "Paciência" ininterruptamente na tela do computador. Essa é a mesa de trabalho da Tetê. Hoje. E somente hoje.

O que foi? Ela não sabe. Não exatamente. Talvez tenha sido a escova progressiva de sábado que demorou à beça, o celular que não pára, a próxima exposição atrasada, os contratos, as certidões, os prazos, a unha que quebrou, o salto da bota que caiu ali na esquina, o Beto que ficou com soluço a noite inteira, a missa de sétimo dia do dentista, o amigo em apuros, a amiga tendo bebê, alguma palavra torta recebida no meio da manhã, uma discussão insossa no meio da tarde, a impotência, o frio de Curitiba, a urgência no mundo dos negócios que ela não está a fim de alimentar (não hoje!), o trânsito infernal logo pela manhã, as flores de plástico do prédio vizinho que caem no terraço quando venta muito, o filme brasileiro dramático de ontem de madrugada, uma barra de chocolate amargo, o amargo de tudo. Não dá pra saber exatamente, mas Tetê foi tomada por um sentimento de exaustão absoluta, como se todos os botões estivessem dando pane ao mesmo tempo. Ela tentou ir ao shopping no almoço e não gostou de nada, nem na Victor Hugo. Precisou de um blaser e todos ficaram grandes. Procurou por uma luva de couro e só achou vermelha (ughhhh).

Tetê está fazendo um balanço de todos os apetrechos que estão em volta dela. Alguns são só fantasmas, outros são concretos. Mas parece mesmo que todos têm peso e massa – mesmo os distantes – e incomodam, e dão trabalho, e solicitam, e cobram. Se ela tivesse uma chave de fenda e pudesse começar a desparafusar engrenagens, se entregaria a tarefa com um impulso inabalável... mas as engrenagens, de uma forma ou de outra, estão aí para segurar alguma coisa e é arriscado por demais entrar em trabalho de desconstrução num dia como esse.

Ela não sabe de que forma pode apertar os parafusos no lugar de afrouxá-los... Se pelo menos pudesse se entregar a um Manhattan bem preparado... num deslumbrante restaurante em Nova York, ou mesmo em Lisboa... qualquer coisa, qualquer lugar onde aterrissassem aviões e tivesse táxi com aquecimento. Talvez uma neve do lado de fora, uma gostosa suíte de um enorme hotel, camareiras atenciosas e comidinha internacional... talvez uma passada numa joalheria diferente, uma pulseirinha Cartier beeeeeem básica... aquelas normais mesmo, com parafusinhos, igual a que ela perdeu na saída da Pizzaria Guanabara no Baixo Leblon, ao subir numa moto de madrugada... pelo menos, ao brincar com os parafusinhos da Cartier, ela não correria riscos de soltar o que é extremamente necessário. Ai, ai, ai. Viva os parafusos e apetrechos de Cartier e abaixo as engrenagens da Tetê. Rimou, né? E com segurança...

2 comentários:

Anônimo disse...

Hum hum hum... impressão minha ou você tá meio cansada? Cachorro novo e namorado inédito: tá tudo dando certo???
Beijos preocupados

Tetê disse...

Hum hum hum... quer dizer que ao invés de comprar pulseiras, anéis e colares de cristal Swarovski você está se dedicando a bolas de cristal Swarovski??? Premonição??? Inconsciente coletivo???
Ui.
Beijos cansados...