terça-feira, maio 20, 2008

Em caso de emergência...

Tetê chegou em casa animadíssima: comprou fraldas novas para o Beto e um baú de brinquedinhos diferentes que faziam fiu fiu, fom fom, tec tec, glup glup, nhec nhec, milhões de alternativas de diversão saudável, pois aquele ser canino está destruindo a casa inteira.

Beto Grude Gabbana cresce e se desenvolve a cada dia, mas aquela história de que é de uma raça calma, propícia para meditação com os monges do Tibet não cola mais. Ou o Beto é paraguaio ou o último monge do Tibet viu que ele tinha déficit de atenção e o jogou de paraquedas para um país tropical.

Ela estava começando a abrir os pacotes dos brinquedinhos quando o celular tocou:
- A senhora conhece o fulano?
- Sim, conheço.
- Ele sofreu um acidente grave e está aqui no hospital. Achamos seu telefone na agenda dele, na página de "Em caso de emergência favor avisar".

Tetê quase surtou. Primeiro por ser uma página virada, por fazer parte de um passado que ela (quase...) não lembrava mais. Segundo porque em casos de emergência ela é uma nulidade: simplesmente desmaia e pede champagne.

Sem tempo para pensar, pegou a bolsa e voou para o hospital. Ainda no elevador, viu que a bolsa se mexia um pouquinho: por engano ela pegou o Beto. Voltou, deixou o Beto e agora sim, pegou a bolsa. Tremendo feito doida na portaria do hospital, tenta falar com médicos, enfermeiras, atendentes, mas ninguém sabia informar onde ele estava. Ela explica que recebeu uma ligação, mostra o número no celular e garantem para ela que a ligação era de lá mesmo.

Nesse hora, ela já pensa no pior: ele inteiro detonado, enfaixado como uma múmia, à beira da morte. Morte??? E ela sem um pretinho básico de meia-estação??? Até poderia usar aquele Versace, mas ele era decotado demais, e essas ocasiões sempre pedem algo mais meigo. Ou mais trágico: véus, chapéus, luvas, um tubinho com barra de renda... bem, mas ela ainda não tinha localizado o paciente a beira da morte, e estava ficando cada vez mais nervosa. Como avisar a família? Os amigos? A imprensa?

Médico vai, médico vem, atendente vai, atendente vem, milhões de enfermeiros e enfermeiras transitando com aqueles modelitos brancos cafonérrimos e ninguém dá uma informação. E ainda por cima, gente chegando, gente chorando, gente dando a luz, uma verdadeira torre de babel. Muito tempo depois, Tetê é encaminhada para um médico liiiindo, grisalho, atlético... vai até ele e com a maior cara de frágil explica que seu namorado – quer dizer, seu ex namorado – está no finalzinho da vida e ela foi chamada as pressas, mas não consegue localizá-lo. O médico liiindo diz que sabe onde ele está, pede que ela fique calma pois vai acompanhá-la até o namorado. Até o ex namorado, ela corrige! Mas agora, ao lado deste magnífico homem de branco, ela realmente está calminha, calminha!

Calminha até chegarem no quarto onde está aquele maldito ex... o louco tropeçou num livro e está com um esparadrapo na testa, sentado, lendo jornal, ao lado de um imenso arranjo de flores. E Tetê agarrada no braço daquele médico liiindo, nervosíssima, aos prantos e quebrando a cabeça para decidir a roupa de enterro do infeliz.

Médico liiindo ri, ex idiota ri. Médico liiindo diz:
- Ele achou que podia lhe fazer uma surpresa! Gostou?

Ainda pasma e enfurecida, Tetê respondeu sem um pingo da fragilidade demonstrada instantes atrás:
- Quem vai gostar mesmo é o senhor, que vai ter um montão de trabalho quando eu acabar de quebrar de verdade esse idiota.

Largou calmamente o braço do médico liiindo, virou as costas e voltou para as patas e lambidas do Beto Grude Gabbana, que estava acabando de destruir uma galinha de barro liiinda, obra de uma grande ceramista carioca que ela adorava. Pelo menos com a galinha a emergência foi real.

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